quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Ilusões do mundo “civilizado”: A mega sena em cena mega

Devo aqui fazer uma confissão: Sim, eu pensei, por um momento, em jogar na mega sena da virada. Assim como em outras ocasiões, o desejo material tomou conta de mim e, independente da quantia absurda a ser sorteada, tive o ímpeto de jogar assim como já tive com prêmios menores. Em 29 anos joguei apenas uma vez em loterias. Não ganhei. Mas não é o valor do prêmio atual, mas sim a possibilidade de ter recursos materiais para realizar os sonhos mais distantes no que tange a carne que me atraia. Mesmo com idéias altruístas de cunho reparador e pensando na partilha, não consegui amenizar o que penso e o que me impediu de jogar: O abismo ilusório da riqueza sem esforço e a falsa sensação de eqüidade social que esses prêmios promovem.

O sistema humano atual, com predomínio do capitalismo e individualismo, tem esses instrumentos sórdidos para a manutenção do status quo. Os quase 200 milhões de Reais em jogo na Mega Sena da virada são responsáveis por manter viva na mente do povo a ilusão de que nesse sistema todos tem a chance de ascender de classe, de ficar rico. Loterias acabam por se transformar em justificativas para as desigualdades econômicas e sociais, mexendo com os sonhos mais íntimos de tantos, que separam um pouco do seu suado dinheiro para ter a sensação de que há esperança fora do trabalho árduo e da perspectiva de mudança de conduta perante os bens materiais, consumo, coletividade e status social.

A grande mentira das loterias está explícita na forma como são divulgadas e vendidas. Eles dizem: “jogue, você também tem chances de ganhar”. E ai todo mundo joga esquecendo que quanto mais gente jogar menos chance VOCÊ tem de ganhar. O fato é que mesmo com a conjuntura atual do país, necessitado de formas de transferência de renda para amenizar as desigualdades econômicas e investimentos para melhorar a qualidade de vida do cidadão, ainda se fomenta nos corações das pessoas a chance de ascender de classe social, exercendo o poder do dinheiro sobre a vida, o mesmo poder que em muitos casos oprime esses mesmos espíritos ávidos pela chance de ser rico. Essa mania de sobrepujar o outro, deixando pra trás a pobreza e indo em direção a riqueza, em nada colabora para a construção da necessidade de dividir que temos hoje a meu ver. Ai, quem já é rico, se sente correto em não partilhar seus recursos com o próximo, levando uma vida de luxo e opulência, sem se preocupar com os milhões que passam fome e que não tem como suprir necessidades básicas. Acho muito injusto que haja a possibilidade de alguém ganhar sozinho essa bolada. Parece-me o reforço daquilo que muitos consideram um mal a nossa sociedade: a exacerbação da desigualdade social.

Criar a sensação de que existe eqüidade nesse sistema é uma forma de mantê-lo imperando nas nossas vidas, seja botando lenha nas paixões humanas, ou mesmo manipulando psicologicamente a compreensão e o discernimento das pessoas em relação às necessidades coletivas e responsabilidade cidadã. Acaba sendo uma grande contradição moral jogar na loteria, porque qual o brasileiro que nunca reclamou das desigualdades do país? Quem não se manifesta contrário as diferencias econômicas e sociais que fomentam a criminalidade, violência, corrupção e tantos outros problemas da nossa sociedade? Acho que somente aqueles que se beneficiam disso, não é? Só que quem joga na mega sena não é o rico explorador nem o político opressor. Quem joga é quem sofre, o povo, que sonha em um dia deixar de ser empregado e virar patrão, mesmo que seja como capataz do sistema.

A publicidade e a propaganda trabalham com o emocional das pessoas para angariar consumidores e clientes. Superestimando a materialidade, o acúmulo e o pensamento individualista, ela é responsável por grande parte do conteúdo de cunho manipulatório veiculado na imprensa e nos meios de comunicação. A mega sena funciona da mesma forma. Só que sem precisar de subterfúgios para enganar instantaneamente. Seu apelo é pela ganância, e em uma sociedade com moral ainda frágil e valores conflitantes, esse apelo tem sua força explícita nos quase 200 milhões de Reais oferecidos no prêmio.

Será que não há nada mais útil pra fazer com essa grana em beneficio da coletividade? É justo que com tantas mazelas no nosso país nós ainda almejamos ter mais e viver melhor que o próximo? Mesmo querendo realizar meus sonhos mais ambiciosos, mesmo pensando na partilha, não é justo reforçar tal pensamento egoísta e carregado de ganância. Eu fiquei com vergonha de mim, depois da ficha cair, por ter cedido a essa tentação. Acordei antes de me arrepender. Espero que assim como eu tive um momento de lucidez em meio as fantasias que em tantos se instalam com a possibilidade de ganhar a bolada, você, leitor, tenha. Torço para que esse prêmio tenha 200 ganhadores! Serão 200 milionários - melhor do que só mais um! Mas na verdade mesmo, torço para que não haja mais mega sena, quina, jogo do bicho, bingo, etc. Que não haja mais subterfúgios para manipulação do entendimento de liberdade e direito nas sociedades humanas. Que não haja mais um abismo social e que a sociedade de classes se dilua, transformando o dinheiro em apenas aquilo que ele é de verdade: um pedaço de papel colorido.

www.palavraodoosi.blogspot.com
Osíris Duarte 30/12/10

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O anti-social revolucionário

A expectativa que muitos criam em relação às correspondências de conduta, ou discurso, em relação aos paradigmas dos sistemas humanos de organização social vigentes, são meramente o reforço das mazelas causadas pelos mesmos ao convívio humano. Esperam que eu seja mais um boneco do sistema, até nas coisas que parecem mais leves, menos significativas. Isolar-se é impossível, mas o despertar da consciência da dicotomia humana pode significar a disponibilidade para viver e compreender a vida de maneira mais abrangente, sem necessidade de cumprir com as cartilhas de sistemas humanos falidos, auxiliando a construir novas formas de organização social, baseadas em valores imutáveis e mais evoluídos.

Constantemente somos cobrados pelo próximo a interagir de acordo com determinadas condutas. E essa cobrança se faz independente da consciência do cobrador em relação à individualidade do cobrado. Claro que tal consciência não representa um verdadeiro ato de esclarecimento, seguindo de respeito, em relação ao universo particular presente em cada um de nós. Certos ritos sociais e determinadas práxis da boa convivência são apenas reflexos viciosos da necessidade de domínio sobre o “outro” e alento em relação aos próprios medos e permissividade das responsabilidades humanas, projetadas ao próximo em tom de cobrança, corroborando assim com sua própria conduta e servindo de justificativa para a manutenção dela, mesmo sabendo no íntimo que ela é distorcida ou errada, e que a cobrança é uma mera projeção do íntimo de cada um.

Desde que parei de comer carne e decidi me excluir de determinados ritos da sociedade humana, me tornei um ser anti-social. Esses pontos são só alguns exemplos particulares. Na verdade deixei de ser “sociável” quando me enveredei pelo caminho da auto-descobrimento. Na procura de minha identidade essencial, da minha autenticidade, cada vez mais venho desconsiderando as obrigações sociais que fomentam relações egocêntricas, dominadoras e cheias de apego. Os rótulos não me aprazem mais, os preconceitos somente confundem meu entendimento do mundo, distorcendo meu julgamento e meu discernimento. E isso não pode ser considerada uma demonstração de frieza ou indiferença, não quando o foco é a evolução própria que, consequentemente, beneficia o coletivo e clareia a conduta sob a luz da compreensão.

Hoje é comum dissociar caráter de conduta. Pregasse a boa relação, valores elevados, justiça... Mas faz-se pouco para atingir tais metas. Nos discursos sempre estão presentes tais valores importantes: Amor, fraternidade, união, solidariedade... Mas muitas vezes essas palavras são somente palavras, nada mais. A participação em determinados ritos sociais somente reforça estereótipos burros, servindo para muitos como uma fuga da realidade a ser encarada e das verdades a serem vividas. Quando a boa educação serve para um propósito que não o amor ao próximo, ela é apenas um instrumento de dissimulação, que reforça a mentira dos rótulos que assumimos, disfarçando a conduta que realmente adotamos. Na política partidária esse exemplo é corriqueiro, não é?

Ter me excluído de rodas de cervejada semanal, de churrascadas regadas a gargalhadas em meio à comilança, não me afastou da noção real que deve estar presente na forma como nos relacionamos, pelo contrário. Viver com mais certeza das minhas buscas e daquilo que sou aproximou muitas pessoas de mim. Parece que a necessidade de se descobrir atrai quem sente dentro de si o mesmo anseio. E sem me afastar de ninguém me aproximei de todos, estabelecendo os consensos nas relações que vivo sem mentiras. Não deixei minhas amizades, mas deixei meus amigos sim. Deixei com que eles trilhassem seus caminhos, empreendendo a mesma busca que faço comigo, busca essa repleta de alegrias e conquistas, muito maiores do que as vitórias meramente materiais.

O afastamento de determinadas convenções sociais também me proporcionou a vivenciar as minhas próprias convenções. Assim me aprofundei ainda mais no que sou, dando chance para ver coisas que antes não podia ver, mesmo estando guardadas em mim. É assim que hoje caminho, no presente. A transitoriedade da vida, quando vivida, abre portas que antes nunca pareceram possíveis, ou que nunca passaram por nossas cabeças. Aí novas coisas, que antes eram desdenhadas ou não almejadas, passam a ter importância, tudo graças à impermanência da vida.

Mas apesar dessa condição instável – que demonstra a constante busca por equilíbrio da existência, fato que nos ensina o caminho do equilíbrio em si – viver nos reserva verdades essênciais absolutas, como, por exemplo, o fato de coexistirmos. A condição biossocial do homem é algo factual. A interdependência existencial das individualidades humanas está sempre presente na construção de rótulos e máscaras, mas eles só se constróem porque não possuímos, ainda, a firmeza em nossas reais identidades, nosso eu integral. Assim, para nos sentirmos parte da sociedade, assumimos os paradigmas pré-estabelecidos pelo sistema de organização humana, feito pelos próprios homens, que desconhecem a profundidade real que reside dentro deles mesmos. Antes de estabelecer paradigmas é necessário conhecer o terreno onde essas referências se apóiam. Em um mundo que se apresenta tão caótico, será mesmo que conhecemos a terra onde pisamos? Será mesmo que nos conhecemos? A pergunta filosófica fundamental não é só apenas um devaneio intelectual de boêmios na madrugada, é necessidade existencial.

Nossos valores incorruptíveis são inquestionáveis e independentes da vida dentro do sistema humano. A nossa dependência simbiótica do bioma terrestre, nossa necessidade de tolerância e paciência em relação às diferenças na busca pela paz, nossa necessidade de amor recíproco e de harmonia nas relações são coisas que todos nós, quando abdicamos por um momento do nosso ego inchado e da nossa cegueira arrogante, sabemos o quanto são verdadeiras e inquestionáveis. Portanto, se não nos falamos há muito tempo, se não apareci na festa, se faço questão de não falar sobre determinados pontos de vista, condutas ou temas, é porque me amo tanto quanto amo você. E não passarei por cima do teu livre-arbítrio, não vou tirar teu mérito em descobrir quem és realmente. Não hei de sugá-lo para justificar meus erros e não vou cobrá-lo por aquilo que devo esperar apenas de mim, assim como eu espero ser respeitado na particularidade do meu íntimo autoexistente, o eu e eu no balé da vida.

Artigo publicado neste Blog em 2009 e reeditado em 2010
Osíris Duarte – Jornalista

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Sobre flores, dilemas e disputas

Lá em casa as flores crescem na medida do amor no meu coração. E quando um dia triste, de chuva e céu cinza, cobre meu telhado, as flores ainda insistem em perfumar meu jardim. Porque procuro não me abalar mais pela efemeridade dos sentimentos que o cinza da chuva me trás, mas sim viver mais as cores e os perfumes das flores. Lá em casa elas florescem sem meu auxílio ou minha interferência. Lá em casa as flores são livres para adornar de beleza meu dia de jardinagem, minha metáfora cotidiana, minha estante de livros em desordem organizada, minha vida...

Já falei, aqui mesmo nesse blog, minha opinião a respeito de conflitos, disputa, revolta, intolerância e indignação. Essas situações, ou sentimentos, permeiam nossas vidas coletivas, fazem parte do cotidiano psicossocial e determinam posturas e escolhas. Conflito é algo que acompanha a história da humanidade. Foram através deles, os conflitos, independente do tema a gerar tensão, que avançamos em muitas questões de ordem material, política, afetiva e social. O palco de forças antagônicas, ou mesmo discordantes, gera o conflito e, com esse conflito, é produzida uma energia que impele a humanidade para os próximos passos. Na dinâmica de nossa existência considero que sempre avançamos, mesmo quando não parece e, sendo assim, o conflito como força motriz da evolução se mostra como instrumento importante na depuração de valores e na construção de novos paradigmas. Mas então qual é a crítica ao conflito?

A crítica em si não reside no conflito do tipo individual, pessoal, íntimo, que produz em nós mudanças e nos faz refletir a respeito da vida e do nosso papel no mundo, mas sim nos pontos de tensão que se estabelecem em decorrência dos conflitos pela incapacidade de alguns seres humanos em olhar o próximo sem intolerância. Resquícios da primitividade humana. Num mundo com tanta diversidade (que não vejo como acaso) o conflito é instrumento esperado, necessário até certo ponto. Mas hoje sinto cada vez mais forte a necessidade de conciliação, mais do que a necessidade de conflito. E nela, na conciliação, que percebo o próximo passo evolutivo em termos morais e sociais para a humanidade. Grande parte dos entraves, mesmo com o grau de evolução do intelecto humano, não se dão pela necessidade de tensões para produzir novos valores nas pessoas, mas pela dificuldade de dissolver tais tensões em benefício próprio e do coletivo. Os conflitos de ordem social se estabelecem na sua maioria por uma postura egocêntrica e individualista, que não tem distinção de camada social. Mas ai você me pergunta: Osíris, como conciliar com patrões capitalistas e políticos safados, que querem somente explorar e obter benefícios nas costas do povo, trabalhador, humano? Respondo com uma frase que ouvi muitas vezes da minha mãe quando um colega ia a algum lugar ou tinha algo que eu pedia: Mas fulano vai mãe! Eu dizia. E ela: E se ele pular de um penhasco você também vai? Justificar nossas ações com as dos outros não guarda mérito moral nenhum para mim. É necessário sim que vivenciamos nossos conflitos mais íntimos, mas desnecessário é culpar o mundo e o próximo por eles. Não pegarei em armas para lutar pela paz.

Já a disputa pode ou não ter sua origem nos conflitos, seja de ordem pessoal ou conjuntural (política, cultura, gênero, raça...). Mas a palavra em si e a intenção que ela carrega é que me arregalam os olhos e me faz desconfiar da argumentação para justificá-la. Tudo aquilo que se disputa não se divide. A disputa tem em si a predisposição de prevalência perante algo, o que em si já é exclusor. Por mais que nossa sociedade esteja cheia de gente que está voltada para o mal, com caráter duvidoso, ou por mais que as instituições públicas e privadas sejam falhas e opressoras, por maior que seja a má vontade ou desejo de vingança e exploração, como podemos nos considerar aptos e dignos de combater tais coisas nos portando da mesma forma, ou mesmo utilizando isso tudo como argumento para que a bola da vez seja você, não aquele que você considera a escória da sociedade? Como acreditar em alguém que se diz socialista, defensor dos fracos e oprimidos, quando esse mesmo sujeito disputa a posição de destaque, ou a possibilidade de benesses e status, do seu dito opressor? Não que não queira gente boa nos cargos públicos e na gestão social, mas dentro de um sistema de cartas marcadas, disputar tais posições somente nos levará a ocupar da mesma forma o cargo do predecessor mau caráter, cumprindo o papel que lhe cabe no sistema para assumir tal posição. O problema do sistema somos nós gente, não ele em si. Por que somos nós que damos credibilidade a ele, somos nós que galgamos posições dentro do mesmo, fomos nós, direta ou indiretamente, que o construímos, sem preocupação, muitas vezes, com o coletivo ou o próximo. O passo evolutivo de abolição de conflitos e disputas é o que, para mim, se avizinha na evolução do nosso ser humano terrestre. Isso ainda pode parecer uma utopia hoje, mas o que é nossa realidade se não uma utopia do passado.

Por causa dos conflitos e disputas, geramos em nós sentimentos como a revolta, indignação, medo, ansiedade e agressividade. E nada disso, por mais que em alguns casos vá gerar frutos positivos em quem sente, pode ser considerado uma forma evoluída de compreender e apreender com a vida. Não quero aqui desvalorizar a caminhada de cada um. Cada qual com o peso da sua necessidade de crescimento, pois o ônus e o bônus da vida cabem a cada um em conformidade com aquilo que se semeou. Também não quero que esse artigo pareça uma forma de justificar a inércia ou a alienação. Só acho que há outras formas de lutar pela evolução tirando o conflito e a disputa. Acredito que possamos evoluir se adotarmos uma postura amorosa perante a vida, fomentando o que há de melhor nas pessoas. Acho que ter postura política, opinião e atitude cidadã não significa que devemos medir forças com o próximo. Penso que ao invés de destruir os jardins durante a batalha, mesmo com o argumento de reconstruí-los melhores - ao gosto próprio! - é mais contraproducente do plantar mais flores. Devemos sim nos indignar e nos revoltar contra aquilo que atenta a evolução da humanidade, não apenas com o que conflita com nossas escolhas pessoais de cunho religioso, intelectual ou político. E que esses sentimentos sejam o reflexo da vontade de transformar para o bem nossa existência, não a tradução do que há de pior em nós. Essa coerência, que vale para capitalistas, socialistas, anarquistas, budistas, cristãos ou mulçumanos. Que vale para pretos, brancos, amarelos, vermelhos e azuis, fala muito mais alto as nossas necessidades evolutivas do que a revolução socialista ou o desenvolvimentismo estúpido capitalista. Como considerar a humanidade preparada para galgar caminhos de justiça e fraternidade, se nos apoiamos não no sentir, mas no prevalecer? Como construir algo que sirva a todos excluindo sempre alguém da construção do processo?

Lá em casa as flores crescem na medida do meu amor. E quando elas florescem e o odor delas me amolece, sinto que a beleza da flor, que cresce sem que percebamos, durante a noite de sono, está no processo livre de viver para colorir o mundo, perfumar a vida e renovar a esperança do Jardim do Édem, da humanidade florescida.

Osíris Duarte
Tem/PB 02358 JP

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Nos mil mudei...

O Palavrão, esse bloguezinho despretensioso que montei há mais ou menos um ano chegou aos 1000 acessos. Sei que em termos de internet isso não é nada! Também sei que não vou ficar famoso nem ganhar dinheiro com isso, mas pra não deixar passar tão batido e dar algum crédito pela minha perseverança em atualizá-lo periodicamente, mudei o layout e coloquei mais uns aplicativos. Quem gostou ótimo, quem não gostou fala ai porque? Abraços a quem interessar.

Osíris Duarte

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Nós e o senhor das moscas


Por Elaine Tavares  - jornalista

01.12.2010 - Dias desses vi na televisão um filme que já havia assistido nos anos 90 e quem naqueles dias, já me causara profunda tristeza. Chama-se “O senhor das moscas” e mostra um grupo de crianças perdidas numa ilha, depois da queda de um avião, fugindo da guerra. Na ilha, sozinhos, eles têm de se organizar e aí aparecem todos os estereótipos do humano. O ditador, o herói, os elementos da democracia, o misticismo fundamentalista, a ciência, os covardes, os perdidos, os fracos, o selvagem. A película é inspirada em um livro do mesmo nome escrito na década de 50 que, em tese, tenta mostrar o quanto o ser humano carrega dentro de si o germe da corrupção. E aí não se trata desta corrupção que vemos na TV quando um suborna o outro, mas a corrupção existencial, essa que torna um garoto normal e educado num ser sem qualquer sentimento ou moral: um selvagem, na acepção mais crua da palavra.
O senhor das moscas tenta mostrar que há algo de podre no humano que, cedo ou tarde se manifesta, como já havia ousado propor George Orwell, no Revolução dos Bichos. Mas, ao mesmo tempo também aponta a presença do humano justo, digno, bondoso e capaz de conviver com o diferente. Este, ao longo do filme, em que um deles vai assumindo o controle de todos os garotos pelo medo e pela força, vai ficando sozinho. Até ao ponto de ser caçado por todo o grupo, que comandado pelo chefe, se dispunha a eliminar o menino que ousava instituir uma vida de liberdade e respeito pelo outro, nas suas debilidades e belezas.
É uma experiência dolorosa que só acaba com o quê? Com achegada da força, vinda de fora. O exército libertador.
Por algum motivo esse filme me faz pensar no que acontece no Rio, hoje. Por viver tão longe, não me sinto muito capaz de fazer uma boa análise dos fatos. Há tantas variáveis a considerar. O tráfico, duro e cruel, a ganância imobiliária que quer as terras dos morros, a violência da polícia, a corrupção, a ausência completa do Estado nas áreas de favela, os barões da droga que estão no asfalto, enfim... tanta coisa, e outras mais fora do meu olfato. Mas, de alguma forma vejo cada um daqueles meninos do “senhor das moscas” se expressando no turbilhão de notícias e opiniões sobre as ocupações dos morros cariocas, dentro do grotesco “espetáculo” montado pelas emissoras de televisão.
A ascensão dos chefetes das drogas nas comunidades empobrecidas não é coisa que brota do nada. É fruto de toda a omissão do estado burguês diante das promessas que faz. Não há saúde, não há escola, não há lazer, não há vida. O capitalismo suga todas as forças dos trabalhadores e os joga uns contra outros. O povo se vira como pode, equilibrando-se na corda bamba entre a lei e o tráfico. E, aí, assomam todos os tipos de seres: os bem intencionados, os heróis, os selvagens, os fracos, os bondosos, os medrosos, etc... Mas, como bem analisa o professor Nildo Ouriques, o povo é sábio e só sobrevive porque sabe avaliar a correlação de forças do espaço onde vive. Ninguém quer viver sob o terror dos soldados do tráfico, mas tampouco quer a presença de uma polícia corrupta, racista e violenta. É um fogo cruzado que nunca pára.
Hoje a polícia ocupa o morro e a TV expõe as gentes a celebrar o fim de um tipo de opressão. Mas e amanhã, quando o tempo passar, e as câmeras se voltarem para outro tema? E se a polícia sair? E se o Estado não cumprir de novo com suas promessas? E se voltar o terror do tráfico? E se o Estado não agir no espaço dos chefes graúdos, os que vivem no asfalto? Há uma coisa que se chama sobrevivência. As pessoas querem seguir suas existências, de alguma forma, e de preferência bem. Como viveram até hoje, sem o Estado e sem a polícia? Porque são sábias e vergam tal qual o feixe, ao sabor do vento. Se não fosse assim não estariam vivas.
Mas, e amanhã, quando com as UPPs todos os morros estiverem livres da força do tráfico, se as empresas de turismo quiserem os terrenos onde vivem as gentes para ganhar dinheiro durante as festas das olimpíadas e da copa? Haveremos de ter a mídia aliada ao povo do morro? Haveremos de ver os comentaristas das redes nacionais defendendo as “pobres” famílias das favelas?  Não! Não veremos. Será uma outra batalha a ser travada tal qual a do personagem do filme do senhor das moscas. Uma solitária batalha contra o capital, e aí não haverá um exército libertador. Pelos menos não um de fora.
A história dos empobrecidos é uma recorrente história de perdas. Coisa poderosa demais. Os de baixo estão sendo sempre colocados diante de suas derrotas, em todas as grande batalhas que travam por vida digna e farta para todos. A força do poder solapa e arrasa, fazendo com que as pequenas vitórias se desfaçam nas brumas. Isso cria uma atmosfera de profunda impotência. E não deveria ser assim. Se o povo empobrecido decidisse tornar-se quem é, as coisas seriam diferentes. Mas, para isso haveria que se despertar a consciência de classe, sair da emergência, da difícil tarefa de manter-se com a cabeça para fora do lodo mortal da sobrevivência cotidiana no reino do capital. Tanto trabalho a ser feito, tanto suor, quase um trabalho de Hércules. 
O Rio de Janeiro é esse campo onde reina “o senhor das moscas”, uma espécie de pedaço do campo geral que é o mundo capitalista. No filme, é a cabeça de um porco que representa o mítico, o poder, a força, o símbolo de algo intangível, inalcançável, a coisa etérea que mantém todos os meninos  sob um domínio incapaz de se desfazer. Vejo esse símbolo, agora, na caveira do BOPE. Em volta dela arma-se toda essa “festa” de libertação do morro. Mas o que esperar de uma força que tem a caveira como símbolo? Já bem disse Muniz Sodré num recente artigo sobre os fatos. Esta não é uma luta dos bonzinhos contra os malvados. Há tantos lados e tantas variáveis nestas personagens.
O Brasil vive nestes dias uma espécie de euforia desenvolvimentista. Desde o segundo governo Lula as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) estão se espalhando por vários cantos do país, como um símbolo da melhora da vida. Mas, muitas destas obras são questionáveis, não representam soluções reais para os problemas. Alguns, elas até aprofundam. Ainda assim, incensa-se sem sendo crítico. Agora, com o pré-sal, mais uma onda de “melhoras” deve atingir o país. Dinheiro do petróleo vindo aos borbotões. Para quem? Até onde esta onda alcançará as gentes simples? Receberão migalhas ou participarão do banquete, como convidadas? Garantirão aos milhões de jovens deste país a possibilidade da vida digna? Ou terão eles que enfrentar o “senhor das moscas”, como sempre foi?
Não sei. Tudo está aberto. Os meninos armados que hoje servem ao tráfico – urdido muito além dos morros empobrecidos – precisam de muito mais do que promessas. Precisam ver as coisas boas acontecendo com eles todos os dias, precisam se saber parte de uma sociedade justa e livre, na qual terão a chance de construir em pé de igualdade. Há uma cena no filme “o senhor das moscas” que me parece bem paradigmática das coisas que vivemos como seres humanos. O garoto “rebelde” está sendo caçado pelo grupo, o chefete quer a sua morte. Ele corre pela selva e se depara com um incêndio. Está acuado, sem saída. Então, dois dos garotos, que foram cooptados pelo líder ditador, o vêem sob uma árvore, quase sendo tocado pelo fogo. Eles estacam, atônitos. O chefe grita: “estão vendo algo?” E eles, olhando fixo nos olhos do menino, respondem, depois de um longo silêncio: “não”. É quando o garoto consegue fugir em direção à praia. Por um minuto, o sentimento de solidariedade e o desejo da liberdade se fazem parceiros. É a otimista mensagem do autor que, apesar de destacar o tempo todo a vileza e a capacidade de destruição que existe no humano, mostra que é possível, num átimo, tudo se transformar. E, claro, isso não se dá por magia, mas por uma profunda compreensão sobre o que, afinal, está em jogo.
No filme, os garotos entendem que algo está errado e procuram fazer algo para mudar. E nós, aqui, agora? Haveremos de continuar rendendo cultos ao senhor das moscas?

www.iela.ufsc.br

RIO: JORNAL VISAO DA FAVELA BRASIL

 Minha colega Marcela Cornelli me indicou a leitura. O Jornal Visão da Favela Brasil, produzido com a colaboração de membros de comunidades carentes do país, não é a Globo tá gente. Como manda o bom jornalismo, é necessário ouvir todos os lados, não apenas formar opinião com as "informações" da grande imprensa, que serve aos interesses políticos e economicos de determinados grupos da elite do poder, mas não necessariamente a população que mais necessita de informação com cunho educativo e sem vícios de cacuetes de marionetes da manutenção da concentração de poder no país. Segue abaixo a leitura. Minhas considerações guardo para o próximo texto de minha autoria, brevemente, aqui neste Blog  

JORNAL VISAO DA FAVELA BRASIL
A VERDADE CONTADA POR QUEM VIVE LÁ

A mais de uma semana, a grande mídia espetaculariza e incrimina os territórios pobres. A favela Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão, é a pauta da mídia. As mesma emissoras de Tvs estão tentando passar para o povo Brasileiro, que estamos vivendo uma guerra no Rio de Janeiro. Não podemos negar que alguém, ou grupo praticaram ato criminoso e violento, incendiando carros e ônibus na metrópole. Mais porque será? Quem foi? A mídia fala muito que a policia irá acabar com o trafico? Será? Quem bota essas armas pesadas nas favelas? Quem bota toneladas de drogas nas favelas? - será que é criminalizando as favela que a violência da cidade irá acabar? Ou por outros víeis da cidade que tem que ser fiscalizado e reprimido? Bom, sabemos que o trafico gera muito lucro, cerca de 4 trilhões de dólares por ano, o trafico gera. E quem fica com toda essa grana, que eu e nem você sonha em ter em mãos? Você sabia que os grandes bancos ITAU, BRADESCO e outros, é quem lava essa grana? NÃO! Gente você conhece algum traficante nascido nestas favelas da VILA CRUZEIRO OU COMPLEXO DO ALEMÃO, que estão passeando de helicóptero? Que tem uma mansão em Ipanema, barra da Tijuca? É, é muito dicifio de responder essa pergunta! Agora pergunto, quem conhece algum traficante que não tem casa própria? Que não tem dente? Que é viciado? Que estar na miséria? Essa pergunta já é mais fácio né?... Gente, o que vinhemos chamar a atenção é que, não temos que aceitar esse sensacionalismo que a GLOBO,RECORD e outras estão fazendo com aquelas favelas. Não estamos em guerra. NÃO TEM DIA D. Porque temos que aceitar dezenas de pessoas serem mortas e ainda aplaudimos como se fosse um jogo de videogame? Porque a policia pode matar Preto e Braco pobres, e isso é aceito com a maior naturalidade por parte da sociedade. Por que o Medico Dr: Roger Abdelmassih foi condenado a 278 anos de prisão, acusado de abusar sexualmente de dezenas de pacientes, e hoje estar em liberdade depois de 4 meses de cadeia? Nós moradores de favelas temos que sentir na pele, o que aqueles moradores estão passando.
“MUITA GENTE ESTÃO SENDO
EXECUTADOS E ISSO A MÍDIA NÃO MOSTRA”
Muitos policiais estão arrombando as casas dos trabalhadores e roubando seus pertences, e isso não se comenta. Será que isso acontece em um condomínio de luxo, quando algum mega traficante é preso? Não! Sabemos que essa preparação da cidade para a copa do mundo, será feita nem que tenha que morrer,
Dezenas, centenas e milhares e favelados. E daí que assimseja. A Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeirocidade tem que passar a sensação de segurança, caso contrario os turistas não vem. Gente a violência enriquece muita gente de alto escalão politico, e não fica nada nas favelas a não ser a repressão, o sangue derramado pelas vielas a criminalização do território e muita dor dos familíares que perdem seus filhos e parentes, envolvido no tráfico de drogas e muitos inocentes. Quem será melhor para dar as ordens na favela, trafico ou policia? Nem um devemos querer! Podemos viver em harmonia sem a presença das armas de ambas partes. Porque temos que viver na presença da armas? Nos condomínios os abastados não estão sendo vigiado pela policia, na portaria do prédio não estão revistando os moradores né verdade.
O Visão da Favela Brasil não é a favor de nenhum tipo de crime, seja ele trafico, mensalão, medico estrupador, politico corupito. E sim a favor da preservação da vida. Tem que prende-los não executa-los”.

- O Jornal Visão Da Favela Brasil, é um informativo gratuito de comunicação popular
Diagramação - Texto - Ilustração : Visão da Favelas Brasil. Fone: 021-8670-0327
Blog - www.visaodafavelabr.blogspot.com Email: informativosantamarta@gmail.com
“VOCÊ TABÉM É COMPLEXO DO ALEMÃO”