segunda-feira, 31 de março de 2014

Entre culpas e culpados, culpei a culpa.


A culpa é sua sempre até que provem que sempre é sua culpa. O bode espia o falatório no curral. A culpa é da chuva não do varal. Viúvas do tempo verbal. A culpa é nossa até que provem que a culpa é vossa. Não importa se é Bossa, Samba, Rock ou Vanerão. A culpa é do cidadão não do Estado. A culpa é do viado, não do preconceito. A culpa é do respeito que não se faz respeitado. A culpa é do amor, não da dor. Inocente é o estuprador. Quem têm culpa para a flor não tem culpa para a primavera. Quem tem culpa para a fera não tem culpa para o caçador. Quem têm culpa, senhor? Desculpa, mas não, essa culpa não se diz. Tira a culpa do meu nariz e põe na de quem diz : culpa um pra não sobrar culpa para mim.

Osíris Duarte

quarta-feira, 26 de março de 2014

UFSC divulga nota de repúdio contra ação da polícia no Campus

Nota de repúdio

No dia 25 de março de 2014, a comunidade da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi vítima de uma ação violenta e desnecessária – comandada por delegados da Polícia Federal (PF) –, que feriu profundamente a autonomia universitária, os direitos humanos e qualquer protocolo que regulamenta as relações entre as instituições neste país.

A partir do momento em que fomos informadas, por terceiros, sobre a ação da PF, suspendemos a reunião – que estava em andamento com o comando de greve local dos técnicos-administrativos em educação – e, imediatamente, telefonamos para o superintendente da Polícia Federal em exercício, Paulo Cassiano Junior, para solicitar esclarecimentos sobre a ação que estava sendo realizada. Lembramos ao delegado que, em todos os contatos com a Polícia Federal, sempre foi solicitado que quaisquer ações de repressão violenta ao tráfico de drogas fossem realizadas fora das áreas da Universidade, e que – em nenhum momento – fomos informadas sobre a realização do procedimento que ocasionou o tumulto.

Segundo relatos que nos foram feitos por telefone, a imagem era de terror: antes mesmo de quaisquer conflitos existirem, já estava presente um grande efetivo – a tropa de choque, com armas de bala de borracha e cachorros –, pronto para o conflito; foi isso que encontraram os que foram até o local, inclusive representantes da Reitoria. Tentamos, incansavelmente, negociar com o superintendente em exercício. A intransigência era clara e foi percebida por todos os presentes.

Foram agredidos muitos estudantes, técnicos-administrativos e professores. Estavam presentes vários membros da Administração da Universidade. A Direção do Centro de Filosofia e Ciências Humanas acompanhou todos os momentos. O Diretor do CFH, Paulo Pinheiro Machado, foi agredido. Estavam presentes também o Chefe de Gabinete da Reitoria, Carlos Vieira, o Procurador Chefe, Cesar Azambuja e outros Secretários e Diretores da Administração Central. Toda a comunidade e autoridades universitárias foram profundamente desrespeitadas.

Já havíamos destacado, em vários momentos, que agir dessa forma dentro do campus poderia colocar em risco a vida das pessoas. As crianças saiam do Núcleo de Desenvolvimento (NDI) e entraram em pânico no momento em que as bombas de gás começaram a ser lançadas. O cenário rememorava os períodos vividos nos mais violentos regimes de exceção.

Enquanto os relatos chegavam ao Gabinete, estávamos em constante contato com a Secretaria de Relações Institucionais, com o Ministério da Justiça e a Secretaria de Direitos Humanos em Brasília, solicitando uma mediação desses órgãos para que não ocorresse um previsível desfecho violento.

Reafirmamos nosso total repúdio ao lamentável episódio vivido hoje pela Comunidade Universitária, reiterando que, em nenhum momento, solicitamos ou fomos previamente informadas dessa ação.

Para que tanta truculência, intransigência e obstinação em levar adiante uma situação que já se anunciava como tragédia, uma vez que outros caminhos mais lúcidos e racionais foram apresentados, os quais seriam dignos de uma autoridade de Estado?

Comprometemo-nos a tomar as medidas cabíveis para preservar a UFSC e defender todos os que foram vítimas desse ato de violência.

Florianópolis, 25 de março de 2014.

Roselane Neckel e Lúcia Helena Martins Pacheco

Cabelo


Tem cabelo que não tem cara de pelo, nem modelo nem formato. Tem cabelo que é nato, que é certeiro. E não fale do meu cabelo, se você não tem recheio na cobertura. Cabelo bom é cabelo que dura e não queima com o esforço do pensamento. Cabelos ao vento para quem é livre. Cabelos crespos para quem vive ao invés de morrer na frente do espelho. Cabelo farto, colorido eu despenteio, não ligo. Cabelo bom se mede pelo que faço, não pelo que digo. Para o seu desespero, sua inveja e seu pobre destino, cabelos negros eu tenho e são lindos! Cabelos na testa não vem primeiro, é o caráter que faz o penteado, farto ou rasteiro. E pra você, fascista embusteiro digo: Vai pentear macaco.

Osíris Duarte

segunda-feira, 24 de março de 2014

Tanta certeza


Ela não quer presteza. Essa certeza de ser mulher.... E enquanto eu ponho a mesa ela dança a beleza de fazer como quiser. Não quis meu bom dia, não demorou nessa tardia forma de amar. Ela quer o mar, o dar e a cerveja. Ela quer chocar a sociedade que malfazeja sua verdade, fazendo alarde enquanto dorme só. Essa certeza de ser mulher é como brigadeiro de colher. Deleite-se, se puder, seja, se vier, maior que as cólicas, menor que as sólidas entranhas das manhas de quem, se quer, começou a entender sobre amor, liberdade e Baudelaire.

Osíris Duarte

Impassível


Sempre é possível, para quem é impassível, justificar o impossível, o indigerível, com perfumaria incrível, filosofia imbatível e hipocrisia irresistível. Indivisível é quando esquecem de ver o invisível, coisa de insensível, viver na ilusão plausível da negligência do virtuosismo em detrimento do aprazível gozo da própria incoerência. Ai, o outro se torna desprezível na sua busca por existência. Indivíduo que se apaga em meio a desistência dos outros "eus". Não creio mais em resistência do sensível, só na resiliência do que ainda é crível dentro de mim. 

Osíris Duarte

quinta-feira, 20 de março de 2014

Outono


Frágeis como folhas ao vento, secas que caem no chão, meus pensamentos voam a tempo de minguar, dormir, florescer e brilhar, seguindo o ritmo de cada estação. Hoje reside outono onde já morou verão. E antes do sono do inverno, faço um afago terno nas ramas secas da atribulação, na expectativa de que o que quero virá no fim do inverno, uma primavera cheia de flores, odores e ressurreição.

Osíris Duarte  20.03.14

terça-feira, 11 de março de 2014

A moça dança



Naquela tez de brilho largo, preta tez de quem tem valor, corriam as mãos e os pensamentos meus sem dor ou pudor. A moça dança, não cansa e não deixa de lado essa alegria matava qualquer desvio magro de pensamentos gordos. Eu fiquei preso naquele rebolado, embasbacado com certas manias de moças belas. A moça dança na rua, nas curvas e vielas, e eu danço com ela, na curvas... Tinha um quê de sedução, ainda que pese minha tensão estremecida, eram leves aquelas viradas, guinadas, chegadas e partidas, verves contidas nos passos dela. A moça dança bela e, quem dera, ela dançasse comigo sem que eu dance. São coisas que dão sentido ao sentir, quase um transe. Dançar é subir com o espírito leve, cheio do que serve pro bem querer. Por isso dance pra sempre, ventre incessante, vento presente... São lindas aquelas que vivem de som, de ser e de sonho aos olhos meus.

Osíris Duarte

segunda-feira, 10 de março de 2014

Elas sem ponto nem vírgula

Seja princesa bruxa donzela Do que elas são capazes ases que curam sequelas Vielas e ruelas são passarelas embaixo do sapato de qualquer uma delas Quiseras momento discernimento para não atravessar as eras com elas modelas as partes do corpo um porto seguro nas coxas no busto que custo viver sem elas Não gosto de datas não conto com atas vírgulas ou pontos pra registrar importância relevância e indispensável presença até das megeras Todo dia paciência trabalho resiliência num mundo em que pede penitência mesmo na sua inocência Meninas ou moças as ouça se ainda tens razão e experiência Não gosto de datas são repletas de nadas quando o dia é todo dia mania carência eloquência alegria delas Mina ou dama desencana tpm cama chocolate romance não canse dance com ela fina trama fina ela acompanha se for capaz rapaz No mais sou incapaz de viver sem elas e aqui jaz um culpado deveras na conspiração que tramam a luz de velas por um mundo menos deles e mais delas

Osíris Duarte