sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Datas

Das tantas coisas pueris, que por um triz, ou mais, passam querendo nos atingir, nos mentir, nos omitir, resisto em mim, persisto enfim nas coisas de coração. E se datas servem pra marcar, lembrar e sorrir, guardo então o que sobra de mais caro e terno, o que sobra pro verão e para o inverno, sem me sentir com sobras. Lembro-me que deixar o que tenho de melhor fluir é questão de sobrevivência na vida, de não sentir perdida a esperança nas pessoas, no amor, nas coisas boas, que se planta e colhe, que voa, e deixa mole a dureza desses espíritos afins. Então, hoje, sem remorso, pensando que posso sempre, deixo quente os sentimentos, elevo bem os pensamentos e não me envergonho mais de ser humano, de ser ciclano ou fulano, de ser sensível e romântico, se preciso for, ser preciso é, nem sempre... Basta a fé família... Basta o pé na trilha e a certeza de que não há arrependimentos quando existe um alento nos olhos dos que gosto, na caridade dos que amam e na clareza que dá a liberdade do humano feliz, a vera, de fato. Por aqui, e onde alcançam meus pensamentos, amor é mato e assim será no que depender de mim.

Luz na paz de nós, hoje, amanhã e sempre.


Osíris Duarte

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Estrada




  Nas tênues curvas, turvas do meu par, encontrava aconchego de lar, tão familiar... E aquela nesga de luz vesga, pela fresta da janela meio aberta, ou meio fechada, passava o calor da tarde acesa, quente como a respiração dela no meu peito. Respeito dias assim. É como capim para o gado, como um agrado enfim, depois do dia de trabalho.  

  Paixões têm fórmulas, às vezes uma pitada de droga, quase sempre um monte de tesão, quase nunca uma dose razoável de razão. Mesmo assim, sei que não demora lá fora a chuva, grossa, curva perigosa, feita para se fazer devagar... Igual rolar sobre as nádegas dela, enquanto o dia tardava e a madrugada nos cobrava o sono, o cio e o sonho. Aquele ar viciado deixava excitado meu gosto por dores. Desejo cores mais claras por de trás da cortina, manchada. Tenho um gosto por curvas sinuosas e tardes de amor que viram dias. Assim como tenho gosto pela falta de tempo verbal para descrever a vida, tão atemporal.

  Paixões têm fórmulas. Mórbidas expectativas de vingança na negação. Tórridas partidas e chegadas no coração. Fósforo que queima a mão quando deixado queimar até o fim, até apagar enfim. As fórmulas têm paixão. E mesmo quando na meia luz, depois de nus, com infindas respirações, formulamos em conjunto que junto é melhor com carinho, sem desviar os caminhos de ninguém. Nas sinuosas ou nas tênues, suas curvas temem as minhas quando vamos além dessa noção, sem noção. Não falo de amor porque está implícito em cada suplício de saudade, em cada resquício de verdade nas paixões. Não falo daquilo tão caro que calo. Está explícito em cada solstício do viver. Que são dias de paixão sem vidas sem amor? São estradas sinuosas, de curvas perigosas, onde gozas sem saber que prosa irá dizer e se há lar para não se perder. Naquela infinda sensação, fiquei com o amor.

  Ela me deu um beijo meio termo. Meio na boca meio na bochecha. Meio te amo meio te odeio. Mesmo com o cheiro do café na cozinha, ela tinha nos olhos um ar de sozinha, me deixa. Foi à deixa. Não há estradas que não devem ser percorridas, perdida só pode ser a ignorância, não a partida. É como pegar carona, deitar em lona e ter prazer de vida. Estradas são meios, não fins, mesmo que no fim, quase às vezes, me vejo no meio delas.   

Osíris Duarte

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

João que podia ser Maria, que podia ser Pedro...


João era preto, desrespeito da ausência de cor. E aquilo que João tem no peito, bate curto, apertado e estreito, quando no leito João deita pálido, sem cor. João morreu no beco, escuro segredo no muro branco do bar. Ele não viu o mar, nem o azul do amor costeiro, João era um estrangeiro no próprio lar de dor. Ele era direito, trabalhador de respeito, na calçada inspirava medo, em casa esplendor. João podia ser José, Maria ou Pedro, ele corre a pista atrás de um beijo, doce afago dos desejos. João bebia cachaça no sábado, café no domingo e chuva na segunda. Ele senta a bunda no coletivo, a mesma bunda que consigo sente, que no coletivo senta. Ele tenta, tentava... João arrastava as solas brancas do pé negro, na face escura o sorriso luz, sem segredo, andava a esmo na vida cinza. João morreu no beco, nas mãos o pão, o leite e o medo, enquanto o mundo lhe dizia preto não é cor, é ausência de cor e saiba, de cór, isso, morre bem quisto pelo preconceito, mais um preto, por favor.

Osíris Duarte 20.11.13

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Sobre abóboras, bruxas e sacis



Por Osíris Duarte

 Quando eu era criança - e olha que não faz tanto tempo em! - Natal era uma festa cristã, assim como a Páscoa. Festa junina, ou de São João, nome mais comum para nordestinos como eu, era expressão cultural de valor e, o folclore brasileiro, parte integrante das manifestações culturais na minha época, era bem presente no meu imaginário. Cresci lendo livros sobre Curupiras, Sacis e mulas sem cabeças, juntamente com aqueles deliciosos livros da Coleção Vagalume, como A Ilha Perdida, O escaravelho do Diabo... Todos redigidos por talentosos escritores brasileiros, voltados para o público infanto-juvenil. Mas cada vez mais percebo mudanças, que nem sempre me agradam, no consumo de conteúdo artístico, cultural e literário do jovem brasileiro.
  Para o educador, pedagogo, Paulo Freire, sociedades colonizadas ou invadidas culturalmente são sociedades alienadas. De fato, o que temos historicamente no Brasil é a manutenção de um processo colonial, com finalidade de manter na inércia o processo emancipatório da sociedade e do povo brasileiro, na busca pelo reforço e construção de valores coerentes com as origens étnicas e culturais da nossa sociedade. A forma predatória estabelecida pela colonização em terras tupiniquins – exploração econômica, escravidão, concentração das terras, mandonismos, falta de liberdade de expressão e de livre iniciativa – deixou uma herança nefasta na construção de valores dentro de nossa sociedade. 
  A falta de participação popular na vida pública do país ao longo da história, mantendo governantes em uma esfera de poder externo ao povo, os senhores das terras, os fiscais da Coroa, nobres membros da Coroa, etc, criou uma consciência hospedeira da opressão, consciência habituada a seguir leis e preceitos de outros em vez de consciência livre e criadora, necessária para um regime democrático. Mas, mesmo com a criação do Estado Democrático de Direito no Brasil, nunca houve o desejo dos governantes, sejam os colonizadores do passado ou os atuais, de estabelecerem aqui uma Nação e, “importar” as soluções, os modelos, inclusive valores, através da música, manifestações culturais, bens de consumo e modelos políticos seria uma solução.      
  Levar e conta o que nos define como povo é um processo de libertação e construção de unidade. Aquilo que nos define como indivíduo está diretamente vinculado ao que nos define como cidadãos e como povo. Problemas que afligem outros povos passam a ser nosso problema devido à reprodução de expressões culturais e sociais. Ao mesmo tempo virtudes e benefícios advindos de nossa terra e nosso povo vão sendo enterrados. O que me assusta, é que isso denota uma tendência para a entrega a escravidão, uma preguiça de ser brasileiro, de dar valor ao que nos definiria como Nação livre e soberana. De fato, os gringos valorizam nossa cultura muito mais que nós. Talvez seja por isso que valorizamos a deles: certa necessidade de autodepreciação, uma armadilha que dá a falsa segurança de que podemos nos eximir da responsabilidade de cuidar uns dos outros e de nossa terra.
  Quando pirralho, criança de nariz escorrido, eu brincava de índio, soltava pipa, e acreditava em estórias. E se hoje eu sei o valor de um indígena, da capoeira, do saci, da mata atlântica e da Amazônia... Se eu sei hoje o valor da luta das minorias sociais no país, sei o que é Brasil na carne e no sangue, é por causa de Machado de Assis, folclore, São João, forró, carnaval de rua, com esguicho de água e fantasia, bois e milho. Se hoje eu sou brasileiro, é porque fui privilegiado com a oportunidade de sê-lo, coisa que parece cada vez mais escassa. 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A verve

A verve que fere as palavras lavra o campo vasto de intenções do espírito. E se por acaso não fizer boa colheita comigo, não há pesares que amorteçam certa frustração. Em verdade penso que não há má colheita, mas sim certa feita de imprecisões. O que há de mal é quando não há o que complementa a vontade lenta de juntar o que lhe foi dado, não deixando de lado o lado que cabe a cada corte, a cada responsabilidade de morte, a cada sonho em vão...  Não coloco de escanteio as falhas minhas. Se o fizesse seria um ignorante feliz, que caminha e malha a si quando não cabe mais usar argumentos. Mas também não desejo sorte, fico no aguardo do norte depois da tempestade que ainda grita nos meus ouvidos. Não perdi o tom, nem sou um embuste, mas é que nessa coisa de viver, há quem escute suas angústias e há que finja que não lhe cabe ser humano. De fato eu estou farto de solicitudes. Elas iludem quando o cada dia se torna luta solitária, de um pária, para aqueles que entendem como lamúria aquilo tão caro pra cada um. Minha realidade aturde meu senso, urge em consensos, mas se perde em meio as calhas, e escorre com a chuva. A  verve que fere as palavras lavra o campo vasto de pretensões e sentidos. E comigo arde a vontade de poder ser maior que minhas angústias, ao ponto de fazer pesar menos as angústias alheias em mim.  

Osíris Duarte

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Quisá

Um dia ainda me descobrirei maior do que minhas pequenas angústias. Ainda serei mais do que um homem. Serei além da fome, pra lá do desejo, serei mais do que apenas um pedaço de emoção. Serei por inteiro. E o certeiro amor no fim dessa luta contra ilusão, espero.

Osíris Duarte 20.08.13

Arte do Gueto - 1º de setembro, em Florianópolis


Vida nossa



Cada qual no seu cada um de todo dia. Todo uno que de cada qual retira seu todo. Dia seu quando cada todo se torna um. Vida nossa... As vezes a gente esquece.

Osíris Duarte 23.08.13

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Nostalgia que dá

Não sei o que me atrai em você... Se é o que me trai ou o que me confessa. E a vida cresce e desce, perdura e emudece, mas não descubro o que acontece quando lembro do quanto já te quis, o quanto há pra se querer... Não sei o que me distrai em você. Se é o olhar que não fixa no meu, se é minha vontade de achar o que se perdeu ou se me distraio com o que crio ao olhar o que já não é meu. Das coisas que sei, poucas migalhas ao fim, é que não há lembrança ruim, há apenas esperança pouca. E se hoje chamas outro de meu amor, se ontem já não pesa no que pesa o adiante, pelo menos lembra, fita meu semblante, e diz pra mim que já não sou interessante, já não supro seu calor.

Osíris Duarte

quarta-feira, 17 de julho de 2013

O que ganhamos com o 11 de Julho?


  Apesar de não serem mais de 50 mil, como foi na maior passeata que houve em Florianópolis durante as manifestações do último mês, as mais de 5 mil pessoas presentes na passeata do dia 11 de julho, intitulado Dia de Luta, Greves e Mobilizações, convocado pelas centrais sindicais, teve uma representatividade estratégica importante para os seguimentos da sociedade civil organizada no Brasil e na Capital Catarinense. 

  Funcionários públicos, COMCAP, Correios, eletricitários, bancários, policiais civis, trabalhadores da saúde, professores, estudantes, Movimento Passe Livre, MST... A lista de movimentos e categorias organizadas era grande, mesmo quando a concentração em frente a Assembleia Legislativa de Santa Catarina ainda não apontava para o tamanho da passeata que se formaria. Ao longo da caminhada, que passou pelos principais centros administrativos do Estado e do município, como prefeitura, secretarias de educação e saúde e TRT, e que acabou no Terminal municipal do centro da cidade, trabalhadores foram aderindo, do comércio, das administrações públicas... 

  Em meio ao clima de protestos que o país tem vivenciado, ver representantes de diversos seguimentos, classes e movimentos sociais, muitos deles rostos conhecidos de quem milita, de quem está nas ruas a bem mais tempo do que um princípio de inverno, misturados com outros, apenas ilustres desconhecidos, mas que se ocupam do papel de ocupar, de se ocupar com a culpa de quem não se contenta com o comodismo, da culpa do par, demonstra que ainda à margem para se pensar em unidade na militância civil brasileira. 


  O que se pode notar é que ainda há um abismo grande a se ultrapassar no que diz respeito a nossa noção de cidadania na nossa sociedade. Demonstrações de agressividade, intolerância e, por isso, ignorância, por parte de alguns transeuntes, ainda embebedados pelos gritos de "sem partido, sem bandeira ou viva as causas que nem eu mesmo sei quais são", que ecoaram em muitas manifestações no país, serviram para reforçar o quanto uma parcela significativa da sociedade não entende o que é liberdade, direito e democracia. 

  Acostumados a reproduzir as opiniões que recebem mastigadas da grande mídia, sem dar chance para ouvir, olhar ou mesmo considerar o outro lado, muitos cidadãos, inclusive integrantes da camada de trabalhadores no Brasil, não consideram os trabalhadores cidadãos, não entendem organizações civis, como Sindicatos, fora do que entendem por partidos políticos, e não valorizam a liberdade de expressão e manifestação, o direito civil amplo e a responsabilidade civil de lutar por uma sociedade melhor. De fato muitos trabalhadores não se enxergam como tal. Não no que diz respeito a quantidade e a qualidade do exercício profissional, do trabalho, mas sim como classe social. Esse equívoco classista gera distorções de comportamento social que afastam muitos da coletividade da classe em que está na busca pela ascensão de classe apenas.
   
      
  Noticiar apenas os números da passeata e compara-los com os demais números de outras mobilizações, colocando as falas já conhecidas dos dirigentes sindicais pontuadas, seria reproduzir o que a grande mídia faz, sem realmente destacar o que há de substancial na mobilização, seja pela demonstração de vida na sociedade civil organizada de Florianópolis, seja pela demonstração de unidade que as categorias deram. Reforçar o fato de que o problema do professor é problema do enfermeiro, que é problema do bancário, que é problema do funcionário público, que é problema do lixeiro, e assim por diante, é um ganho importante na construção da ideia de coletividade e cidadania plena no nosso país. Constatar a forma como a mídia aborda as mobilizações da classe trabalhadora em comparação com mobilizações mais difusas, oriundas de outros projetos de luta, que muitas vezes não confrontam o poder e a opressão do mundo moderno, também é um ganho no psicológico de muitos militantes.  


  Para a categoria bancária fica a lição, mais uma vez, de que sem luta, organização e unidade não se mantém, muito menos se conquista direitos. Nenhum dos nossos direitos civis são concessões do poder. Todos eles foram conquistados ao longo da história, na base da luta e ao custo de mortes e sofrimento de muitos cidadãos de bem. A categoria bancária é, ainda, uma das maiores e mais bem organizadas categorias de trabalhadores no país. A muito custo se construiu a estrutura e organização dos bancários e, se não nos apropriarmos das ruas e dos nossos direitos, eles serão expropriados, quinhão por quinhão, enquanto nos conformamos e ser apenas história, não realidade.      

Texto e fotos - Osíris Duarte




quarta-feira, 26 de junho de 2013

terça-feira, 18 de junho de 2013

A mídia, o medo e os paralelepípedos



  Bastou um momento, um ensaio da possibilidade, para o medo se instalar naqueles que nunca imaginaram que isso poderia acontecer. O medo, o mesmo sentimento útil historicamente na relação da sociedade de classes brasileira, mudou de lugar, mesmo que por um lampejo, mesmo que ainda precisando ganhar mais corpo. A reflexão sobre como as ideias ganham corpo, mente e alma no nosso país, passam muito pelos olhos daqueles habituados ao status quo, a dita ordem. Porque foi nos olhos de colegas jornalistas, nos olhos de analistas e políticos, que vi a luz no fim do túnel, mais uma vez. Foi no medo que vi nos olhos deles.
  Assistindo ontem o Jornal Nacional, como exercício didático de análise semiótica, monitorando discursos, fui testemunha do ridículo a que se dobrou a emissora, que através do semblante do seu âncora não se furtou em demonstrar o tamanho da contrariedade em dar cobertura para as manifestações em todo o país, reunindo milhares de pessoas. Não podendo amplamente alimentar o ufanismo da Copa das Confederações, e tendo que dar destaque as manifestações para vender a imagem de que faz jornalismo, e é imparcial, o JN, principal telejornal do jornalismo da Globo, correu e corre atrás, assim como o departamento de jornalismo da emissora, para minimizar o impacto da insatisfação gerada pelo reacionarismo das declarações e abordagem da emissora na cobertura das manifestações.
  A mudança de termos, adjetivos, como vândalos para manifestantes, é apenas uma das estratégias adotadas pelas editorias para capitalizar o prejuízo de imagem e credibilidade. Outra e o pretenso fazer jornalístico agora alardeado por eles, que se omitiram até então com relação a buscar entrevistas com os manifestantes, a não exacerbar o vandalismo em detrimento da importância das manifestações e das bandeiras defendidas. O direcionamento que um discurso têm, mesmo travestido de jornalismo, não está somente nas palavras contidas nele, mas principalmente no tom e na abordagem que se dá. Existem especialistas para corroborar com quase tudo, desde que corresponda ao que defende a tese argumentada. Não existem verdade absolutas, mas escolhas de verdade. Mas o pior é ver que além de tentar minimizar prejuízos, a emissora insiste, sutilmente, em reforçar seu posicionamento político, mesmo o escondendo em mentiras que são, de fato, o  motor da máquina da Globo. O exemplo são as afirmativas de repórteres, dizendo que "as manifestações são motivadas pelo aumento das tarifas e pelo custo de vida no país". MENTIRA! As tarifas sim, mas essa afirmação, cunhada pela repórter, é política, tentando pesar no governo federal em algo que eles mesmos tem responsabilidade pela manutenção: ignorância. Acho que qualquer político no Brasil é farinha do mesmo saco, porque se sujeita ao jogo do sistema para disputar poder. Nada de mobilizar o povo, nada de luta por direitos, é poder e ponto. Quem entra no  jogo, por mais que tenha o tal discurso de mudar de dentro, de que se eu, que sou honesto e bonzinho, não estiver lá, vamos deixar espaço para quem não presta é balela de quem quer bebesse, mamar na teta. O fato é que quem entra nessa ou está disposto a se corromper, ou não terá força para resistir, esse é o jogo, e a máquina de dentro é bem melhor guardada do que por fora.
O fato é que o peso das manifestações se fez sentir numa parcela da sociedade que vive, e sempre viveu, a falsa sensação de segurança que corroborar com quem ascende ao poder oferece, mesmo com esse poder sendo adquirido na base da opressão e da mentira. O peso do que tem acontecido no Brasil não é político partidário nem mesmo o que está em jogo é quem será o próximo presidente do país. O que está em destaque, o que está em jogo é algo chamado senso de cidadania, de pertencimento. Nada muda para uma coletividade que não se reconhece como tal. E não são as bandeiras dos partidos ou grupos que fazem esse senso de coletivo, pelo contrário. Quem fez esse senso brotar foi a rua, foi a retomada do que é nosso, a apropriação. Para um povo que nunca se sentiu dono desse país, pelas inúmeras questões históricas que pesam, a rua é o melhor palco de retomada de posse, de construção de sentido de coletividade.

Osíris Duarte - Jornalista
   



quarta-feira, 12 de junho de 2013

Por mais que seja ingênuo



O que antes fosse, já era. Brumas turvam o campo... Piedade de mim, dizia.
Se outrora visse o amanhecer na alvorada desse amanhã, nada me diria.
Seja o sol que exiges que brilhe sobre seu dia.

E se agora choras, seja pela solidão ou seja por orgulho, chores.
A maior misericórdia é deixar a discórdia de lado, e saber sofrer se convêm.
Seja a luz da estrela que guia seus passos.

Quem lamenta não tem tempo pra se erguer.
Achas que a tormenta só sopra pra você? Ingênuo...
O que importa quem escuta atrás da porta, se não ao orgulho que corta vossa vontade.

Dor maior é viver a fantasia de quem cria o próprio conto verdade.
Sofrer mesmo é viver achando que não está só quando na realidade gritas só.
Qual é a liberdade que preferes, a que fere todo o dia, ou a que responsabiliza-te pelos curativos?

Qual é a força de vossa fé.

Osíris Duarte 12.06.13

segunda-feira, 13 de maio de 2013

E quando não é dia das mães? Ou dos pais? Ou dos filhos...



  Passada a ânsia por consumo e os apelos do comércio e da mídia com relação ao dia das mães, me sinto mais a vontade para escrever sobre o tema. Não é ranço, radicalismo, nem orgulho, é só uma escolha de cunho didático, buscando uma reflexão em ânimos menos exacerbados pelas influências do período. Também por uma razão simples, uma pergunta fácil de formular: E quando não é dia das mães, afinal? As datas comemorativas, na verdade, não servem ao propósito de lembrança, comemoração por fato importante, militância... Elas servem muito mais ao sistema, ao comércio, a política, do que as pessoas. Para falar sobre mães hoje em dia não é possível descolar a abordagem de uma discussão sobre papéis, gênero, família e sociedade. Para além do amor que o filho sente pela figura materna, há um debate mais amplo, mais necessário do que lembrar como mãe é amada e importante.
  Para manter o mínimo de clichê, vou rasgar uma ceda aqui para minha mãe, mas ela é justificável no contexto da minha abordagem. Dona Cibele foi mãe nos anos 1980. Eu nasci em 1981, seu primeiro filho. Já formada em ciências da computação, ela remou contra a maré da época e da cultura nordestina de meu avô, sertanejo e cabra macho. A contra gosto dele ela estudou fora de João Pessoa, em Campina Grande, na serra paraibana. A contra gosto do pai e do marido, ela embarcou para São Paulo, em busca de algum sucesso na profissão, já que na Paraíba emprego faltou por quase 9 anos depois de formada. Lá, conquistou trabalho, trouxe o marido e os filhos e estruturou a vida financeira e profissional. Educou a mim e meu irmão com o máximo de acesso a informação e educação formal possível, assim como nos criou com valores morais firmes, éticos e solidários. Minha mãe representa uma mulher que vem se desenhando a décadas, na busca por igualdade de direitos e justiça social, quebrando tabus e preconceitos e, inclusive, enfrentando o machismo contido nela e na sociedade, tanto em homens como em mulheres.
  Historicamente a mulher ocupou o papel de cuidadora da sociedade. Sempre coube a elas os cuidados com os filhos, marido, velhos, enfermos, crianças e toda sorte de desvalidos e fragilizados. Características e virtudes atribuídas a feminilidade, como zelo, carinho e paciência, serviram e servem como argumento para o papel da mulher na sociedade. Os atributos físicos foram determinantes para a definição de papéis nas sociedades humanas ao longo da história. A força física do homem lhe conferiu uma posição de dominância durante nossa existência pregressa, lhe reservando os postos de controle e os ditames das regras sociais. A mulher, depreciada nessa relação, desenvolveu também instrumentos humanos para sobrevivência e disputa por poder na coletividade. Ao mesmo tempo que a necessidade lhe ensinou a se valer da posição de objeto de desejo, elas também eram as principais responsáveis pela transmissão de valores a prole, presas num ciclo de subserviência a sistema imposto pelo homens, e subversão exercida pela necessidade de também exercer poder na sociedade, mesmo que cerceado e vigiado pelos homens.
  As conquistas das mulheres ao longo da história são fruto dos instrumentos de sobrevivência adotados por elas nessa luta, solapando e galgando espaços na sociedade machista instituída. As grandes guerras, bem como a revolução industrial e o capitalismo tem seus papéis nas conquistas do feminismo, mas essencialmente, a necessidade de pluralismo e diversidade na construção social são determinantes na abertura de espaços na busca por igualdade civil e direitos humanos. Para mim, é o irrevogável curso da evolução. Ao mesmo tempo em que as mulheres galgaram seus espaços, - que ainda precisa de avanços até hoje - aos homens foi imposta a necessidade de adequação a essa nova mulher. O processo de diluir a visão fragmentada e compartimentada que tempo de coletividade passa pelos conflitos gerados por essa pluralidade, formando nossa caráter e nossos valores através da energia gerada pelos embates, contradições e reflexões conscientes. Para manter uma relação social, que preserve o afetivo, o psicológico e o espiritual, os homens tiveram, e ainda tem, que dar um passo moral na sua relação com o feminino e com a mulher na sociedade. Eu sou filho de uma geração que começou a desfrutar de uma sociedade, ainda que longe do ideal, mais equilibrada, mas diversa e, portanto, mas propensa a justiça. Sob esse ponto de vista nada mais normal que equidade de direitos para combater a ignorância, mãe do preconceito. Sendo assim, o entendimento de mãe, em uma sociedade onde novos valores pesam sobre a construção dos indivíduos, onde o cenário e os personagens mudaram de roupa, comportamento e papéis, passa muito mais pelo entendimento de amor ao próximo do que de personagem social. Mesmo com tantas mudanças comportamentais e de rotina de vida, o que define mãe na essência é a imposição prática de amor ao próximo, mesmo que na prática isso nem sempre se dê. Quantas mãe modernas tem a mesma disposição de cuidar e educar seus filhos? Os métodos mudaram de acordo com as mudanças do tempo e da sociedade? E se não mudaram, se adéquam aos dias de hoje? O que representa a figura da mãe na família moderna? Por mais que o modelo continue com bases sólidas, de cuidado e carinho, muitas mães hoje delegam a formação de seus filhos a sociedade e suas instituições, seja a escola, o estado ou a própria sociedade. "A vida cria", dizem ainda por ai. É de se pensar...
   Eu tenho uma família com a cara dos tempos novos. Somos uma mãe, um padrasto, um pai e uma madrasta, um irmã adotada, dois irmão, um filho da mãe outro do pai, fora os agregados que se somam ao núcleo base da minha família. O modelo de família, católico, baseado no conceito arcaico de sobrevivência da espécie, serve para a manutenção e permanência de valores que dizem respeito a uma época que não é a nossa. O mundo já tem gente suficiente para se preocupar com povoar o planeta como Adão e Eva. O questionamento aqui não é contra a responsabilidade que os pais devem ter para com seus filhos, mas sim na saúde mental e social necessária a nossa realidade, que mesmo com o formato de família: papai, mamãe e filhinho, não garante felicidade, amor e respeito. Valores não estão atrelados a orientação sexual, escolha religiosa ou política, até porque para serem valores, devem ser coerentes, de discurso para atitudes, e esse tipo de escolha não define coerência.      
  O que define mãe é uma lembrança. Quando chorava por algo que não tinha, e queria, e ela me deixou chorar. Quando me deu aquilo que eu não queria, mas precisava. A lembrança da festinha de escola, e ela sorrindo na primeira fila. O gosto de ficar velho, e ter ela fazendo o café quando estou na casa dela, arrumando minha cama, cuidando de mim mesmo quando já não é mais necessário. O que define mãe não é o papel social, ou moral ou afetivo. O que define mãe é o amor pela humanidade, que pode vir através da maternidade ou da consciência sobre coletividade. Mãe é a acepção do amor ao próximo. É a imposição do universo pela aceitação. Assim, todos os dias, na minha visão, são delas, as mães, de verdade ou postiças, mas as presentes, as atuantes. Aquelas que estão lá, dia após dia, nos amando e zelando por nós.  Se for pensar com calma, talvez o único dia que não seja tão delas, seja o da data comemorativa. Pode ser dia das mãe para o comércio ou para a sociedade, mas o dia delas mesmo é todo dia.                  
       

terça-feira, 23 de abril de 2013

Sem meias atitudes



Mas é que quando beijo, é pra valer.
Um ensejo de nada, não rende beijo.
É que meu desejo não faz doer.
Pra quem sabe o que almejo, dar valor ao beijo
É só questão de saber o que querer.

Meu abraço é de verdade, faz alarde.
De deixar roxo, apertado, acarinhado.
É porque não tenho braços pra quem não tem abraço
É só questão de saber o que fazer.

Osíris Duarte 22.04.13

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Omitindo



Tá entalado. Aqui, na garganta, sabe... Ando é bem ressabiado com os abismos da ignorância. O artigo de luxo chamado coerência anda em escassez. E a gente recebe críticas negativas por tentar ser politicamente correto... Talvez porque na nossa realidade tupiniquim haja um antagonismo por demais forte entre as duas palavras. Tá cheio de gente "inteligente" por ai que faz questão de justificar suas palavras-conceitos-reforços com a dita liberdade. Liberdade sem se responsabilizar e fáaacil... Então ainda tenho que ouvir discursos do tipo: Tem que matar esse bandido, esse fodido, esse viado, esse preto, esse crente, esse povo... Santos cristãos batman! As vezes acho que o analfabetismo crítico é pior do que o prático. Conviver com a leviandade de compartilhamentos fake que servem os propósitos ideológicos, morais e de poder alheio virou status quo. Tenho me preservado de algumas polêmicas, porque já me basta o asco diário. Então, em meio ao melindre de muitos com qualquer declaração divergentes, pensei mesmo em vir aqui só pra reforçar algo pra mim importante: Tirem sua ignorância do meu caminho que eu quero passar com a realidade.

Osíris Duarte 10.04.13

terça-feira, 2 de abril de 2013

Verde as vezes, maduro por estação

Penso que já não há espaço pra remendos.
Esse escrever com sangue as histórias, esse suor nas memórias...

Penso que não me servem paliativos.
Assim como já não me servem mais certos livros, certas roupas...

Penso que preciso seguir sonhando.
Mas andando sonâmbulo caminho cego a beira da realidade, certas verdades...

O fato é que hoje penso, como jamais pensei
E se me pesa o dessabor tenso dos erros e frustrações, me eleva o valor da fruta que pego do chão.

Osíris Duarte 01.04.13

sábado, 23 de março de 2013

Minha casa




Bom retiro de meu agrado são os raros instantes de desilusão.
É quando o caro momento solidário da manhã,
Trás consigo o recomeço, a esperança na luz vã.

Queria eu um relicário, um apego compreensível sem filosofia.
Mas meu bom retiro é o silêncio, são os pássaros lá fora,
É o que não demora mais do que a solidão.

É o que denota paixão, sem demora na hora da paciência.
Meu bom retiro é penitência, é sonho e é perdão.

E quando o sol nascer por sobre meu telhado,
A flor no jardim ao lado florescerá aos pés do meu também.

Regadas a amor e indulgência, a fraternidade e a inteligência,
De se deleitar deitado a grama, na certeza de quem ama a verdade.

Meu bom retiro é lugar onde se preza pela certeza,
De que a beleza se faz também de terra e céu, abrigo e chão.

Osíris Duarte 08.03.13

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Estações

No meu silêncio mora um grito ensurdecedor.
E de olhos fechados vejo bem, além da miopia.
Melhor seria se eu fosse ignorante.

Sou apenas alguém que estremesse com nostalgia,

Que se embebeda de agonia, 
Quando o dia de novo nasce azul, 
Mas ainda não me trouxe de volta a cor que eu queria. 

No meu silêncio mora um gemido, um suspiro.

E mesmo ao som baixo, tenho um prurido,
Algo entre o ego e a libido, uma vontade de explodir.

Nos meus berros revolucionários mora o silêncio reflexivo da minha alma.

Calma brisa de verão...

Osíris Duarte 19.02.13

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Falso ego


De quando em vez sou apenas um escárnio de mim,
Plágio barato de quem quero ser.
E nessas horas me religo a realidade, tomo uma dose de humildade,
Pra não seguir sendo essa farsa que não disfarça o embuste que é ser sistêmico,
Mortal arrogante mortal envolto na névoa da sociedade carnal,
Sofre o contágio epidêmico de hipocrisia moral. 
Viva a teimosia dos bons, viva...

Osíris Duarte 15.02.13

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Menino dançarino



E eu dançava com pernas que já não são minhas.
Dançava ao som mudo da vida, turba enfurecida de imagens pensamento.
Eu dançava ao vento, e ainda danço.
Quer coisa mais certa que não ter ranço do tempo?
E ainda ei de conseguir pairar acima dos meus eus egocêntricos.
Ei de apagar as chagas da minha insegurança.
E ai só vai restar a lembrança do homem criança que não soube brincar com a vida.
Bandida que roubou minha inocência, mas deixou, ainda bem, minha esperança.

Osíris Duarte 16.01.13

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Amor: uma brecha se abre para um novo ciclo


A gente se confunde, e mete os pés pelas mãos. Amor não é só sentimento, amor não é querer apenas fugir da solidão. Essa "coisa" é feita de tantas coisas... Amor têm uma grande parte de respeito, amor é ser afeito a liberdade. Amar de verdade não dá espaço para autoridade, não dá brecha para a opressão. Amor, para não ser vão ardor, deve ter uma parte grande de amizade, despindo-se da vaidade e sabendo abraçar o entendimento da individualidade, dentro de cada um que vive nesse mar de coletividade. Olhar o outro com cuidado, amor não deixa de lado aquilo que pulsa alheio ao desejo no coração do ser amado. Somos tantas coisas, que restringir amor a apenas sentimento e um desperdício, um desalento. Amar é o entendimento de que somos, não apenas sou. E de que juntos derrubaremos a iniquidade, seja social ou seja na consciência de humanidade, que ainda se dá a contradição de dizer que ama, mesmo quando nos tolhe a felicidade e a liberdade de trilhar nossos próprios caminhos. Mais um ciclo se fecha, e por essa brecha enxergo a luz de um futuro amoroso de fato, onde os casais não mais se privem do fato de sermos humanos, que as famílias não mais se furtem do calor de sermos unidos, e que as sociedades não se percam mais em meio as desvirtudes de um mundo finito, sem amor.

Osíris Duarte 28.12.12