quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

A sinceridade mora no silêncio moral

  Certas coisas não devem ser ditas, faladas ou comentadas. Certas coisas apenas devem ser sentidas. É que a palavra quase sempre esta carregada daquilo que queremos ou daquilo que almejamos. Carregada das nossas interpretações. O problema é que nem sempre nossa régua serve para medir os outros, temos nossa própria medita.  
  Sinceridade não é falar tudo que se pensa, ao contrário do que muita gente acredita. Muitas pessoas justificam grosserias, falta de educação e autoritarismo com a tal sinceridade. Pra mim, ser sincero é uma questão íntima, de veracidade para comigo. As palavras guardam uma força que muitas vezes extrapola nossas intenções.
  Existe sempre uma forma de dizer tudo sem dizer. Se talvez nos déssemos conta do quanto nossos atos falam por si, não falaríamos tanto. Existem temas e fatos que, quando ditos na sua raiz soam como cobrança, como apego, egocentrismo. É mais fácil esperar que o outro, por causa da sua “sinceridade”, compreenda suas atitudes, do que nós mesmos prestarmos atenção naquilo que fazemos.  
  Muitas vezes a sinceridade é apenas um apelo carente de alguém que precisa ser compreendido. Mas, e a compreensão do outro, onde fica? Colocar nos ombros de outro alguém as nossas necessidades de auto-compreensão existencial é fuga, insegurança, medo e egoísmo. Reparar nas atitudes dos outros sem refletir a respeito da própria atitude é um grito do ego que muitas vezes não percebemos. 
  Então, ao invés de fingir ser sincero com os outros, talvez devêssemos ser sinceros de fato com nós mesmos, mas sem comprometer as relações com flechas de palavras atiradas no campo de batalha social. Antes de dizer algo ou questionar alguém, devemos fazer isso com nós mesmos. Antes de julgar as atitudes do outro, deveríamos analisar as nossas próprias atitudes, para não cometermos tantas injustiças. Tem gente que espera uma conduta do próximo sem se dar conta de que a sua própria conduta gera no outro aquilo que ela não quer sentir dentro de si. 
  Não é fácil tal proposição. Eu mesmo luto todos os dias contra meus preconceitos, minhas desconfianças, meus ciúmes e meu ego, tudo em busca de ser justo comigo, me livrando das cobranças e culpas impostas por esse mundo que vivemos. Mas o que me entristece é ver que grande parte das pessoas não se propõe a tal jornada íntima. Tomam atitudes sem perceber os sentimentos e situações que elas geram no outro e no todo, tudo sob a falsa ótica de ser livre e de fazer aquilo que lhe apraz. Liberdade sem consciência é um cavalo selvagem solto no pasto. Ele é livre, mas para onde vai ninguém sabe.
  Se realmente queremos construir boas coisas de forma harmônica é necessário que entendamos nosso papel no mundo e como nos colocamos dentro dos contextos que vivemos. O respeito não está em permitir tudo com uma “liberdade” que beira a indiferença. O respeito está em saber transitar por tantos caminhos, consciente das repercussões que nossas atitudes têm perante a vida comum. Com tal consciência não há mais cobrança, há sim a retidão de uma conduta solidária e fraterna, onde ninguém precisa dizer como temos que ser ou o que temos que fazer.    
  Então ser sincero é algo que vai além do que dizemos. Então respeito é algo que não se cobra, mas sim o fato gerado pelo viver em comum, cientes das próprias falhas e humildes na forma como nos portamos perante o outro. Pelo menos é assim que penso, agora. Não me diga o que pensas se o que tens em mente não vale ser dito. Não me diga o que pensas se isso envolve o seu eu a se resolver. Antes de bradar, mastigue bem, se não as migalhas vão se espalhar nos rostos dos que estão a sua volta e, talvez, nunca mais você possa limpá-las dos rostos sujos. Vamos tentar nos manter atentos, controlando nosso impulsos, tudo em busca de aprender a respeitar a si mesmo e ao próximo, sendo sinceros realmente perante a vida.

Osíris Duarte - jornalista
publicado originalmente em 2009

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Poeminhas: Atire a primeira pedra

As vezes falo o que não devo,
Escrevo o que descrevo,
Com essa cabeça em arritmia,
E esse coração esquizofrênico.

Mas é tudo um reflexo,
Sem nexo aparente,
De um homem calejado,
De sentimentos intermitentes.

Porque eu não calo,
Mas não falo perdido na corrente.
Meus rompantes de paixão,
Meus traços de ilusão,
São passos nunca em vão,
Na direção sã de ser gente,
Ser humano coerente
Que sente e não finge que não.

Não sei de onde veio a coragem,
De seguir meu coração.
Só seu que se isso for bobagem,
Então viver não valeria nenhum perdão.

E atire a primeira pedra,
Quem nunca se jogou.
E se jogue pedra abaixo,
Quem nunca se arriscou.

Porque o que faz de mim um homem,
Me define enfim além do gênero,
É a bravura de lutar pela ternura,
De batalhar pelo amor e confiar no sentimento.

Osíris Duarte

06.11.11

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Enquanto lá fora é bela a primavera, aqui suporta-se o inverno

 Ando meio assustado com os desdobramentos do movimento grevista de trabalhadores do Brasil nos últimos anos. E esse espanto não é com relação as lutas travadas por equidade social e por um universo de trabalho mais humano, porque por isso já se luta há muito tempo. Meu susto é com relação a forma como a sociedade vê, repercute e entende coisas como a greve, os sindicatos, militância e entidades civis. A legitimidade da organização civil, da liberdade de expressão e da responsabilidade cidadã de cobrar, fiscalizar e reivindicar o que nos é de direito, cada vez mais tem sido interpretada como atitudes de desordem, criminosas e individualistas, ou pelo menos alardeados como. O meu espanto ganhou mais corpo nesse momento da conjuntura internacional, no ano de 2011, onde na Grécia, em países da África, na Europa em geral e nos EUA, milhões de pessoas saíram as ruas protestando contra o mesmo destino a qual somos submetidos aqui pelo sistema de organização social largamente disseminado hoje. A diferença para mim está no grau de ilusão por trás do que se constrói como realidade.  Os aplausos pela iniciativa dos "gringos" ecoam na imprensa brasileira em um coro contraditório e hipócrita com relação a abordagem da mesma quanto a militância civil tupiniquim. E enquanto a primavera exala seus perfumes e cores lá fora, aqui trememos ao vento gélido de um inverno sem prazo.       

Dois pesos e duas medidas

  O que pode ser considerado abusivo? O que determina os limites do aceitável, do legítimo, do abuso e do exagero? E quando se trata de defesa dos direitos do trabalho, dos direitos humanos... Até onde vai o limite de conduta coerente com a causa? Qual é e de quem é a régua que determina o que é liberdade e como ela deve ser usada para ser considerada realmente como tal? Parece-me que o grau de "adestramento" possível de se ministrar a uma sociedade atinge seu auge quando ninguém mais se faz tais perguntas. O que determina uma diferenciação de interpretação, entendimento e tratamento não está vinculado com uma idéia maniqueísta, mas sim com o grau de discernimento sobre nossa vida comum e até que ponto não apoiamos nossas construções morais em valores que priorizam nossa condição fundamental de seres biossociais, de coletividade incondicional. Quando se trata de dividir o bolo, tudo mundo quer o melhor pedaço. A matemática básica da divisão está excluída da média do entendimento sobre sociedade no nosso país, a não ser quando se trata de separar e afastar a nós, humanidade. No lugar dela, da divisão, exacerbasse a subtração para amparar a multiplicação. Quanto a soma, ela se restringe ao acumulo promovido pela multiplicação, não pela capacidade e responsabilidade agregadora que ela tem. Aceitar passivamente que determinadas classes da elite social do país aumentem seus salários, seus lucros e, conseqüentemente, seu poder na sociedade, dada a conjuntura de interesses que se mistura com política partidária, marketing empresarial, estratégia de mercado e manutenção do abismo social para hierarquizar nossas relações como coletividade, conferindo, sem critérios justos, poder de alguns seres humanos sobre outros, demonstra a grau de apatia com relação ao papel que entendemos que devemos assumir perante nosso "EU" coletivo. Ascender de classe social passa a ser a meta, não a equidade social. Multiplicar para ascender, não dividir para equiparar, essa é a receita do bolo mais consumido na nossa realidade. O individualismo generalizado dos dias de hoje, por uma questão de sobrevivência da idéia, se disfarça de herói quando se trata de criticar desconstrutivamente qualquer iniciativa coletiva de cunho civil que vise a divisão para promover a soma. O argumento do prejuízo a população serve de blindagem para as manifestações de descontentamento pessoal ou de defesa de interesses que não contemplam as necessidades coletivas. Ai veste-se a máscara de solidariedade porque convém, não porque se entende que ferir qualquer pessoa é ferir nossa humanidade e que estender a mão não é bonitinho e politicamente correto, mas necessário.

Rótulos não são garantia de qualidade

  A palavra "política" provém do vocábulo grego pólis, que eram as Cidades-estado da antiga Grécia, significando a reunião de pessoas que formam uma sociedade. Enfim, política é tudo aquilo que diz respeito coletividade, e exercício do poder na sua concepção mais ampla, no sentido de o que podemos ou não podemos na coletividade. Então, é necessário saber diferenciar política partidária do termo política para poder formular uma opinião mais justa e menos ignorante sobre o assunto. Até dar bom dia para o motorista do ônibus é política, coisa que muita gente que se diz interessada pelo assunto não sabe fazer. O descrédito da política partidária no Brasil tem muito mais a ver com valores sociais do que com discernimento intelectual. Tem mais a ver com o que a política partidária defende do que com o ente político em cada um de nós.  Uma legenda de partido não vem com caráter embutido. Por mais que cada partido defenda no seu discurso uma gama de valores, servindo de critério para formular esse mesmo discurso, que distante da prática acaba servindo unicamente como instrumento de dissimulação, não significa nada além do discurso em si, meramente palavras... E a questão da crítica não reside em escolher para que "time" eu tremulo a bandeira, porque os elencos e a tática são as mesmas, independente da camisa, mas sim qual a bandeira que levanto e o que me levou a defende-la. O não lidar comum com transparência permite que sejamos usados como bucha de canhão numa guerra onde somos vítimas, pelo menos a grande maioria de nós.
 
  Essa visão estreita que temos sobre política contamina todos os meios de exercício e convívio coletivo, pois a política é produto dessa condição coletiva da nossa existência, bem como a comunicação. O vínculo partidário atribuído as entidades sindicais são uma herança da ascensão ao poder através do uso dessas instituições como trampolim para a vida pública. E, apesar de ser verdade que grande parte das entidades sindicais no país defendem posições político-partidárias, que não contemplam as necessidades da militância dos trabalhadores, na sua raiz elas não existem para isso e tal situação não é condição para a existência delas. Os partidos, atrás de formar seus "currais", assaltaram as entidades civis através do uso da paixão e esperança dos trabalhadores em construir um país mais justo e solidário. Não há diferença em partido político na minha avaliação. PT, PSDB, DEM e os demais partidos no país cumprem um papel idêntico na desmobilização do povo, fomento a apatia e exploração da massa em detrimento da manutenção do poder das elites. O conluio de políticos, empresários, magistrados e demais figuras influentes em termos de poder econômico e social representam essa face nefasta do poder que nos oprime, não são apenas alguns seguimentos da elite ou um ou outro sujeito pontual o responsável por tamanha inércia social no Brasil. Portanto, considerando essa visão, comete-se um  equívoco - que muitas vezes é proposital - no julgamento da crítica a situação (governo) como sendo uma posição de quem quer fazer oposição apenas, bem como o juízo sobre a crítica a oposição, como sendo defesa do governo tão somente. Todos são "farinha do mesmo saco" e a responsabilidade cidadã não deve passar por uma escolha  de posicionamento fundamentalista com relação a ideologia ou partido político, assim como se faz muitas vezes com futebol e religião.

O que é decente e o que é indecente. A inversão de valores em uma sociedade tacanha

   O conformismo é um dos sinais mais graves de um pensamento reacionário. Quando esse sentimento de derrota, de entrega, se instala e é percebido em uma sociedade, o fato se torna mais grave ainda. A partir do momento em que não consideramos aviltante, desrespeitoso e indecente a condição humana a qual o sistema nos submete, mas consideramos um abuso, um desrespeito, fazer greve ou lutar pelo que nos é direito, demonstra que há uma falta de solidariedade e de valores profícuos e do bem na nossa sociedade, ao contrário da ilusão que se vende mundo a fora sobre a "República das Bananas". Enquanto poucos desfrutam de uma vida na opulência e no luxo, vivendo em um padrão que no mínimo demonstra um desprezo e um cinismo tremendo para com a realidade de um país tão carente quanto o nosso, a grande maioria se contenta em ficar em baixo da mesa a esperar pelas migalhas do banquete dos ricos, "porque é e sempre foi assim", argumentam alguns covardes.  O fato é que essa característica servil acaba sendo um argumento para viver uma ilusão de segurança e, para aqueles que não querem assumir seu papel e sua responsabilidades como cidadãos, a desculpa perfeita para justificar um comportamento dócil, apequenado e covarde.  A conformidade guarda um grau imenso de preguiça e ignorância, deixando para os outros decidirem sobre nossas vidas para que depois possamos exercer nossa hipocrisia e criticar quem tomou ou teve delegado para si a iniciativa de decidir e construir os ditames da nossa vida comum. Uma posição confortável não é? Sem deveres nem obrigações. Somente discurso, ranço, retórica e inveja. São esses os valores fomentados nessa lógica individualista do sistema. As coisas só são injustas a partir do momento que prejudicam o indivíduo isoladamente, pois ai ele tomará para si as dores da iniqüidade da sociedade, e reivindicará para si o tratamento que considera certo, independente do que é feito ao outro. Desde que seu quinhão esteja garantido, não importa a sorte do próximo.

Sobre o meu umbigo

  Sou jornalista, assessor de imprensa de entidade sindical. Esclarecer isso é questão de responsabilidade para que meu discurso seja contextualizado dentro da minha realidade de trabalho. Isso não significa que defendo toda e qualquer posição de entidade sindicais somente por ser sindicato. Trabalhar no meio me proporciona vivenciar as contradições dos movimentos e identificar as falhas e equívocos. Mas além de poder ver os deslizes e contradições, vejo também as razões nobres e os valores bons que justificam a organização de pessoas independente de governos. Sei qual é o discurso que devo defender e para quem trabalho, e isso no jornalismo, é um luxo intelectual e moral. Grande parte dos meus colegas desconhecem completamente que interesses defendem realmente, a quem servem... Vivem na ilusão de achar que trabalham para a sociedade e que defendem valores comuns. Acham que constroem uma realidade melhor quando na verdade servem de instrumento de fomento a ignorância e a inércia social. O fato de ter clareza sobre quem eu defendo com meu trabalho e o discurso que reforço no exercício da minha profissão é uma questão ética fundamental para que me mantenha jornalista. Durante a greve dos bancários de Florianópolis este ano, Sindicato na qual trabalho, pude constatar, mais uma vez, como o lógica de trabalho nas redações fomenta a ignorância e a desinformação da população. Com o interferência da justiça no movimento grevista, uma novidade com relação aos últimos anos, o imprensa se serviu de pratadas nas distorções de interpretação de magistrados quanto a Lei de Greve e o direito constitucional de liberdade de expressão. No meio de um guerra desigual de informação, a imprensa sindical dos bancários buscou a todo o momento subsidiar a grande imprensa de massa com a possibilidade de exercer jornalismo realmente, apurando com cuidado em busca da verdade, e não alardeando o primeiro discurso que um editor armado de chicote lhe impõe. Mas não foi isso que ocorreu, mais uma vez. Tal domesticação do profissional de imprensa começa na universidade e é concluída no mercado. A censura prévia se encontra nas cabeças dos comunicadores, que limitam sua reflexões e leituras a formas da empresa onde trabalham, tanto para garantir lugar no mercado de trabalho, quando para bajular quem pode lhe permitir alguns minutos de fama esporádicos e algumas massagens no frágil ego.  

  O que me assusta nos dias de hoje vai além de tanta hipocrisia e ignorância. O que me assusta tem um caráter muito mais afetivo. Quanto mais vivencio a militância da sociedade civil, mas me sensibilizo com a falta de sensibilidade da coletividade. Me assusta ver que leva-se mais a sério futebol, religião diversão e fama do que justiça, solidariedade, fraternidade e amor. É contraditório sim e, essa contradição é que me dá calafrios. Ela evidencia uma realidade triste, que tende a solapar nossa esperança. E a luta que me proponho passa mais por saber resistir a esse apelo pela omissão do que por defender ideologias ou posições políticas. O susto não me acovarda, porque é nele que me descubro humano. E no meu nariz resiste o cheiro das flores da primavera que lá fora desponta, mesmo com a ponta gélida do frio do inverno daqui. Ainda ei de plantar essas flores por cá, semente por semente se assim for preciso. Dessa forma, quem sabe um dia, poderemos respirar o ar doce do perfume da primavera e nos deleitar com as cores que decoram essa estação.


Osíris Duarte - Jornalista
Mte / JP 02538 PB - SJSC
osi_duarte@hotmail.com
(48) 9922 0774 Florianópolis - SC
www.palavraodoosi.blogspot.com

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

No nosso compasso


Te passo ao compasso das coisas afim.
Assáz é a vida no porém?
Repasso o amor que pulsa em mim,
No espaço largo do braço amigo da vida sem fim.

Se já não basto não é por falta de abraço,
Nem por sentir demais.
É porque a vida, campo vasto,
Tem muito mais pasto do que pude dar.

Então guardo em mim a música,
Que toca no silêncio do meu peito,
Um compasso interno no éco perfeito,
De um ritmo afeito as batidas do meu coração.

Osíris Duarte 12.06.11

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Paródias de Cartier Bresson - por Osíris Duarte
























Na tentativa de parodiar fotos do francês Henri Cartier Bresson fiz esse ensaio, buscando não só reproduzir fotos dele (cena e modelos), como também busquei uma simulação do momento decisivo Bressoniano, já que todos os modelos são anônimos abordados nas ruas de Florianópolis-SC, e que todas as fotos foram feitas com menos de três cliques, buscando preservar ao máximo a leitura do novo spectator/spectrum (tio Barthes!) da foto na tentativa de criar um novo "isso foi" em cima do antigo. Tem um aspecto de metalinguagem já que os modelos reproduzem as cenas da forma como veem, preservando na nova imagem características das antigas de Bresson. Fica aqui meu agradecimento aos que se prestaram a ajudar na confecção do trabalho fotográfico. 


Osíris Duarte

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Entre o que imagina e a faxina

Arrumo a casa esta manhã.
Estava tudo fora do lugar.
Sonhos no cesto de roupas,
Medos nas estantes,
Segredos na sala de estar.

Lavei a louça e estendi a roupa,
Cuidei do gato e varri a tristeza.
Coloquei a vida para andar,
Busquei novamente a beleza...

Vi em mim um asco particular.
Um traço do mau que há em fim.
Aquilo que rasteja parco,
Fraco a me fraquejar.
Aquilo que não queria mais em mim.

Aí decidi ser desabrochar.
Um ser que a mim poderia orgulhar.
Crescer em meio ao estar,
Nas graças do amanhecer.

Hoje sou só perdão,
Daquilo, inclusive, que até então,
Fugia-me a compreensão maior.
E de cor eu recitei,
Um poema que não sei,
Que criei ao desprazer,
De ser quem eu já não sei mais.

Mas vivaz é a vontade de criar,
De imaginar o imponderável.
De amar o inexplicável,
Da luz afável do fato,
Além do meu desastrado
Acertado jeito de ser.

Osíris Duarte  24.06.11

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Meu olhar é tão meu quanto o seu


 O que determina o olhar de um fotógrafo? Muitos podem afirmar com tranqüilidade que as condicionantes de um olhar residem na constituição particular de um indivíduo, o que explica apenas em parte o questionamento. Considerar o universo que pressupõe um ser humano pode acabar por descambar em conjecturas que não explicam mesmo o que determinou um ângulo, uma composição ou uma razão para registro documental. Para um jornalista, o olhar deve transpor o que é determinado apenas pela visão particular, no sentido de corresponder ao exercício da profissão que guarda expectativas quanto ao fazer fotográfico. Mas, mesmo assim, o ser humano continua lá, o ser político, ideológico, afetivo, continua lá. E é por isso que não existe um olhar único quando se trata da fotografia, assim como não há compreensão única quando nos prestamos ao exercício da crítica.

Estive na África em fevereiro de 2011 para realizar uma cobertura jornalística do 11° Fórum Social Mundial, em Dakar, Capital do Senegal. Mas meus planos tinham também o trabalho fotográfico como objetivo. Sendo assim, segui viajem a procura de imagens do continente africano. Passei por mais dois países além do Senegal e registrei com minha Nikon D3000 o povo e o continente africano, pelo menos na parte por onde passei. A viajem gerou, além dos textos jornalísticos, um trabalho fotográfico intitulado: Nosso Eu Africano – Uma viajem particular pelo Senegal, Cabo Verde e Guiné-Bissau. As fotos coloridas, impressas em papel fosco e dispostas assimetricamente na moldura guardam mais que uma concepção estética do trabalho fotográfico. Elas retratam através de uma simbologia as experiências e impressões que trouxe do continente, contando uma história que ficaria pela metade se fosse apenas com palavras.

 O senso estético do africano está ligado diretamente às cores. A opção por fotos coloridas foi uma forma de retratar essa característica da cultura africana. Por todos os países que passei a noção de beleza convergia com a quantidade de cores presente nos adereços, roupas e construções. Além de retratar essa constatação que tive nas terras africanas, as cores ressaltam um olhar voltado para a beleza, não apenas para as mazelas do continente. A escolha do papel fosco para impressão também têm uma razão. Os países do norte da África têm um clima seco em sua maioria. A proximidade com o deserto do Saara e a localização geográfica determina esse clima na Guiné-Bissau e no Senegal. Em Cabo Verde, a falta de água no arquipélago determina a sequidão do solo. Por isso as fotos foscas. Uma alusão a secura do território.

Já a disposição assimétrica na moldura, um cartonado preto, faz menção ao contexto social, cultural e religioso da África, que não têm nada de simétrico e cartesiano. A pluralidade étnica, religiosa e social da África pode ser considerada, juntamente com o Brasil, uma das maiores do planeta. Retratar o continente de forma cartesiana, inclusive na apresentação das fotos, remeteria a uma idéia falsa da realidade da África, tão cheia de disparidades e contrastes.

 A aproximação fraterna com os africanos facilitou e proporcionou a oportunidade para fotografar. A limitação técnica do equipamento também acabou por se mostrar como oportunidade. Com apenas uma lente 18-55 mm, fotografar pessoas sempre me obrigava ao contato próximo, me forçando a estabelecer uma relação com o modelo. Isso proporcionou, além de algumas fotos espontâneas - dada a relação mais íntima que se estabelecia - um maior grau de informação sobre a realidade dos países em questão, bem como sobre os próprios modelos. Tirando os casos de fotos “roubadas” onde o modelo não sabia que estava sendo fotografado, a maioria das fotografias exigiu certo grau de disponibilidade de troca e construção de relação. Nos casos onde a foto foi feita sem consentimento do modelo a priori, se fazia necessário uma conversa em seguida ao momento do clique, para justificar a foto para o modelo. Tais situações, seja por intenção ou por limitação técnica, são fundamentais para o repórter fotográfico, já que não é apenas com uma imagem que se traduz um olhar. Mais do que fotografar é preciso saber o que e porque se fotografa. Minha experiência na África me trouxe mais do que 800 fotos boas e cerca de 1500 cliques. Trouxe-me a certeza de que a fotografia, assim como o jornalismo, é um meio capaz de traduzir mais do que quando nos restringimos à palavra apenas. Trouxe-me uma sensação de vida, de parte de algo, que me impeliu para o registro. E essa “força”, propulsora de criação, foi o que fez de mim, nos instantes que passei por lá, um fotógrafo.

Fiquei com a certeza de que o que determina o olhar como fotógrafo determina o ser humano em questão. Até mesmo as responsabilidades vindas das escolhas profissionais são conseqüência da carga de valores, defeitos, aptidões e sentimentos que cada um de nós tem. Nossas escolhas estão condicionadas a mais do que uma bagagem técnica e de instrumentalização. E mesmo com essa carga de subjetividade, não deixa de ser uma forma fiel e credível de interpretar o mundo, já que para se considerar um mundo completo é necessário considerar-se nele. As histórias devem ser interpretadas inserindo o narrador, não abstraindo sua existência e influência no rumo da história que se conta sob o argumento de imparcialidade, já que isso não é possível se consideramos nossa condição humana tão diversa nos aspectos que compõe nossa existência. 

Osíris Duarte - Jornalista e fotógrafo

Fatos e Fotos - A lua ... minha companheira no momento


                                                                   Finzinho do Eclipse

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Fatos e Fotos

                                  Exposição Nosso Eu Africano na Furb, Blumenau-SC.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Entrevista Sobre FSM e Exposição Nosso Eu Africano TV Furb

Jornalista abre exposição em Blumenau sobre a experiência no Fórum Social Mundial, na África



A comunidade do Vale do Itajaí terá a oportunidade de desmistificar a visão estereotipada
sobre a África e descobrir contrastes e encantos do continente. O jornalista Osíris Duarte abre dia
31 de maio, terça-feira, às 19h, no saguão do Bloco A da Furb a exposição Nosso Eu Africano –
uma viagem particular pela realidade da África. Ao todo, são 35 fotos que mostram a vivência do
jornalista durante os 22 dias em que percorreu os países Cabo Verde, Guiné Bissau e Senegal. Com
a meta inicial de realizar uma cobertura jornalística sobre o Fórum Social Mundial 2011 em Dakar,
capital do Senegal, ele vivenciou mais do que discussões políticas. A exposição é uma tentativa de
compartilhar a experiência obtida.
As fotos do jornalista descortinam uma África para além de desigualdades sociais e
miserabilidade. Apresentam um continente colorido e marcado pela pluralidade cultural. Depois de
seis dias em Dakar, Duarte conheceu o arquipélago de Cabo Verde e em seguida a República da
Guiné Bissau. Nos três países, com realidades e contextos sociopolíticos diferentes, pôde
experimentar um pouco da cultura dos povos africanos. “A África é um continente com uma das
maiores diversidades étnicas, culturais e religiosas do planeta.”
Durante o FSM, acompanhou a queda de Hosni Mubarak, no Egito, e a festa dos militantes
egípcios em Dakar. Viu a beleza das ilhas de Cabo Verde e o poder da influência da cultura e da
mídia brasileira naquele país. Na Guiné Bissau, viveu a realidade de um povo que se recupera de
anos de guerra civil e exploração internacional. Essas e outras tantas histórias, impressões e
constatações você também poderá verificar na exposição que ficará no Bloco A do Campus 1 da
FURB até o dia 11 de junho.

Sobre o fotógrafo: Osíris Duarte é jornalista profissional, Bacharel em Comunicação Social com
habilitação em jornalismo pela Universidade do Vale do Itajaí em 2005, pós-graduando em
fotografia também pela Univali, blogueiro e assessor de imprensa do Sindicato dos Bancários de
Florianópolis e Região.

Entidades que apóiam este evento: FURB - Sinsepes - Fetec/SC - SEEB Florianóplis e Região -
SEEB Blumenau - Sindprevs/SC - Sindes - Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina e Revista
Pobres & Nojentas.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Considerações

Se nos consideramos consciêntes daquilo que permeia nossas vidas, em aspectos amplos e particulares, somos responsáveis pelas escolhas que fizemos nos termos de atuação nessa existência. Se realmente somos atentos, não deixaríamos que aquilo que tange nossas relações com o mundo e o próximo passasse esquecido em meio as nossas particularidades egocêntricas, nem nossos desejos incompletos. Afirmo: Sou sim demasido inconsciênte para aquilo que ainda não serve a minha humanidade. Não quero me apegar as coisas que são desconhecidas da minha razão, pois se assim são é porque ainda tenho um caminho a trilhar. A vida, sem considerar aquilo que há de concreto na sua experiência, vive em uma fantasia, não em um sonho. Ainda em busca daquilo que possa ser chamado de substancial nessa existência, além do amor e da caridade.


Osíris Duarte

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Segunda edição do Seminário Nosso Eu Africano

Jornalista do SEEB fala de experiência no FSM realizado na África
 
 
 
 
 
 Osíris Duarte, jornalista, fotógrafo e assessor de imprensa do SEEB, durante 22 dias percorreu três países africanos com um objetivo claro: contar histórias. Apenas com uma câmera fotográfica e a meta inicial de realizar uma cobertura jornalística para Sindicatos Catarinenses do Fórum Social Mundial 2011 em Dakar - Capital do Senegal - teve a oportunidade de vivenciar mais do que as discussões sobre política, sociedade e cultura.

Depois de seis dias em Dakar, seguiu viagem em direção ao arquipélago de Cabo Verde e em seguida para a República da Guiné Bissau. Nesses três países, com realidades e contextos sociopolíticos diferentes, pôde experimentar um pouco da realidade dos africanos. “A África é um continente com uma das maiores diversidades étnicas, culturais e religiosas do planeta. Sendo assim, seria impossível não trazer na bagagem, além das fotos e suvenires, um monte de histórias curiosas, peculiares, interessantes e informativas”.

Osíris pode acompanhar, durante o FSM, a queda de Hosni Mubarak no Egito e a festa dos militantes egípcios em Dakar. Viu a beleza das ilhas de Cabo Verde e o poder da influência da cultura e da mídia brasileira naquele país. Na Guiné Bissau viveu a realidade de um povo que se recupera de anos de guerra civil e exploração internacional.

Essas e outras tantas histórias, impressões e constatações tu também podes ouvir durante o "Seminário Nosso eu Africano – Uma viagem particular pela realidade da África," quarta-feira, dia 18 de maio, às 18h30min, no auditório do SEEB Floripa. Lá, Osíris te espera esperando partilhar essas histórias de luta e beleza.

O que?

Seminário: Nosso eu Africano – Uma viagem particular pela realidade da África

Quando?

Quarta-feira, dia 18 de maio, às 18h30min

Onde?
 

Auditório do SEEB Florianópolis e Região. Rua Visconde de Ouro Preto, 308, Centro, Florianópolis

Quem?

Osíris Duarte é jornalista profissional, Bacharel em Comunicação Social com habilitação em jornalismo pela Universidade do Vale do Itajaí em 2005, fotógrafo, blogueiro e assessor de imprensa do Sindicato dos Bancários de Florianópolis e Região.

Entidades que apóiam este evento: Fetec/SC - SEEB Florianóplis e Região - SEEB Blumenau - Sindprevs/SC - Sindes - Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina e Revista Pobres & Nojentas.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Poemática

 Eu e Eu

Eu tenho em mim um alguém desconhecido que me demanda mais do que me é familiar. Eu tenho um eu selvagem que não consigo domesticar. Tenhos tantos eus incompletos que me completo na minha diversidade. Quem somos de verdade? Tantos eus no grande eu de ser humanidade...

Osíris Duarte

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Brasil está na retaguarda da América Latina


Movimentos Sociais se movem muito devagar
Por Elaine Tavares  - Jornalista
06.04.2011 - Alguma coisa mudou radicalmente no âmbito dos movimentos sociais, no  Brasil, a partir do ano de 2003. Aquele era o ano em que assumia o  governo uma figura muito esperada por parte da esquerda: Luis Inácio  Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores. Em todo o país, na quarta  tentativa de Lula para assumir a presidência, o lema era de que a  esperança havia, enfim, vencido o medo, e grande parte das gentes  esperava significativas mudanças na vida daqueles que durante  anos a fio haviam lutado para garantir um governo de esquerda no  Brasil. Essa esperança trazia no seu bojo o desejo de  transformações que dessem vazão a demanda popular construída  ao longo dos governos de Sarney, Collor, Itamar, e FHC. Mas, com poucos meses de governo, o presidente Luis Inácio deu início  a um processo de divisão e desagregação dos movimentos sociais que,  hoje, passados oito anos, se configura num quadro de completa  desmobilização, apatia e cooptação. Ao iniciar o terceiro mandato  petista, em 2011, o que se tem de movimento social combativo no Brasil  não passa de lutas pontuais, sem maiores articulações e quase sem  chance de vitória.
Tudo isso não aconteceu por acaso, foi  cirurgicamente constituído pelo governo hegemonizado pelo PT. Ou seja,  Luis Inácio, sendo da esquerda, conseguiu fazer o que ninguém antes  havia logrado: praticamente esfacelar o movimento popular.  Um dos primeiros atos do governo Lula foi a realização do que ficou conhecido como a “contra-reforma da Previdência”. Apesar de, durante o mandato de Fernando Henrique, o PT ter sido o partido mais importante na luta contra as medidas de mudança na Previdência, foi Lula quem conseguiu  colocar em prática quase  tudo o que as grandes corporações de previdência privada  desejavam há tempos. A proposta de reforma tinha no seu conteúdo o  aumento da idade para aposentadoria, o fim da aposentadoria por tempo  de serviço, o fim da aposentadoria integral e entrada da previdência  privada na vida dos brasileiros como única forma de garantir um  salário viável quando chegasse a hora de se aposentar. No geral, isso 
significava um duro golpe nos trabalhadores.
Foi aí que começou a divisão. Parte dos sindicatos e partidos de esquerda decidiu apoiar o governo as sua proposta de mudança na Previdência.  Alguns deles de boa fé, acreditando que seria impossível ao PT  apresentar qualquer proposta que viesse trazer prejuízo aos  trabalhadores. Outra parte já estava cooptada com cargos no governo,  servindo como espaço de abafamento das lutas. Apenas uma pequena parte  do mundo sindical decidiu se insurgir contra a medida. Foi, então,  deflagrada uma greve, que teve a participação da maioria dos trabalhadores do serviço  público, naquela contra-reforma os mais atingidos. Mas, mesmo dentro das  entidades dos trabalhadores do serviço público houve divisão, o que  acabou enfraquecendo o movimento. Tudo isso mostrou o quanto o movimento sindical estava fraco, despreparado, incapaz de dar respostas eficazes ao ataque governista.
A greve contra a reforma previdenciária durou três meses e terminou  com um saldo melancólico. O governo do PT, nascido das lutas sindicais  e populares, sabia muito bem como fazer para destruir a unidade dos  trabalhadores e decidiu oferecer ganhos salariais separadamente para  as categorias em luta. O resultado foi a completa desagregação. 
Algumas lideranças insistiam em defender a proposta governamental, acreditando que era o melhor para o Brasil, e  outras aproveitaram para garantir melhorias financeiras para suas  bases. Assim, ao final da luta, a reforma passou e algumas categorias  de trabalhadores conseguiram aumentos significativos. Durante esse  processo muitas lideranças sindicais não conseguiram informar com clareza que a reforma  proposta aniquilaria esses aumentos quando a aposentadoria chegasse. Todo esse despreparo juntou-se ao desinteresse da maioria dos trabalhadores para um tema que consideravam muito longínquo, como a aposentadoria. Boa parte deles preferiu render-se ao aceno de ganhos salariais e a greve que iniciara como uma luta contra a reforma acabou com a apresentação de tabelas de reajustes financeiros.
Não bastasse isso, a reforma garantiu a entrada definitiva dos fundos  de pensão, obrigando os trabalhadores que ganhavam mais de 2.300 reais  a optar por esta alternativa de risco. Sim, de risco, porque os fundos  de pensão recolhem dinheiro dos trabalhadores e jogam com ele na bolsa  de valores, o que significa que ao final de uma vida de trabalho a  pessoa pode tanto ter o seu dinheiro, como não ter. Esse risco nunca  foi bem trabalhado por parte das lideranças sindicais, um pouco pelo já citado despreparo, e outro pouco pela cooptação como se pode observar na declaração da diretora executiva da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Denise Motta, durante uma plenária de servidores federais em Brasília:  "Uma greve pela retirada da reforma tem poucas chances de ser vitoriosa".
 Mais tarde,  em 2005, toda essa operação de aprovação da reforma da Previdência estourou  como o escândalo do “mensalão”, no qual ficou comprovado  que o governo havia comprado o voto de boa parte dos parlamentares  para que fossem favoráveis à reforma. Também mais tarde foram os parceiros  político de Lula os que assumiram o comando das empresas de fundo de pensão, como denuncia o jornalista Ranier Bragon: “O DNA político dos 43 dirigentes dos grandes fundos de pensão estatais brasileiros mostra uma forte relação com partidos políticos, notadamente o PT, sendo que um dos elementos dessa ligação pode ser medido objetivamente: 56% desses diretores fizeram doações financeiras a candidatos nas últimas quatro eleições. O presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, foi o destinatário de quase um terço delas. Sete dos dez diretores dos maiores fundos são do PT” (http://www.conjur.com.br/2009-mar-08/pt-diretores-10-maiores-fundos-pensao-pais).
Logo, estava tudo muito claro. A batalha da Previdência  inaugurava um novo tempo no Brasil, no qual a esquerda haveria de se  ver bastante despreparada para agir. Em praticamente todos os sindicatos e movimentos populares a reforma  da Previdência cobrou seu preço. O Movimento dos Trabalhadores Sem  Terra, um dos mais importantes e fortes espaços de luta do país, não tomou partido, mantendo-se neutro nesse debate. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) preferiu apoiar o  governo, os trabalhadores das empresas privadas foram instados a  ficar contra os trabalhadores públicos, numa batalha intraclasse e a  pequena parcela da esquerda combativa que conduziu a greve de 2003 teve de conviver com as acusações de que estava fazendo o jogo da  direito, que lutava por privilégios, que estava tentando  desestabilizar o governo popular.
Ainda assim, as entidades que atuaram na greve contra a reforma da  Previdência entenderam que era preciso encontrar uma forma de  articulação nacional para dar vazão às lutas que se anunciavam. A CUT  estava cooptada e mais tarde, em 2007, isso se concretizou com a indicação do seu presidente, Luis Marinho, para assumir o Ministério do Trabalho e Emprego. Então começou um processo de  construção do que ficou conhecido como Coordenação Nacional de Lutas,  a CONLUTAS. Esta coordenação realizou encontros nacionais e apontou  novas estratégias para a defesa dos trabalhadores. Durante a greve,  tudo funcionou muito bem, mas, tão logo o movimento paredista acabou,  mesmo esta coordenação começou a dar sinais de esfacelamento, o que também denotou o despreparo teórico e político por parte das lideranças sindicais. A  direção, hegemonizada pelo Partido Socialista dos Trabalhadores do  Brasil (PSTU), encontrava franca oposição por parte de outras forças e  mesmo dentro deste incipiente espaço de luta criado com a greve, a  divisão igualmente se formou. O final do ano de 2003 foi profundamente  confuso para os trabalhadores e não havia sindicato ou movimento  combativo que não estivesse tremendamente cindido.
O governo atacou com mais um golpe certeiro a luta sindical. Criou,  ainda em 2003, o Fórum Nacional do Trabalho e Emprego, um espaço que se dispôs a  reunir trabalhadores, governo e patrões, no melhor estilo da  conciliação de classe. A idéia era discutir conjuntamente as  estratégias para uma convivência pacífica entre capital e trabalho,  forçando a criação de uma reforma sindical. Mais uma porta para a  cooptação, uma vez que os representantes dos trabalhadores foram  indicados pelo governo. Não bastasse isso, ainda havia as diárias e ajudas de custo, que tornavam o Fórum muito mais atrativo, fazendo com que os  membros representantes dos trabalhadores não abrissem mão da participação. Além disso, a proposta  de reforma que foi sendo gestada no FNTE acabou  atrelando fortemente o mundo sindical ao Estado, a ponto de as  Centrais Sindicais serem legalizadas, tendo de cumprir uma série de requisitos para garantir a representação dos trabalhadores.  Ou seja, o Estado e os patrões definiram juntos as regras para a  organização dos trabalhadores, coisa que em governos anteriores teria  posto o movimento sindical inteiro na rua. Mas, no governo Lula,  apenas algumas entidades ligadas a CONLUTAS bradaram contra isso.
A reforma sindical também provocou mudanças radicais na vida dos  trabalhadores. De repente, a luta sindical combativa, que era quase uma muralha homogênea articulada pela CUT, cindiu-se em várias centrais. Cada  partido decidiu criar a sua central e em poucos anos o Partido dos  Trabalhadores hegemonizava a CUT, o Partido Comunista do Brasil, a  CTB, o Partido Socialista dos Trabalhadores Brasileiros, a Conlutas  e  o Partido do Socialismo e da Liberdade, junto com algumas tendências  do PT atuava na Intersindical, isso sem contar as centrais atreladas a partidos de direita, que, nesta conjuntura atuaram também apoiando o governo de Luis Inácio. Em 2010, Conlutas e Intersindical  ainda tentaram um congresso que unificasse as forças mais à esquerda, mas tudo acabou em nada, com mais uma tremenda divisão num congresso 
melancólico.
Ainda no bojo das reformas, ou contra-reformas, o governo decidiu  atacar a universidade e, com isso, acertar de morte um dos movimentos  mais fortes no país: o dos docentes e dos técnico-administrativos,  todos trabalhadores das universidades. A proposta de reforma era o  desmonte da educação superior pública, com a privatização avançando  pela beiradas. Criou também o Programa Universidade para Todos (Prouni), uma proposta que garantia renúncia fiscal para as universidades privadas, caso elas oferecessem bolsas de estudo a jovens oriundos do ensino público. Essa política serviu como uma grande alavanca de propaganda do governo que ganhou a mente das famílias empobrecidas que agora poderiam ter um filho na faculdade. Mas, para se ter uma idéia, só no ano de 2010, segundo o Ministério da Educação, o Prouni  concedeu 241.273 bolsas de estudos para estudantes empobrecidos, e apenas metade delas foram integrais, o que significa que mais de 100 mil estudantes ainda tiveram que encontrar formas de viabilizar o pagamento das mensalidades. 
Com estas bolsas o governo deixou de arrecadar em impostos (renúncia fiscal das universidades privadas) apenas 105 milhões de reais, “um custo muito baixo”, segundo os administradores do programa. Por outro lado, com as verbas disponibilizadas para a iniciativa privada, as universidades públicas poderiam suprir uma demanda de mais de 400 mil vagas, todas públicas, verdadeiramente sem custos para os estudantes. Mas, essa reivindicação não conseguiu se concretizar. Assim, o governo enfraqueceu as  Instituições Federais de Ensino e salvou da ruína as universidades  privadas que estavam em grave crise. A proposta de garantir educação de  segunda classe para os pobres venceu, com a manutenção da lógica de desmonte nas universidades públicas. Coisa que pareceria impensável num  governo do PT.  A destruição que isso provocou no movimento dos  trabalhadores se refletiu no sindicato nacional dos professores, que acabou dividido  em duas instituições distintas, e o dos técnico-administrativos gravemente esfacelado no seu  interior, a ponto de entre os trabalhadores nascer a cisão entre os governistas  e os não-governistas. Um massacre na luta. As disputas internas paralisaram o movimento e muito pouco se conseguiu avançar no campo  geral das lutas.
No campo popular esta divisão também acabou se explicitando. O  Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, por exemplo, ficou no silêncio  por um longo tempo, em apoio ao governo Lula. Durante as primeiras  reformas, que arrasaram a vida sindical e a educação, não houve muito  apoio, a não ser de algumas lideranças isoladas. Só bem mais tarde, já  no segundo mandato petista que o MST começou a fazer críticas, até porque o  governo de Luis Inácio avançou muito pouco na questão da reforma  agrária. Em contrapartida, a ligação com o agronegócio se fez de forma  muito sólida e se consolidou na liberação dos transgênicos,  reivindicação antiga dos mega fazendeiros. Já no campo das  desapropriações de terra para os trabalhadores os números foram  bem menores do que os do governo de FHC. O governo diz em seus relatórios que aumentou em 120% as desapropriações de terra, mas, conforme estudo do geógrafo Ariovaldo Umbelino de Oliveira, professor da Universidade de São Paulo (http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/50480_INCRA+INFLA+NUMEROS+DE+REFORMA+AGRARIA ), desse total, 26,6% já estava nas mãos de famílias que produziam, só não tinham o título, 38,6% era de terrenos abandonados, ocupados por famílias. Assim, apenas um terço deste total seria de assentamentos novos. Ainda observando os números vê-se que seguiu de forma sistemática a violência no campo, outra grande demanda do movimento. Segundo a CPT, as tentativas de as¬sassinato passaram de 44, em 2008, para 62, em 2009; as ameaças de morte, de 90, foram para 143; o número de presos nos conflitos de terra aumentou de 168 para 204. O ano de 2008 registrou 9.077 famílias despejadas, subindo para 12.388 em 2009. Também aumentou o número de famílias ameaçadas por pistoleiros, de 6.963 para 9.031. Esses dados fizeram o MST começar a esboçar uma reação, mas nada muito contundente.
Assim, ao longo dos oito anos do governo Lula, conseguiu-se o que a  direita brasileira não lograra em décadas: dividir e enfraquecer a  luta popular. As demais batalhas que se viram no país, como a que  exigia a não transposição do Rio São Francisco, ou a construção da  Barragem de Belo Monte, foram e seguem sendo lutas quase isoladas,  muito pouco divulgadas e sem uma articulação nacional. Como as  centrais sindicais estão esfaceladas e, na maioria, atreladas ao  governo, não há um movimento que informe e organize a resistência em  todos os estados do país. As lutas acabam sendo pontuais e envolvendo  apenas as pessoas que circulam na região onde acontecem os fatos. Tudo  fica desagregado, logo, sem força.
No norte do país, o movimento indígena também tenta desesperadamente  avançar nas suas demandas, contra a usina de Belo Monte, pela demarcação de  terras, contra a invasão de terras já demarcadas, mas, igualmente,  acaba fazendo uma luta isolada, sem ressonância nas demais categorias.  As lutas populares acontecem premidas pela conjuntura e sem  encontrar uma articulação nacional que provoque a solidariedade de  classe.
Outras importantes lutas também aconteceram, com destaque nacional. Em  lugares como São Paulo o movimento de famílias sem-teto foi bastante  forte durante o governo de Lula, com muitas ações e grande  resistência. Também o movimento pelo transporte público mobilizou  grandes multidões em Florianópolis, Salvador e São Paulo. Mas, como  lutas conjunturais e isoladas, não conseguiram articulação necessária  para incendiar o país inteiro, ainda que o temas como transporte e moradia sejam muito sensíveis na população.
A Central de Movimentos Populares, que também teve importância capital  na articulação das lutas durante o governo de FHC, e que, junto com o  Jubileu Sul, organizou nacionalmente a luta contra a dívida externa,  arrefeceu, e tampouco conseguiu juntar os movimentos em lutas  nacionais durante o governo Lula. Hoje, o governo federal fala em fim da dívida externa e até chegou  a emprestar dinheiro para o FMI. Por outro lado, conforme relatório do Ministério da Fazenda (http://www.tesouro.fazenda.gov.br/hp/relatorios_divida_publica.asp), o país tem uma dívida  interna de um trilhão e 628 bilhões de reais  por conta de praticar as  mais altas taxas de juros do mundo. Poucas são as entidades que falam  sobre isso e propõem lutas contra essa sangria da economia nacional. Tampouco se consegue atingir a opinião pública com essas informações, que no geral só circulam em fóruns particularizados. Atualmente, no Brasil, dentro deste universo de dívida, os Bancos detêm 35,4%, num total de 536 bilhões, sendo os fundos de pensão os que vêm logo atrás com 31,3%.  Uma bola de neve que cresce dia-a-dia, sem que os movimentos consigam eficácia na denúncia dos malefícios que advém desta situação. 
Uma olhada no boletim da dívida produzido pela Auditoria Cidadã da Dívida deixa muito claro o que causa ao país esta política: do orçamento geral da União executado em 2009, num total de 1,068 trilhão de reais, 35,57% foram para pagamento de juros e amortização da dívida, logo dinheiro praticamente morto. Se considerarmos que outros 25,91% vão para a Previdência e 11,06% seguem para Estados e municípios, o que sobra é muito pouco para investimento real.
Agora, em 2011, a presidenta Dilma Roussef, também do PT, inicia seu  mandato com a reestruturação ortodoxa de todo o pessoal da área  econômica. As mesmas figuras que atuaram na política conservadora, as  mesmas propostas de juros altos e superávit a custa do sacrifício  popular. Não bastasse isso já anunciou para este ano um corte de 50  bilhões no orçamento do país e todos sabem onde isso vai bater: cortes  na saúde, na educação, na segurança, na política de moradia, na cultura, na ciência e tecnologia. Ou seja,  de novo, os mais pobres seguirão pagando a conta para que os mais  ricos sigam tendo lucros astronômicos. Projetos como o Bolsa Família,  que garante renda mínima (140 reais) a quase 12 milhões de famílias, são  importantes, mas não passam de paliativos. Não há, no governo petista,  qualquer proposta de emancipação real dos mais pobres. Ainda assim, no início deste ano, com tantas medidas de recessão,  ainda são poucos os movimentos de luta. Se algo se move no Brasil, são  pequenos e pontuais movimentos que ainda não conseguiram uma  articulação capaz de dar conta de uma luta unificada neste país  continente de mais de 8.511.965 km2 de comprimento.
Para alguns  analistas como o professor de Economia da UFSC, Nildo Ouriques, será preciso que a crise se instale com mais concretude para  que os movimentos sociais iniciem um processo unificado de luta efetiva nas ruas. Mas, mesmo que  isso aconteça, sem uma proposta nacional e revolucionária que  possa organizar essas lutas, as ações seguirão sendo pontuais e inócuas do ponto de vista da transformação. Por enquanto ainda não se vislumbra no horizonte a possibilidade de uma ação coordenada nacionalmente. Falta preparo aos dirigentes e falta um projeto unificador para que os trabalhadores do Brasil, os movimentos sociais e os sindicatos possam entrar finalmente no rol das grandes transformações que já se constroem em outros países da América Latina.

quarta-feira, 30 de março de 2011

O meu muito obrigado nunca será suficiente



Deixo aqui o meu muito obrigado a todos que prestigiaram o Seminário Nosso Eu Africano. Promovido pela Revista Pobres e Nojentas e com apoio de Sindicatos de SC, o seminário acabou sendo muito mais enriquecedor do que eu esperava. A presença dos colegas africanos da UFSC deu a profundidade e credibilidade para que o evento não fosse apenas a coleta de "louros" de um empreendimento , uma viajem egocêntrica, ou tão somente uma prestação de contas do apoio recebido. Meus agradecimentos a todos pela oportunidade que me deram de partilhar essa experiência, pois são essas oportunidades que enriquecem, não a notoriedade que se ganha quando realizamos algo. Um grande abraço aos meu amigos, irmãos de caminhada, que puderam estar lá! Um abraço também para aqueles não puderam ir. Haverá, se assim for a vontade do astral, outras oportunidades. Deixo aqui um agradecimento especial, cheio de saudade, aos meus amigos Suleimane Seide, da Guiné-Bissau, e Alioune Badara do Senegal, que foram os mais próximos a mim durante minha estada na África e que tocaram profundamente meu coração com sua força, alegria e retidão. Se existe mérito em contar histórias, esse mérito está no ressaltar das grandesa  - ou mediocridade - dos protagonistas, não na habilidade do narrador.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Seminário: Nosso eu Africano, terça, dia 29 em Florianópolis




   Seminário: Nosso eu Africano – Uma viajem particular pela realidade da África


  Olá. Meu nome é Osíris Duarte, sou jornalista e, durante 22 dias, percorri três países africanos com um objetivo claro: contar histórias. Apenas com uma câmera fotográfica e a meta inicial de realizar uma cobertura jornalística para Sindicatos Catarinenses do Fórum Social Mundial 2011 em Dakar - Capital do Senegal - tive a oportunidade de vivenciar mais do que as discussões sobre política, sociedade e cultura.

  Depois de seis dias em Dakar, segui minha viajem em direção ao arquipélago de Cabo Verde e em seguida para a República da Guiné Bissau. Nesses três países, com realidades e contextos sócio-políticos diferentes, pude experimentar um pouco da realidade dos africanos.

  A África é um continente com uma das maiores diversidades étnico, cultural e religioso do planeta. Sendo assim seria impossível não trazer na bagagem, além das fotos e suvenires, um monte de histórias curiosas, peculiares, interessantes e informativas.

  Pude acompanhar, durante o FSM, a queda de Hosni Mubarak no Egito e a festa dos militantes egípcios em Dakar. Vi a beleza das ilhas de Cabo Verde e o poder da influência da cultura e da mídia brasileira naquele país. Na Guiné Bissau vivi a realidade de um povo que se recupera de anos de guerra civil e exploração internacional.

  Essas e outras tantas histórias, impressões e constatações você pode ouvir durante o Seminário: Nosso eu Africano – Uma viajem particular pela realidade da África, terça-feira, dia 29 de março, no auditório do SINTUFSC. Te espero lá para que eu posso ter o privilégio de partilhar essas histórias com você.

O que?

Seminário: Nosso eu Africano – Uma viajem particular pela realidade da África

Quando?

Terça-feira, dia 29 de março

Onde?

Auditório do SINTUFSC, Rua R. João Pio Duarte da Silva, 241 - C.Postal 5130 - Córrego Grande - Florianópolis/SC - CEP 88040-970

Quem?

Osíris Duarte é jornalista profissional, Bacharel em Comunicação Social com habilitação em jornalismo pela Universidade do Vale do Itajaí em 2005,
fotógrafo, blogueiro e assessor de imprensa do Sindicato dos Bancários de Florianópolis e Região.

quarta-feira, 16 de março de 2011

3° Seminário de Imprensa Sindical

Gestão sindical e comunicação: uma questão de coerência


  A distorção que existe no meio sindical do papel do jornalista e das atribuições de sua função é algo que somente atrapalha a luta promovida pelas entidades de classe, demonstrando inabilidade e incoerência de dirigentes sindicais na busca por angariar apoio da respectiva base e da sociedade. O fazer político, galgado na disputa e na conformidade com o status quo do sistema, e que em grande parte reproduz o modelo usado na política partidária, põe o profissional de comunicação em uma posição delicada e desviada das suas reais atribuições, já que esse fazer político é colocado como premissa e não como conseqüência. As discrepâncias e incoerências presentes no meio sindical, percebidas através de práticas inadequadas ao atual momento da comunicação social no planeta, acabam por respingar no jornalista, que tem seu emprego e sua credibilidade colocados na berlinda quando os ânimos se acirram. 

  Entender o papel do assessor de imprensa e o que é jornalismo sindical é prerrogativa de um bom gestor de entidades de classe. Em um mundo onde a informação é consumida como água, onde levantes civis são planejados pelas redes sociais e onde a internet e a televisão recebem mais respeitabilidade e admiração do que professores, seria no mínimo irresponsabilidade virar as costas para a importância dos profissionais de imprensa e para os setores de comunicação em entidades de classe. Como setor estratégico de um Sindicato, a comunicação não pode ser comprometida com disputas internas de cunho político ou pessoal, nem pela falta de comprometimento para com os trabalhadores.  O único prejudicado, além do jornalista, é a categoria, que fica a mercê de marés de boa vontade e de consciência momentânea por parte de dirigentes sindicais. Ao mesmo tempo em que há uma ignorância de gestores de entidades de classe em relação as atribuições de um setor de comunicação em conformidade com as necessidades da militância dos trabalhadores, há também uma dose grande de contradição na forma como tal atividade é encarada pelos mesmos. O que mais se houve, dentre as tantas reclamações dentro de entidades sindicais nos dias de hoje, é a falta de comprometimento ideológico, entendimento político e militância das próprias categorias. Quando uma greve já não reúne mais o mesmo número de pessoas que reunia há dez ou vinte anos, argumentos generalistas apoiados nos “planos maquiavélicos bem urdidos do sistema” surgem como a desculpa para uma inércia administrativa e para um discurso desagregador, servindo assim de justificativa para a criação de um palco de disputa. Tal ambiente é conveniente e até mesmo necessário para a manutenção do poder nos Sindicatos. Essa manutenção de poder galgada em métodos pouco éticos, já que se fundamenta em um modelo de depreciação do trabalho e do caráter do opositor, seja pelo fato de ser filiado a uma diferente Central Sindical ou por ter uma relação declarada com determinado grupo político, com o tempo se consolida e, assim, se torna o paradigma moral da conduta de sindicalistas. Quem nunca ouviu a frase: mas em política é assim mesmo... Tal situação acaba por reforçar a divisão e desestruturação de uma pertença unidade entre trabalhadores, abrindo portas para a aceitação das influências dos veículos a serviço das elites dominantes e opressoras.

  O amadurecimento das formas consolidadas de visão da política, inclusive no que diz respeito a gestão de recursos e bens construídos com o dinheiro dos trabalhadores, não é apenas uma vontade desvirtuada de um ex-socialista aburguesado, mas sim uma responsabilidade que independe de orientação ideológica ou opção política. Se há a necessidade de profissionalizar o setor de comunicação nos Sindicatos, já que uma imprensa sindical séria e aparelhada se faz necessária para a disputa por hegemonia comunicacional e no auxílio de formação ideológica e política dos trabalhadores, por outro lado há uma necessidade ainda maior de mudança na forma como se gere as entidades, porque é ai que mora a depreciação do setor. Uma das conseqüências desse tipo de visão política de gestão e a forma como profissionais de comunicação são envolvidos no contexto de disputa política que permeia os sindicatos, ficando a mercê de interesses de grupos. Isso faz com que a idoneidade da produção no meio sindical fique comprometida, minando assim a credibilidade perante a sociedade e junto às respectivas bases. Além disso, a falta de investimentos no setor, seja em estrutura física, seja em profissionais qualificados, faz com que a distância entre a capacidade de influência dos veículos de comunicação da imprensa alternativa e sindical fique cada vez maior com relação aos grandes veículos de comunicação.

Por mais que atividades como a assessoria de imprensa – que é a principal atividade nos setores de comunicação sindical – tenha uma característica unilateral, ela não deve apenas servir como forma de pintar uma boa imagem de uma gestão. O papel crítico do assessor atua mais dentro da entidade do que fora, pautando as necessidades e as lutas dos trabalhadores, sob critérios coerentes com a luta sindical. A credibilidade que o profissional de comunicação terá perante um público está em parte vinculada a credibilidade conferida a ele pela entidade, empresa ou grupo que representa. Para que isso se torne realidade é preciso que haja uma maior participação dos profissionais de comunicação na construção de estratégias e na organização da entidade, mas para que isso acorra é necessário que se leve realmente a sério a capacidade estratégica e a instrumentalização técnica do profissional de comunicação.    

A clareza do papel do jornalista nos sindicatos se faz necessária para evitar que tal cargo sirva como benesse política de quem assume o poder, perpetuando assim um ciclo pouco produtivo para o movimento sindical. O profissional de comunicação deve servir a categoria acima de qualquer interesse político ou de grupo. Se um dirigente sindical não entende isso talvez suas pretensões dentro da entidade não sejam as mais afinadas com as necessidades dos trabalhadores.

Osíris Duarte – Jornalista
Tem/PB 02358 JP

quarta-feira, 2 de março de 2011

Na Guiné-Bissau descobri como é ser humano


Francamente não sei por onde começar. É que caminhar não só como jornalista, mas também como ser humano, nos reserva experiências que muitas vezes transcendem a palavra. Por isso meu ofício se torna escasso de recursos para descrever o desfecho da minha estada na África. Foi na Guiné-Bissau, depois de ter passado pelo Senegal e por Cabo Verde, que vivi a experiência mais africana dessa viagem. Foi lá que aprendi e reforcei valores que, em meio a um mundo tão conturbado como o nosso, se tornam cada vez mais carentes de afirmação para alimentar a esperança. Se existe uma palavra que descreva resumidamente minha estada em Bissau, essa palavra é coexistir.

Contextualizando a conjuntura e a história política do país

Antes de relatar minha estadia em Bissau, capital da Guiné-Bissau, e tecer considerações a respeito, é preciso falar um pouco sobre a história desse país. Depois de 37 anos da guerra civil, a Guiné-Bissau ainda se encontra em plena recuperação. Durante três séculos a região constituiu a colônia da Guiné Portuguesa. Em 1951, a Guiné-Bissau mudou de estatuto, tornando-se uma Província Ultramarina de Portugal. Já em 1956, o intelectual guineense Amílcar Cabral, que estava no exílio em Conacri, e mais cinco correligionários, fundaram o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). A partir daí, em 1963, face à intransigência de Portugal quanto à independência e com o apoio de outros países, o PAIGC iniciou a luta armada de guerrilha, visando pôr termo ao colonialismo português. A guerrilha do PAIGC consolidou o seu domínio do território em 1973, mas, no mesmo ano, Amílcar Cabral foi assassinado em Conacri, tendo sido substituído pelo irmão Luís de Almeida Cabral. A independência, declarada unilateralmente a 24 de setembro de 1973, chegou com a Revolução dos Cravos em Portugal (1974). A 10 de setembro de 1974, a Guiné-Bissau foi a primeira colônia portuguesa na África a ter reconhecida a sua independência, constituindo-se na República da Guiné-Bissau.

Almícar Cabral
Luís Cabral foi empossado como o primeiro presidente da República da Guiné-Bissau, instituindo-se um governo de partido único de orientação marxista controlado pelo PAIGC e favorável à fusão com a também ex-colônia de Cabo Verde. Luís Cabral foi deposto em 1980 por um golpe de estado militar conduzido por João Bernardo "Nino" Vieira, que assumiu a liderança do PAIGC, instituindo um regime autoritário. Com o golpe, a ala cabo-verdiana do PAIGC se separou da ala guineense do partido, o que fez malograr o projeto de fusão política entre Guiné-Bissau e Cabo Verde. Ambos os países romperam relações, que somente seriam reatadas em 1982. O país foi controlado por um conselho revolucionário até 1984, ano em que Guiné-Bissau ganhou sua atual Constituição. Nesse período, todas as alas de extrema-esquerda do PAIGC foram dissolvidas.A transição democrática iniciou-se em 1990. Em maio de 1991, o PAIGC deixou de ser o partido único com a adoção do pluripartidarismo. As primeiras eleições multipartidárias tiveram lugar em 1994. Na ocasião, o PAIGC obteve maioria na Assembléia Nacional Popular e João Bernardo Vieira foi eleito presidente da República.

Guerra civil e instabilidade política

Em junho de 1998, uma insurreição militar liderada pelo general Ansumane Mané conduziu à deposição do presidente Vieira e a uma sangrenta guerra civil. O conflito somente se encerrou em maio de 1999, quando Ansumane Mané entregou a presidência provisória do país ao líder do PAICG, Malam Bacai Sanhá, que convocou eleições gerais.

Antigo Palácio do Governo incendiado na guerra
Em 2000 realizaram-se as eleições e Kumba Yalá, do Partido da Renovação Social (PRS), foi eleito, derrotando Sanhá com 72% dos votos. Yalá formou um governo de coalizão entre o PRS e a Resistência da Guiné-Bissau/Movimento Bafatá. Em novembro de 2000 Ansumane Mané foi morto por tropas oficiais em uma fracassada tentativa de golpe.

Em setembro de 2003 teve lugar um novo golpe encabeçado pelo general Veríssimo Correia Seabra, durante o qual os militares prenderam Kumba Yalá por ser "incapaz de resolver os problemas" do país. Henrique Rosa foi colocado como presidente provisório até às novas eleições. Em março de 2004 o PAIGC venceu as eleições na Assembléia Nacional ficando com 45 das 100 cadeiras em disputa. O PRS, segundo mais votado, obteve 35 cadeiras. O líder do PAIGC, Carlos Gomes Júnior, foi indicado como primeiro-ministro.

Em outubro de 2005 João Bernardo Vieira foi reconduzido à presidência, mas não completou o seu mandato por ter sido assassinado no dia 2 de Março de 2009. Nas eleições presidenciais de 28 de junho de 2009, Malam Bacai Sanhá foi o vencedor com 63% dos votos.

Monumento de Pidjiguiti
No porto de Bissau, o Monumento de Pidjiguiti (foto) é uma homenagem aos cerca de 50 trabalhadores portuários que foram mortos pela polícia em 3 de Agosto de 1959, fato que constituiu um dos estopins para a luta armada pela libertação da Guiné-Bissau de Portugal.

Por toda a parte nas ruas de Bissau é possível ver fotos de Amílcar Cabral (foto), o revolucionário responsável pelo início do movimento de independência da Guiné-Bissau de Portugal. Adorado e reverenciado pelo povo, sua foto está em camisetas, quadros nas paredes de prédios públicos e nas casas dos guineenses. O valor da liberdade na Guiné-Bissau, porém, não se encontra nesse tipo de reverência, mas sim nos olhos sinceros e na conduta de um povo que até hoje se vê à mercê da ajuda internacional para recuperar o país. Essa “ajuda” constitui um capítulo à parte dessa história.

Caminhando pelas ruas de Bissau tive muitas vezes a impressão de que a guerra civil havia acabado um dia antes. Com construções em ruínas e com poucas estruturas básicas de atendimento a população, como abastecimento de água, energia e saneamento básico, Bissau é um contraste desolador quando temos como referencial o povo guineense. Parece que a falta de tudo e o clima de terra abandonada não se encaixam com a cultura, inteligência e bondade daquele povo.

Falando em povo de Bissau chegamos ao ponto onde me faltam palavras para descrever minhas experiências. Depois de uma chegada conturbada, com imigração, aeroporto e procura de um lugar pra passar alguns dias antes da chegada de um amigo guineense na cidade, que me receberia em sua casa, vivi intensamente a emoção de ser tratado com carinho e admiração. Apesar de haver muitos mulçumanos, há também muitos católicos e evangélicos em Bissau. O que acho relevante ressaltar é que a orientação religiosa, assim como a política e ideológica não determinam a conduta em termos de virtudes da humanidade. Existem mulçumanos e mulçumanos, assim como católicos e católicos, entende? Esse maniqueísmo na análise de culturas e religião é o responsável por fomentar a discórdia e o conflito e não retratar a realidade. Mesmo com hábitos diferentes e com uma realidade cultural em vários pontos opostas, não presenciei nenhum episódio de fanatismo religioso nem intransigência de comportamento perante as diferenças. Em Bissau todas as religiões convivem juntas, sem rusgas nem conflitos. E mesmo eu, um ocidental, fui tratado e acarinhado como um familiar que há muito não regressava para o lar.

Minha família Guineense
Fiquei hospedado durante cinco dias na casa de uma linda família guineense. Quem me levou até lá foi meu amigo, e agora irmão da Guiné-Bissau, Suleimane Saide. Com 28 anos, Sulei é um jovem daqueles de dar orgulho. O rapaz fala russo, francês, inglês, português, holandês e mais uns cinco dialetos africanos. Sem curso superior, Sulei trabalhou durante três anos em uma organização holandesa que construía escolas no interior do país e formava o corpo docente para atuação nessas áreas. Assim ele pode ajudar a irmã nos estudos de enfermagem, pois não existem universidades públicas no país.

Suleimane
Dono de uma cabeça privilegiada, Sulei sonha com os estudos todos os dias. Já conseguiu visto para estudar na Rússia, mas sem o dinheiro para ir e se manter fica inviável a empreitada. Ele foi o primeiro Africano que conheci, ainda em Dakar, durante o 11º Fórum Social Mundial. Lá ele me ajudou, dada a minha dificuldade com o francês e, lá mesmo, depois de comentar que iria para a Guiné-Bissau, fez o convite para que eu ficasse em sua casa. Sulei tem uma filha de quatro anos chamada Seide. Sua esposa mora no interior. Ele retornou para Bissau atrás de oportunidades e de meios para ajudar a família. Mas a vontade que esse homem demonstra em relação aos estudos me fez por diversas vezes sentir vergonha do pouco valor que alguns jovens brasileiros dão para a educação.

Mais do que se formar como uma peça do mercado de trabalho, Sulei quer estudar para se tornar um homem melhor e ajudar seu povo. Essa consciência me deixava atônito perante as dificuldades que eles enfrentam lá para conseguir uma melhor educação. Decidi que a partir daquele momento nunca mais iria reclamar da vida, pois, assim como muitos jovens do Brasil, - que têm oportunidades – só tenho motivos para agradecer.

Vida Guineense

Na casa feita de tijolos de barro batido e telhado de zinco, as paredes são brancas e o chão é bem limpo. A comida - arroz - é feita em um pequeno braseiro, com lenha. Na frente da casa existe um poço, assim como em quase todas as casas do Bairro Militar, em Bissau. A área foi dada pelo governo aos veteranos da guerra pela libertação da Guiné-Bissau de Portugal. Assim, como em quase toda a Bissau, o bairro não conta com serviços básicos de atendimento a população, como rede elétrica, saneamento básico, coleta de lixo e água encanada. Ainda assim, nas casas dos guineenses, reina uma limpeza e um zelo para com as coisas que destoa do que se vê nas ruas. A água dos poços só é consumida depois dos devidos cuidados de fervura e filtragem. No banheiro um buraco no chão com um encanamento leva os dejetos para fossas fora da casa, assim como é em muitas comunidades de interior no Brasil. O chão é de terra batida e o transporte feito em vans chamadas Tubas, que vão sempre lotadas em direção às várias zonas da cidade. 

Bairro Militar


O sol levanta lá pelas sete horas da manhã. A camada de poeira vermelha que se ergue do chão faz com que possamos olhar para o astro rei sem apertar os olhos. Ele se levanta em uma bola quase que tridimensional. Prestando atenção dava até para ver a curvatura da estrela. A despeito da destruição e da falta de serviços públicos, a vida da maioria dos guineenses é simples, bem regrada e ordeira. A imagem negativa que os veículos de imprensa internacionais passam da Guiné-Bissau e de outros países na África destoa da realidade que transparece do povo, pacífico e modesto. Talvez o ritmo da recuperação - mesmo depois de décadas de intervenção internacional sobre o argumento de ajuda humanitária - é que não corresponda às necessidades e ao mérito do povo guineense. Fui questionado por várias pessoas se estava gostando de Bissau. Minha resposta quase sempre tinha duas abordagens: adorei o povo, mas não podia dizer que gostava da situação de pobreza e de desprezo que encontrava naquele país em relação às necessidades da população.

Tubas
Enquanto coletava minhas impressões, na imprensa surgiu a notícia de que uma comissão do governo da Guiné-Bissau estava em comitiva na Europa e com encontro marcado na ONU para tentar impedir que a comunidade internacional impusesse mais uma sanção econômica contra o país. O argumento das Nações Unidas era com relação aos episódios de março de 2009 e abril de 2010, que incluem o assassinato do ex-presidente João Bernardo Vieira, e com relação ao tráfico de drogas no país. Para mim sempre ficava a estranheza dos argumentos para uma intervenção tão pouco produtiva e repressora da comunidade internacional. Via um país em ruínas, precisando de ajuda, e não entrava na minha cabeça que sanções econômicas resolveriam qualquer coisa. Se o tráfico de drogas e assassinato de políticos fossem argumentos para intervenções que ameaçam a autonomia e liberdade do país e de um povo, o Brasil devia estar na lista faz tempo, assim como quase todos os países do mundo.

Muito se vê da herança dos europeus, estadunidenses e orientais na vida dos africanos. Tanto nas roupas chinesas que imitam marcas ocidentais quanto na cultura afro-americana do hip hop e do reggae. A influência da cultura brasileira também é muito forte. Canais de televisão brasileira estão entre os de maior audiência no país, assim como em Cabo Verde. Mas essa expansão de produtos e ideologias capitalistas que, na visão de alguns, é o caminho do desenvolvimento, lá não me pareceu mais do que uma nova forma de exploração, já que o potencial de mercado não corresponde à necessidade humana. As necessidades criadas no imaginário da população não são correspondidas com o tipo de apoio dispensado ao país. Não consegui responder com argumentos dignos as perguntas sobre qual era o real papel das inúmeras ONGs estrangeiras, veículos das Nações Unidas e pretensos “investidores estrangeiros” que circulavam pelas ruas de Bissau com mapas detalhados do país nas mãos. Mesmo os africanos vêem de maneira cética ou desconfiada a presença de alguns organismos internacionais no país, não só na Guiné-Bissau, como também em outros países africanos.

Em uma rua com pouco mais de três metros quadrados de asfalto, buracos e lixo, passava por mim um jovem de óculos escuros dentro de um BMW modelo do ano. A aparência, principalmente para a classe mais rica em Bissau, é algo importante. Tanto que eles chegam ao ponto de circular com um carro caríssimo em meio a tanta pobreza. Fiquei com um sentimento de falta de respeito, um asco similar ao que sinto quando me encontro com pessoas arrogantes e egoístas. A construção de um país não pode se basear em aparências. Fui alertado inclusive, que se talvez eu tivesse entrado no país de terno e gravata seria tratado com muito mais respeito e presteza. Não que tenha sido tratado mal, mas talvez fosse ainda melhor se não andasse de calça jeans e camiseta.

A Guiné-Bissau é um país que em muito lembra nossa terrinha amada. Com grandes riquezas naturais, mais de 40 ilhas atlânticas, muitas delas inexploradas, o país conta com grandes áreas de mata nativa, cultura rica e diversificada, harmonia no convívio religioso e caminha com firmeza para o equilíbrio político. Em Bissau circulei por lugares que, se fossem aqui no Brasil, teria algum receio de circular. Todos lá me diziam que o país era seguro, e comprovei isso caminhando com minha câmera pelas ruas com toda a tranqüilidade. Embora eu fosse olhado por quase todos, percebia que ali eu era artigo diverso, diferente, e era mais que normal que me olhassem com curiosidade.

Na embaixada Brasileira com Ticiane e Seco
As palavras escritas aqui em profusão não dão conta de expressão os sentimentos por trás das considerações. Ainda as considero insuficientes. É que viajar sem fazer turismo, mas sim em busca de uma experiência humana, nos reserva o gosto doce de estar vivo e comungar com a humanidade terrestre. Se existe algo que se aproxime de um conceito de globalização, fora da imposição ideológica e do desfrute dos sentidos, é aquilo que se passa dentro de nós quando nos entregamos aos braços do povo, da irmandade terrestre e da vontade divina. Ainda precisaria de mais tempo para realmente falar com propriedade sobre a história, política e cultura desse país. Uma semana lá foi pouco. Mas o que posso afirmar, no sentido das impressões pessoais que construí, é que a Guiné-Bissau tem tudo para ser um grande país. Porque apesar de ter um território pequeno, tem um povo com o coração do tamanho do mundo. 

Osíris Duarte - Jornalista
mte/PB 02358 JP