segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O que nasce partido jamais será inteiro

 
 Depois de algum tempo sem proferir nenhum palavrão, volto a destilar minhas opiniões. O momento não poderia ser mais oportuno, afinal, com as eleições, todo mundo dá sua opinião a respeito do processo de escolha de nossos governantes para os próximos anos. Infelizmente esse debate só vem à tona na sociedade brasileira na sua amplitude nessa época. Então, pra não deixar o bonde passar sem minha presença, faço aqui algumas considerações levantadas por mim em debates nas redes sociais.

   Depois de 10 anos marcando presença nas urnas, resolvi por uma escolha ideológica e de exercício democrático – por mais que não ache o Brasil democrático – não votar. Pra mim a obrigatoriedade do voto é uma das várias demonstrações de falta de democracia no Brasil. Ao invés de lutarem para convencer as pessoas a votarem, políticos de todos os partidos lutam para que votemos no menos pior, já que vamos ter que votar mesmo né!  Achar que cumprimos nosso papel como cidadão somente votando é como assinar um cheque em branco pra estelionatários. Cidadania não diz respeito à pretensa democracia brasileira, mas sim sobre a qualidade do ser humano e a consciência da nossa condição biossocial. Não peço a ninguém que pense e faça como eu. Vote, mas não se porte como mais um reaça de pijamas. Digo isso porque daqui alguns meses poucas pessoas vão lembrar de quem votaram nessas eleições, tirando a presidência e, essas mesmas pessoas serão as primeiras a repetir o discurso enfadonho de críticas aos políticos, a sociedade e ao povo. Eles vão dizer que o brasileiro é burro, que elegeu sei lá quem (ai ressaltasse as críticas) e vão dizer que não tem nada com o país, que a culpa e deles.

  Pra mim o voto obrigatório serve como instrumento de manipulação, forçando a população, já tão desamparada de oportunidades para construir conhecimento, a fazer uma escolha na ignorância. E não me limito apenas a quem não teve oportunidade de educação formal – o que seria em preconceito ignorante – mas me refiro também a muitos bem “educados” que se prestam a repercutir o jogo estúpido dos partidos, transformando a disputa em um mero jogo de personalidades. Voto em fulano por que não quero que beltrano ganhe. Não vote em ciclano porque ele tem tal amigo, vote em mim pra o outro não ganhar... É esse tipo de coisa que se houve no debate político partidário no Brasil, agora debater o país a sério ninguém quer. E os grandes projetos necessários para o desenvolvimento do povo deste país, onde ficam nesse debate? E você, caro leitor, conhece a fundo as propostas do seu candidato e que tipo de pensamento ideológico ele defende? Coerência não se justifica pela conveniência nem por subterfúgios de política partidária. Votar em quem está na frente ou em qualquer um por mero desafeto e jogar fora qualquer consciência política que ainda se têm em razão da arrogância de quem não teve a vontade prevalecida. Não passa de um voto inconsciente baseado nas falta de virtude nos seres humanos.

   A palavra "política" provém do vocábulo grego pólis, que eram as Cidades-estado da antiga Grécia, significando a reunião de pessoas que formam uma sociedade. Enfim, política é tudo aquilo que diz respeito coletividade, e exercício do poder... Então, é necessário saber diferenciar política partidária de política antes de afirmar que o desinteresse é alienante. Até dar bom dia pro motorista do ônibus é política, coisa que muita gente que se diz interessada pelo assunto não sabe fazer. O descrédito da política partidária no Brasil tem muito mais a ver com valores sociais do que com discernimento intelectual. Tem mais a ver com o que a política partidária defende do que com o ente político em cada um de nós.  No dia em que as pessoas enxergarem que votam em ideologias e grupos de interesses, e não em pessoas apenas, talvez possamos falar sobre a falta de interesse em debater o coletivo. O que nasce partido jamais será inteiro, e política diz respeito ao todo. Política partidária não pode ser encarada como torcida de time de futebol. Quero saber que hora vamos debater esse país a sério ao invés de defender pessoas que nem se sabe realmente quais são as propostas e qual ideal ou grupo de interesse defendem.


  Agora nos vemos, novamente, diante de um impasse. E na minha opinião não é entre Serra e Dilma, é entre ser ou não ser. Vamos continuar sendo omissos no nosso trato social, nas nossas relações e na nossa responsabilidade como cidadãos ou vamos, mais uma vez, passar essa responsabilidade pra quem assumir o poder. O fazer político que nos cabe, longe dessa coisa partida que só defende os interesses de pequenos grupos que lutam por migalhas do poder, passa pela nossa predisposição a SER HUMANO. O nosso ser político deve ser educado, participativo, deve cobrar, deve se manifestar fora das eleições deve buscar a solidariedade e todas as outras virtudes humanas.Vejo que nosso senso coletivo está prejudicado por um sistema maniqueísta e exclusor, mas acredito que esse sistema não prevalece sobre as vontades humanas, bastas querer e fazer sem esperar. Agora, vou ter que justificar ao Tribunal Eleitoral o porque de não ter votado. Vou lá pagar uma multa, pegar uma fila e perder mais algum tempo para que o estado saiba que tem o controle sobre mim. Liberdade, democracia... Alguém ai já se fez esse questionamento? És livre porque consomes? És livre porque votas? O Brasil é justo com essa conjuntura? Não sou um sujeito pessimista, nem por demais racional, mas algumas coisas devem ser ditas e, o que digo é que vivemos uma grande mentira.
 
Osíris Duarte - Jornalista