quarta-feira, 20 de novembro de 2013

João que podia ser Maria, que podia ser Pedro...


João era preto, desrespeito da ausência de cor. E aquilo que João tem no peito, bate curto, apertado e estreito, quando no leito João deita pálido, sem cor. João morreu no beco, escuro segredo no muro branco do bar. Ele não viu o mar, nem o azul do amor costeiro, João era um estrangeiro no próprio lar de dor. Ele era direito, trabalhador de respeito, na calçada inspirava medo, em casa esplendor. João podia ser José, Maria ou Pedro, ele corre a pista atrás de um beijo, doce afago dos desejos. João bebia cachaça no sábado, café no domingo e chuva na segunda. Ele senta a bunda no coletivo, a mesma bunda que consigo sente, que no coletivo senta. Ele tenta, tentava... João arrastava as solas brancas do pé negro, na face escura o sorriso luz, sem segredo, andava a esmo na vida cinza. João morreu no beco, nas mãos o pão, o leite e o medo, enquanto o mundo lhe dizia preto não é cor, é ausência de cor e saiba, de cór, isso, morre bem quisto pelo preconceito, mais um preto, por favor.

Osíris Duarte 20.11.13

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