quinta-feira, 6 de maio de 2010

O Joio do Trigo


Evangelho segundo São Mateus 13:24-30: "Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo; mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou joio no meio do trigo, e retirou-se. E, quando a erva cresceu e produziu fruto, apareceu também o joio. Então, vindo os servos do dono da casa, lhe disseram: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio? Ele, porém, lhes respondeu: Um inimigo fez isso. Mas os servos lhe perguntaram: Queres que vamos e arranquemos o joio? Não! replicou ele, para que, ao separar o joio, não arranqueis também com ele o trigo. Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: Ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado; mas trigo, recolhei-o no meu celeiro."

  A distorção que existe no meio sindical do papel do jornalista e das atribuições de sua função é algo que somente atrapalha a luta promovida pelas entidades de classe. A disputa política, que na maioria dos casos copia a que é feita no Congresso Nacional e na política partidária, põe o profissional de comunicação em uma posição delicada. As discrepâncias e incoerências presentes no meio sindical acabam por respingar no jornalista, que tem seu cargo sempre colocado na berlinda quando os ânimos se acirram.  

  Entender o papel do assessor de imprensa e o que é jornalismo sindical é prerrogativa de um bom gestor de entidades de classe. A comunicação como setor estratégico de um Sindicato, não pode ser comprometida com disputas internas de cunho político. O único prejudicado, além do jornalista, é a categoria, que fica a mercê de marés de boa vontade e de consciência momentânea por parte de dirigentes sindicais.

  Se há a necessidade de profissionalizar o setor, já que uma imprensa sindical séria se faz necessária para a disputa por hegemonia comunicacional, essa necessidade, na maioria dos casos, fica apenas da boca para fora. A forma como profissionais de comunicação são envolvidos no contexto políticos dos sindicatos, ficando a mercê de interesses de grupos, faz com que a idoneidade da produção no meio sindical fique comprometida, minando assim a credibilidade perante a sociedade e junto às respectivas bases.

Se toda vez que uma nova gestão, com novos dirigentes, se instalarem em um sindicato e trouxer seu jornalista a tira colo, como acreditar no fazer jornalístico deste profissional? Para quem trabalha o jornalista, para a categoria ou para a diretoria vigente? Por mais que a assessoria de imprensa tenha uma característica unilateral, ela não deve apenas servir como forma de pintar uma boa imagem da direção. A não ser que seja assessoria de dirigente sindical. O papel crítico do assessor atua dentro da entidade, pautando as necessidades e lutas dos trabalhadores, sob critérios coerentes com a luta sindical.

A clareza do papel do jornalista nos sindicatos se faz necessária para evitar que tal cargo sirva como benesse política de quem assume o poder. O profissional de comunicação deve servir a categoria acima de qualquer interesse político ou de grupo. Se um dirigente sindical não entende isso então ele não serve como dirigente. Existem casos onde pessoas com anos de profissão, cabelos brancos e uma história de militância se comportam feito crianças, criando situações onde, por conveniência, usam o jornalista de bode expiatório para corroborar com os seus argumentos de disputa.

O primeiro passo para profissionalizar a imprensa sindical é acabar com essa história de cargo político. Jornalista é jornalista, seja repórter ou assessor de imprensa. A diferença está no tipo de finalidade que a posição onera, mas para que se possa realmente promover avanços no fazer jornalístico, aumentando a credibilidade das produções feitas por entidades sindicais junto às bases e a sociedade, é necessário saber separar o joio do trigo.  

Osíris Duarte

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