Apesar de não serem mais de 50 mil, como foi na maior passeata que houve em Florianópolis durante as manifestações do último mês, as mais de 5 mil pessoas presentes na passeata do dia 11 de julho, intitulado Dia de Luta, Greves e Mobilizações, convocado pelas centrais sindicais, teve uma representatividade estratégica importante para os seguimentos da sociedade civil organizada no Brasil e na Capital Catarinense.
Funcionários públicos, COMCAP, Correios, eletricitários, bancários, policiais civis, trabalhadores da saúde, professores, estudantes, Movimento Passe Livre, MST... A lista de movimentos e categorias organizadas era grande, mesmo quando a concentração em frente a Assembleia Legislativa de Santa Catarina ainda não apontava para o tamanho da passeata que se formaria. Ao longo da caminhada, que passou pelos principais centros administrativos do Estado e do município, como prefeitura, secretarias de educação e saúde e TRT, e que acabou no Terminal municipal do centro da cidade, trabalhadores foram aderindo, do comércio, das administrações públicas...
Em meio ao clima de protestos que o país tem vivenciado, ver representantes de diversos seguimentos, classes e movimentos sociais, muitos deles rostos conhecidos de quem milita, de quem está nas ruas a bem mais tempo do que um princípio de inverno, misturados com outros, apenas ilustres desconhecidos, mas que se ocupam do papel de ocupar, de se ocupar com a culpa de quem não se contenta com o comodismo, da culpa do par, demonstra que ainda à margem para se pensar em unidade na militância civil brasileira.
Acostumados a reproduzir as opiniões que recebem mastigadas da grande mídia, sem dar chance para ouvir, olhar ou mesmo considerar o outro lado, muitos cidadãos, inclusive integrantes da camada de trabalhadores no Brasil, não consideram os trabalhadores cidadãos, não entendem organizações civis, como Sindicatos, fora do que entendem por partidos políticos, e não valorizam a liberdade de expressão e manifestação, o direito civil amplo e a responsabilidade civil de lutar por uma sociedade melhor. De fato muitos trabalhadores não se enxergam como tal. Não no que diz respeito a quantidade e a qualidade do exercício profissional, do trabalho, mas sim como classe social. Esse equívoco classista gera distorções de comportamento social que afastam muitos da coletividade da classe em que está na busca pela ascensão de classe apenas.
Noticiar apenas os números da passeata e compara-los com os demais números de outras mobilizações, colocando as falas já conhecidas dos dirigentes sindicais pontuadas, seria reproduzir o que a grande mídia faz, sem realmente destacar o que há de substancial na mobilização, seja pela demonstração de vida na sociedade civil organizada de Florianópolis, seja pela demonstração de unidade que as categorias deram. Reforçar o fato de que o problema do professor é problema do enfermeiro, que é problema do bancário, que é problema do funcionário público, que é problema do lixeiro, e assim por diante, é um ganho importante na construção da ideia de coletividade e cidadania plena no nosso país. Constatar a forma como a mídia aborda as mobilizações da classe trabalhadora em comparação com mobilizações mais difusas, oriundas de outros projetos de luta, que muitas vezes não confrontam o poder e a opressão do mundo moderno, também é um ganho no psicológico de muitos militantes.
Para a categoria bancária fica a lição, mais uma vez, de que sem luta, organização e unidade não se mantém, muito menos se conquista direitos. Nenhum dos nossos direitos civis são concessões do poder. Todos eles foram conquistados ao longo da história, na base da luta e ao custo de mortes e sofrimento de muitos cidadãos de bem. A categoria bancária é, ainda, uma das maiores e mais bem organizadas categorias de trabalhadores no país. A muito custo se construiu a estrutura e organização dos bancários e, se não nos apropriarmos das ruas e dos nossos direitos, eles serão expropriados, quinhão por quinhão, enquanto nos conformamos e ser apenas história, não realidade.
Texto e fotos - Osíris Duarte