sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Datas

Das tantas coisas pueris, que por um triz, ou mais, passam querendo nos atingir, nos mentir, nos omitir, resisto em mim, persisto enfim nas coisas de coração. E se datas servem pra marcar, lembrar e sorrir, guardo então o que sobra de mais caro e terno, o que sobra pro verão e para o inverno, sem me sentir com sobras. Lembro-me que deixar o que tenho de melhor fluir é questão de sobrevivência na vida, de não sentir perdida a esperança nas pessoas, no amor, nas coisas boas, que se planta e colhe, que voa, e deixa mole a dureza desses espíritos afins. Então, hoje, sem remorso, pensando que posso sempre, deixo quente os sentimentos, elevo bem os pensamentos e não me envergonho mais de ser humano, de ser ciclano ou fulano, de ser sensível e romântico, se preciso for, ser preciso é, nem sempre... Basta a fé família... Basta o pé na trilha e a certeza de que não há arrependimentos quando existe um alento nos olhos dos que gosto, na caridade dos que amam e na clareza que dá a liberdade do humano feliz, a vera, de fato. Por aqui, e onde alcançam meus pensamentos, amor é mato e assim será no que depender de mim.

Luz na paz de nós, hoje, amanhã e sempre.


Osíris Duarte

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Estrada




  Nas tênues curvas, turvas do meu par, encontrava aconchego de lar, tão familiar... E aquela nesga de luz vesga, pela fresta da janela meio aberta, ou meio fechada, passava o calor da tarde acesa, quente como a respiração dela no meu peito. Respeito dias assim. É como capim para o gado, como um agrado enfim, depois do dia de trabalho.  

  Paixões têm fórmulas, às vezes uma pitada de droga, quase sempre um monte de tesão, quase nunca uma dose razoável de razão. Mesmo assim, sei que não demora lá fora a chuva, grossa, curva perigosa, feita para se fazer devagar... Igual rolar sobre as nádegas dela, enquanto o dia tardava e a madrugada nos cobrava o sono, o cio e o sonho. Aquele ar viciado deixava excitado meu gosto por dores. Desejo cores mais claras por de trás da cortina, manchada. Tenho um gosto por curvas sinuosas e tardes de amor que viram dias. Assim como tenho gosto pela falta de tempo verbal para descrever a vida, tão atemporal.

  Paixões têm fórmulas. Mórbidas expectativas de vingança na negação. Tórridas partidas e chegadas no coração. Fósforo que queima a mão quando deixado queimar até o fim, até apagar enfim. As fórmulas têm paixão. E mesmo quando na meia luz, depois de nus, com infindas respirações, formulamos em conjunto que junto é melhor com carinho, sem desviar os caminhos de ninguém. Nas sinuosas ou nas tênues, suas curvas temem as minhas quando vamos além dessa noção, sem noção. Não falo de amor porque está implícito em cada suplício de saudade, em cada resquício de verdade nas paixões. Não falo daquilo tão caro que calo. Está explícito em cada solstício do viver. Que são dias de paixão sem vidas sem amor? São estradas sinuosas, de curvas perigosas, onde gozas sem saber que prosa irá dizer e se há lar para não se perder. Naquela infinda sensação, fiquei com o amor.

  Ela me deu um beijo meio termo. Meio na boca meio na bochecha. Meio te amo meio te odeio. Mesmo com o cheiro do café na cozinha, ela tinha nos olhos um ar de sozinha, me deixa. Foi à deixa. Não há estradas que não devem ser percorridas, perdida só pode ser a ignorância, não a partida. É como pegar carona, deitar em lona e ter prazer de vida. Estradas são meios, não fins, mesmo que no fim, quase às vezes, me vejo no meio delas.   

Osíris Duarte