quinta-feira, 5 de junho de 2014
Crônicas de gaveta - Contos de fadas
Ele gostava de contar estórias. Puxava a memória e usava a neta mais dileta de plateia exorta. Começava assim: Num lençol de cetim, dormia um sono sem fim uma linda princesa. Sem a certeza de que teria a presteza de um príncipe enfim, conservava a beleza na profundeza dos sonhos que lhe davam um fim. A espera, era, com certeza, a maior delicadeza que o mundo lhe permitia. Viver enquanto dormia se tornou algo possível. A fila de príncipes, candidatos ao amor de sua alteza, era invisível a moça da realeza, que via em seu sono de beleza o mundo a lhe rondar, sem poder lhe dizer: estou aqui! É porque a princesa, muito esperta e cheia de firmeza, em meio aos seus desejos, decisões e certezas, sabia e levava com altiveza o critério do coração que decidia quem por à mesa e festejar a malfazeja sina de quem se destina a não partilhar o pão, a mão e a leveza da emoção de amar. Então, decidiu viver seu mundo de sonhar... Acreditava que não há príncipe que valha a incerteza de não poder se amar, de não poder partilhar sem que haja cobrança, sem que houvesse intemperança, com um peso maior do que o desafio de se encontrar, de encontrar... No fim, a princesa, que tinha doce semblante, mas que já não acreditava em romance quando lhe exigia abrir mão de sonhar, deixou-se dormitar eternamente. Então, viveu até o infinito conservando sempre rente aos caminhos latentes, um ser humano que não abre mão de sonhar.
Mas vovô?! Tadinha da princesa... Acabou sozinha, mas que malvadeza! Minha netinha, disse o senhor com tom de clareza, a vida ainda lhe trará uma surpresa! Sozinhos vivem aqueles que acham que tem certeza que se bastam, que esquecem de sonhar e acham que acordar pra viver se trata de corresponder a própria noção ilusória da vida fácil, de modelo, de paixão... Te dizendo de um jeito bem mais simples, não precisa de um monte de gente na sua volta não... Pra não se sentir só precisamos sim de pessoas simples, leais e amáveis... Mas sabe que mais do que isso, precisamos sonhar sonhos afáveis, acreditar que somos domesticáveis quando se trata de amor e amar, dormir, acordar...
Opa, dormiu, boa noite meu amor...
Osíris Duarte
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