terça-feira, 20 de novembro de 2012

A luta do negro é uma luta do Brasil


  O primeiro transporte negreiro no Brasil foi em 1594. Parece que faz tempo, mais de 400 anos, mas os rastros e consequências dessa viajem dolorosa e imposta aos africanos permanecem até os dias de hoje. Talvez não nos damos conta de o quanto essa história impacta em nossas vidas até o momento presente e, talvez, isso seja o principal motivo para continuarmos a reproduzir a segregação, a desigualdade e a desunião em nossa sociedade.
  O que é o Brasil?  Um país solidário, ético, para todos? Qual é nossa ideia de povo, de nação... Você já se perguntou? O movimento negro no Brasil não nasce por necessidade de reparação histórica apenas. Ele nasce por uma necessidade muito mais humana e ampla do que alguns discursos gritam. Para explicar, mais algumas pergunta cabem: O que define a qualidade de um ser humano? É sua cor, sua etnia, sua posição social ou seu caráter?
  Ao longo da história certas referências de bom, ruim, melhor ou pior nos foram impostas. A visão Eurocêntrica (a Europa como centro) predomina na média do pensamento do brasileiro como referência do que é melhor. Um certo complexo de primo pobre e uma necessidade de ascensão de classe passa por cima da nossa ideia de coletividade, de nação. Mas o que define o Brasil, mais do que o maior pais dos trópicos, do carnaval e do futebol é nossa diversidade cultural e étnica. Então, se o que nos define é nossa indefinição, porque ainda desconsideramos o papel, a importância e a contribuição do povo negro em nossa construção como Nação? Nossa cultura, nossas referências mais marcantes como povo, moram na herança dos Africanos, legado esse de peso de valor muito mais para o mundo do que a Europa nos deixou...
Consciência do que?
  Falar de consciência é falar de sensatez. É se contrapor a ignorância de quem não arreda pé de posicionamentos mancos, teimosos e arrogantes. É quando alegremente festejamos nossa cultura, esquecemos que ela é Africana em maior parte do que Europeia. Porque? Ser negro no Brasil ainda significa ser pobre, ser marginal, ser menos. É contraditório. Amar e admirar quem nos oprimiu ao longo da história, e odiar e diminuir quem nos deu o que temos de mais rico e bonito no nosso espírito brasileiro.            
 Nesse dia em que afirmamos a necessidade de uma consciência sobre o que significa a herança e o papel do negro no Brasil, é importante convocar  todos para uma reflexão. Se vivemos todos sobre o mesmo solo, brancos, negros, pardos, amarelos e vermelho, nesta terra onde nos construímos como coloridos, porque ainda os espaços sobre a terra mãe são limitados a cor, posição social e status? O negro ainda é o pobre, o marginal, a referência do que é sujo ou menor, mesmo sendo a maior parte da nação e mesmo não se valendo disso para ter prevalência na sociedade. O que a consciência negra prega não é uma inversão de ditaduras, o que ela propõe é uma noção mais profunda de valorização da nossa cultura e do nosso povo, de forma justa e humana.    
A dureza das conquistas
  Conquistamos o Estatuto da Igualdade Racial, Políticas de Ação Afirmativa nas Universidades e Institutos Federais. O fato das Cotas Raciais serem oficializadas por força de lei, é a prova cabal de que as conquistas do negro sempre será mais difícil e que há um longo caminho a trilhar para transpor esse modelo de sociedade, abrindo um novo horizonte para construção de um país justo e igualitário.
A participação dos movimentos sociais na luta por igualdade
A invisibilidade histórica levou o Movimento Negro a empreender cruzada, prol a importância do negro no contesto histórico nacional. Na década de 80 o Movimento Sindical Brasileiro se aliou ao Movimento Negro em função da conjuntura brasileira, que expunha em suas entranhas, a segregação em especial do negro na sociedade brasileira. A importância da união dos movimentos sociais vai muito além de solidariedade de classe ou afinidades políticas. Diz respeito a construção de um mundo com lugar para todos, onde o individualismo seja suplantado pela noção de coletividade, com consciência de que as ações individuais afetam o coletivo, e de que a militância social não deve reproduzir modelos de segregação e disputa
Osíris Duarte
Jornalista
Wilson Martins Lalau
Diretor do SINERGIA-SC

Nenhum comentário:

Postar um comentário