sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

E ainda dizem que a ditadura acabou...


  Fico impressionado com a agilidade da polícia quando se trata de prender militantes sociais. Rapidamente se fazem escutas telefônicas e se efetuam prisões arbitrárias e sem base legal. Mesmo sendo de conhecimento público quem é o traficante do bairro, ou o ladrão da região, ou mesmo quando se há provas cabais de corrupção, como filmagens de recebimento de propina, a rapidez e eficiência da polícia, nesses casos, se compara a uma lesma em uma parede oblíqua. Fico perplexo porque ainda há aqueles que acreditam que vivemos realmente em um Estado de Direito, onde há democracia e liberdade. Não vivi a ditadura dos anos 60 e 70, no século passado, mas vivo hoje a ditadura do século XXI. Aquela que é tão repressora e autoritária quanto a que se foi, mas com o agravo da máscara da democracia.

  Na noite de quinta-feira e na madrugada se sexta, três integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra de Santa Catarina (MST), foram presos durante uma reunião com representantes comunitários do município de Imbituba, sul do estado. A reunião era com catadores de material reciclável da região e representantes de Associações Comunitárias, e tinha como objetivo estruturar uma cooperativa de catadores no município. O MST, com larga história de organização de cooperativas, contribuía com a comunidade na estruturação do trabalho cooperado desses catadores. Foi ai que a Policia Militar chegou, leu o decreto de prisão preventiva e levou sob custódia o coordenador estadual do MST em Santa Catarina, Altair Lavratti. Na madrugada de sexta, outros dois colaboradores do MST no estado, Marlene Borges, presidente da Associação Comunitária Rural do município, e Rui Fernando da Silva Júnior, líder comunitário, foram presos em suas residências sob a acusação de envolvimento com um grupo suspeito de planejar invasões em áreas públicas. Marlene está grávida de três meses, uma gravidez de risco. A alegação da PM e do poder judiciário é de que o movimento estava comprando o apoio de populares e articulando para invadir uma área doada pela União ao Governo do Estado, as margens da BR-101 do município catarinense. Segundo a polícia, escutas telefônicas davam conta da articulação de tal ação.

  O que a grande e imprensa não dá conta de explicar, assim como em casos de corrupção, onde as informações saem nos jornais antes mesmo da investigação e do julgamento serem concluídos, é como a PM tem a prerrogativa de efetuar tais prisões, que no caso caberia a Polícia Civil, e como se pode prender alguém sem cometer crime algum?! Sim, porque por mais que houvesse alguma articulação do MST para ocupação de área pública, tal ação nunca foi realizada, o que não configura crime. O direito de se organizar e de se reunir está amparado na constituição, é um direito de qualquer cidadão. Freqüentemente os ataques a movimentos legítimos, de conhecimento público e que visão a garantia de direitos do povo são combatidos com mais ardor, paixão e razão do que qualquer crime de corrupção, latrocínio, roubo ou estelionato. Se a polícia atuasse com tanto propriedade como no caso do MST, onde para prender três pessoas desarmadas e pacíficas foram usados mais 30 policiais do já tão insuficiente efetivo do estado, talvez vivêssemos em um estado mais seguro, em um país mais justo.

 Na tarde dessa sexta-feira, membros de mais de 30 entidades sindicais e sociais do estado, além de estudantes, simpatizantes do MST, imprensa e políticos, estiveram no auditório do Sindicato dos Bancários de Florianópolis para repudiar a ação da PM a serviço das elites, das prisões políticas e da cobertura no mínimo anti-jornalística da RBS, empresa de comunicação privilegiada na pauta. Inclusive com a presença de repórteres da empresa, a direção estadual do MST deu sua versão do caso. Obviamente o furo de reportagem já havia sido dado, sem ouvir antes, é claro, o movimento. Convenientemente marcaram presença na reunião, para arrotar a conduta “jornalística” de quem bateu primeiro para depois ouvir a versão do agredido.

  Nessa reunião forma levantados fatos ainda não bem explicados a respeito da forma como a policia atuou no caso e sobre as informações divulgadas pela imprensa. Lavratti foi preso às 21 horas de quinta, não teve direito a um telefonema, foi transferido para o presídio de tubarão e só se teve notícias dele na manhã de sexta, por volta da 6 horas da manhã, depois que uma comitiva com o advogado do Movimento e representantes de entidades de classe foi para região tentar localizá-lo. Até esse momento as notícias sobre o estado dele e dos demais companheiros só corria pela RBS. Sem direito de ampla defesa, já que não pode fazer uma ligação para avisar a família e chamar um advogado, sendo transferido na madrugada para fora do município onde foi expedido o mandado de prisão preventiva, o dirigente do MST foi submetido a uma situação que lembra muito os tempos da ditadura “aberta”, quando todos sabiam como a banda tocava. A situação me fez lembrar das prisões de cunho político nas décadas de 60 e 70, quando o sujeito era preso sem nenhuma explicação plausível e depois sumia para aparecer morto ou não aparecer mais. Mesmo no Fórum de Imbituba, local onde se deveria cuidar da justiça, as informações eram sonegadas. Representantes do MST do estado tentaram obter informações sobre o paradeiro de Lavratti ou sobre o processo e ouviam desculpas enroladas, do tipo: quem sabe não chegou, ou não está! Outro fato estranho foi a tal compra de apoio de populares para ocupação. Segundo a coordenação do MST não houve compra de apoio. Lucindo Bravanel, da direção estadual do movimento reivindicou a prova de que houve pagamento para pessoas da comunidade para participar da ocupação: “Um movimento de pessoas pobres pagando 2 mil Reais por família para realizar ocupação é um absurdo! Essa é uma informação difamatória e a policia terá de provar tal acusação”. O que não falta são mentiras, principalmente na mídia, essa fala é minha e afirmo com conhecimento de causa.


 Meus caros, muito se houve a respeito do MST na mídia. Que são vagabundos, baderneiros, vândalos... Mas pense você, pessoa inteligente, tudo o que ouvimos por ai serve como verdade? Porque as coisas que saem na Globo, RBS, SBT, Record e demais veículos de imprensa sustentados por grupos de interesses políticos e econômicos, grandes empresas que fomentam a ignorância BBBniana, fazendista e “jornalisticamente inrreprencívies”, porque mostram sujeitos articulados de terno falando no palco televisivo, cheio de tvs de plasma no fundo é com dinheiro a rodo pra fazer o que quiser, são consideradas verdades incontestáveis? Porque o Bonner é bonitão? Porque a RBS tem helicóptero? Eu sou jornalista e sei o quanto isso não significa nada em relação ao caráter dos profissionais. Na faculdade não tem cadeira para ensinar isso. Mas no mercado de trabalho tem. Uma disciplina chamada submissão para sobrevivência. Ou vocês acham que são os jornalistas que pautam e que ditam a linha do discurso editorial? São as empresas meus caros. E como empresas tem interesses empresariais e políticos, não populares. Aliás, o povo só atrapalha as políticas e interesses de tais empresas. Antes de fazer seu juízo de valor, formar sua opinião, seja sensato e não se apóie apenas no que ouve na tv, rádio ou lê no jornal. Eu descobri isso indo atrás, saindo às ruas, vendo eu mesmo as situações. Como jornalista sindical que estou hoje, muitos podem achar tendenciosa minha opinião. Pois digo que ela é sim parcial. Não existe jornalismo sem uma formação política, ideológica e filosófica. A grande mentira do jornalismo são as máscaras da pluraridade e imparcialidade. Informações não significam nada, pois elas podem ser usadas ao bel prazer de quem as divulga, seja para falar a verdade ou para contar uma mentira. É como essa história de estatística. Os caras pegam um dado tipo: De 2001 à 2009 cresceu 80% a divida do estado – só um exemplo ta gente. Ai a gente diz: Nossa! Que absurdo! Mas os oito anos no meio dessas datas guardam razões e fatos que às vezes não representam a dimensão do número. Assim é a informação gente. Sem conhecimento e sem sabedoria ela não significa nada. Pode ser distorcida para o lado que convém. Basta contar a história direitinho que sempre haverá um número, um sinônimo, um conceito e uma descoberta da ciência para justificar até mesmo o que há de pior nesse mundo.

Quanto à ação da polícia e do judiciário nada de novo no Reino da Dinamarca ou, se preferir, na República das Bananas. O braço armado a serviço do Estado e o poder de quem determina o que é justo sempre atuou e continuará atuando de forma autoritária e a serviço de quem detém o poder, e não são necessáriamente aqueles que acupam cargos de governo. Por mais que gostaríamos de uma polícia e de uma justiça a serviço do cidadão, do povo, isso não vai acontecer. A melhor forma de reprimir ainda continua sendo através do medo, e é assim que se faz conosco todos os dias. Eles dizem: fique na sua que nada vai te acontecer. Não se organize, não reivindique, não cobre, fique na sua que, talvez, sobre alguma migalha pra ti no final. E então nos amedrontamos ou pior, nos conformamos. E no final, ainda nos achamos livres...

Para entender: Que área é essa?

  A área em questão que serviu de palco para a ação da polícia, mesmo sem nada ter acontecido nela, foi doada pela União ao governo de Santa Catarina. Sem um uso definido para o local, um projeto de Lei foi aprovado da Assembléia Legislativa doando a área para o município de Imbituba. O Plano: Construir ali um condomínio empresarial as margens da 101 que, até lá, estaria duplicada. Esse é um dos pontos obscuros no esquema, já que tal medida é inconstitucional, pois, sendo doada pela União e não utilizada pelo beneficiado, no caso o estado de Santa Catarina, a área deveria ser devolvida a União, não podendo ser doada ao município. Na época o governador vetou o projeto que, ao retornar a ALESC, teve o veto derrubado.

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Polícia catarinense prende líderes do MST em “ação preventiva”




Por Elaine Tavares - Jornalista

Um dos coordenadores estaduais do MST em Santa Catarina, Altair Lavratti, foi preso na noite desta quinta-feira em Imbituba numa ação que lembra os piores momentos de um estado de exceção. Com uma força de mais de 30 policiais militares, a prisão foi efetuada no momento em que ele realizava uma reunião pública, num galpão de reciclagem de lixo da cidade. A acusação é de que Lavratti, junto com outros sindicalistas e militantes sociais preparava uma ocupação de terras na região. Foi levado sob a alegação de “formação de quadrilha”.

Segundo informações divulgadas no jornal Diário Catarinense, que estava “magicamente” no ato da prisão ao lado da polícia, os integrantes do MST estavam sendo monitorados desde novembro depois que um integrante do Conselho de Segurança Comunitária de Imbituba passou informações sobre a organização de uma suposta ocupação em terras do estado. Outras duas pessoas também foram presas, sendo que uma delas, Marlene Borges, presidente da Associação Comunitária Rural, está grávida. Ela teve a casa cercada na madrugada de sexta-feira e foi levada para Criciúma. Outro militante, Rui Fernando da Silva Junior, foi levado para a cidade de Laguna.

Integrantes do MST, advogados e um deputado estadual estiveram procurando por Lavratti durante a noite toda, mas não haviam conseguido contato até a manhã de sexta-feira, quando souberam que de Imbituba ele havia sido levado para Tubarão.

Ainda segundo informações da polícia, o juiz Fernando Seara Hinckel autorizou gravações telefônicas e determinou a intervenção do Ministério Público. Também teria havido a participação de P-2 (policiais a paisana, disfarçados) infiltrados nas reuniões dos militantes sociais da região de Imbituba.

Usando de um artifício já usado contra o Movimento dos Atingidos das Barragens, que foi o de prender “preventivamente” integrantes do movimento alegando “suspeita de invasão”, o poder repressivo de Santa Catarina repete a dose agora contra o MST. Para a polícia e para o poder público, reuniões que envolvam sindicalistas e lutadores sociais passam a ser “suspeitas” e sendo assim, passíveis de serem interrompidas com prisão. Só para lembrar, este é um tipo de ação agora muito usado nos Estados Unidos, depois de 11 de setembro, quando o presidente George Bush acabou com todas as garantias individuais dos cidadãos. Lá, e agora também aqui, o estado pode considerar suspeita qualquer tipo de reunião que envolva movimentos sociais. Conversar e organizar a luta por uma vida melhor passa a ser coisa de “bandido”.

A acusação de formação de quadrilha não encontra respaldo uma vez que é pública e notória a preocupação do MST com a situação das famílias daquela região, que vem sistematicamente tendo que abandonar a zona rural em função da falta de apoio à agricultura familiar, enquanto o agronegócio recebe generosa ajuda governamental. A reunião na qual estava Lavratti justamente discutia esta situação e levava a solidariedade do movimento às famílias que seguem sendo despejadas de suas terras, ações que fazem parte do cotidiano do MST. A ação do governo se deve ao fato de em Imbituba ter sido criada uma Zona de Processamento e Exportações que tem engolido fatias consideráveis de dinheiro público sendo, portanto, considerada estratégica para os empresários da região.

Para o MST, as prisões foram descabidas, e só reflete a forma autoritária como o governo de Santa Catarina tem conduzido a relação com os movimentos sociais, criminalizando as tentativas dos catarinenses de realizar a luta por uma vida digna. Já para dar respostas aos atingidos pelo desastre em Blumenau, ou aos desabrigados pelas chuvas que tem caído torrencialmente este ano em Santa Catarina, não há a mesma agilidade estatal. Como bem já analisava o sociólogo Manoel Bomfim, no início do século vinte, ao refletir sobre a formação do estado brasileiro: “desde o princípio o Estado foi um aparelho de espoliação e tirania, feroz na opressão, implacável na extorsão. É um parasita”. Sempre aliado aos donos do poder e da riqueza, o Estado abandona as gentes e só existe para o mal do povo. É por conta disso, que, conforme Bomfim, “a revolta contra as autoridades públicas é o processo normal de reclamar justiça” já que as populações são sistematicamente abandonadas pelo Estado e pela Justiça enquanto a minoria predadora dos ricos e poderosos tem seus interesses defendidos, inclusive com o uso do dinheiro e do patrimônio que é de todos.

Como exemplo disso, basta trazer à memória o escândalo da Moeda Verde, quando ricos empresários locais fraudaram laudos ambientais para a construção de grandes empreendimentos na cidade de Florianópolis. Presos sob a luz dos holofotes, não ficaram um dia sequer na cadeia e o governador do Estado segue frequentando suas festas e dizendo ao país inteiro, através da televisão, que os empreendimentos construídos a partir da fraude são os mais bonitos da cidade e necessitam ser conhecidos e consumidos. Outro caso emblemático e atual, que não recebe a mão pesada do poder público, é o que envolve o vice-governador Leonel Pavan, enredado em escândalo de corrupção, e que também muito pouco interesse provoca na mídia. Não precisa ir muito longe para observar que Manoel Bomfim está coberto de razão: “os estadistas devem inquirir das condições sociais, indagar se as populações se sentem mais felizes e as causas dos males que ainda as atormentam, para combatê-las eficazmente”. Mas, em vez disso, lutadores do povo são presos e os direitos coletivos se perdem diante do interesse privado de uma minoria.
Por Elaine Tavares - jornalista
Publicado nos Blogs: palavrasinsurgentes (http://eteia.blogspot.com) e pabresenojentas.blogspot.com

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Casarini na Estrada! Eu recomendo

 E ai minha gente! Olha só, meu colega, amigo e irmão de caminhada, Ricardo Casarini, jornalista e repórter fotográfico, lançou essa semana seu blog - casarininaestrada.blogspot.com. Lá vocês podem acompanhar o trabalho fotográfico e jornalístico desse profissional que hoje, se lança como trabalhador independente da contação de histórias verídicas. Pra quem já conhece a peça não há muito mais o que falar né. Para quem não conhece vale a pena conhecer o trabalho do Ricardo, ser humano auto-existente de qualidade, fotógrafo de talento e uma figura! Dá uma olhada lá meu povo, casarininaestrada.blogspot.com, eu recomendo!



  
Tem o link aqui também:
 palavraodoosi.blogspot.com

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Chomsky e as estratégias de manipulação

Recebi do Colega Rubinho esse texto e achei interessante publicá-lo para conhecimento. Cotidianamente reconheço tais estratégias utilizadas pelos "donos do poder" e, não tenham dúvida, que todos eles conhecem e aplicam cada ponto abaixo com propriedade e comhecimento de causa. Para quem ainda duvida, basta ficar mais atento.

O lingüista estadunidense Noam Chomsky, que se define politicamente como “companheiro de viagem” da tradição anarquista, é considerado um dos maiores intelectuais da atualidade. Entre outros estudos, ele elaborou excelentes  livros e textos sobre o papel dos meios de comunicação no sistema capitalista. É dele a clássica frase de que “a propaganda representa para a democracia aquilo que o cassetete significa para o estado totalitário”. No didático artigo abaixo, Chomsky lista as “10 estratégias de manipulação” das elites. Vale a penar ler e reler:



 1- A estratégica da distração.

 O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes.

 A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

 2- Crias problemas, depois oferecer soluções.

 Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

 3- A estratégia da degradação.

 Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, é suficiente aplicar progressivamente, em “degradado”, sobre uma duração de 10 anos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas têm sido impostas durante os anos de 1980 a 1990. Desemprego em massa, precariedade, flexibilidade, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haviam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de forma brusca.

 4- A estratégica do deferido.

 Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública no momento para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, por que o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, por que o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

 5- Dirigir-se ao público como crianças de baixa idade.

 A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por que? “Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, uma resposta ou reação também desprovida de um sentido critico como a de uma pessoa de 12 anos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

 6- Utilizar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão.

 Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…

 7- Manter o público na ignorância e na mediocridade.

 Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada as classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre o possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossíveis para o alcance das classes inferiores (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

 8- Promover ao público a ser complacente na mediocridade.

 Promover ao público a achar “cool” pelo fato de ser estúpido, vulgar e inculto…

 9- Reforçar a revolta pela culpabilidade.

 Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E sem ação, não há revolução!

 10- Conhecer melhor os indivíduos do que eles mesmos se conhecem.

 No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o individuo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Casas, valores e crises




  Lá perto de casa sempre há um som de passarinhos a cantar. São tardes de sol depois da chuva com a trilha sonora da natureza. Essas coisas me fazem recordar o fato de estar vivo e de comungar com a humanidade. Sabe... Na maioria das vezes isso é difícil. Lembrar que vivemos juntos no mesmo “barco”.

  Uma coisa é uma coisa, outra coisa é a mesma coisa! Assim caminha a humanidade. Egoísta. Nesses tempos de pouco envolvimento e muito relento, assanhamento e povo sarnento, me pergunto: O que faço aqui mesmo? Me agüento?

  Há algumas semanas estou em crise. Normal. Esse fato é periódico, não é só o capitalismo que as enfrenta de tempo em tempos. Elas, as crises, relembram-me o fato de que existo, mesmo sem saber por quê. Bastaram alguns anos de mercado de trabalho, militância social e vivência espiritual para chegar à conclusão de que não há muito para se concluir, pelo menos na atual conjuntura humana. Minhas conclusões ficam cada vez mais astrais...  

 Vejo cada vez mais as mentiras de sempre. Basta sair às ruas, ouvir dois ou três transeuntes para descobrir que fomos enganados até então. E não me refiro tão somente ao contexto do sistema, mas principalmente ao universo moral e de valores que é fomentado por aqueles que se dizem donos da verdade e do conhecimento.

  Valores... Não é quanto se tem na conta do banco não. Apesar de muita gente achar que sim.  Minhas crises fomentam ou reforçam meus valores. Mas eles, os valores, podem ser modificados, podem evoluir. Se há algo nessa vida a se buscar, são valores elevados que, independente das justificativas para não adotá-los, permanecem firmes nos anseios pessoais, nos desejos carnais e no inconsciente coletivo. Amor, solidariedade, fraternidade e respeito são coisas indissociáveis e indestrutíveis quando são alcançadas de verdade.

  Lá em casa sempre tem um passarinho a cantar. E eu canto junto, um conto em forma de canção, um sonho que se materializa, a leveza da brisa que afaga meu rosto, a certeza da vida que soa como pássaro. Minha casa me carrega para onde quer que eu vá.

Osíris Duarte   14.01.2010

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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Preciso lutar com afeto para existir

  Sempre luto por aquilo que quero na vida. E, em meio a essas batalhas, descobri que a luta não se faz apenas no físico, mas sim no psicológico e no espiritual. Nossa mente é um campo de batalha mais acirrado do que os frontes de guerra no mundo humano. Nela, travamos lutas homéricas diariamente e sofremos derrotas e vitórias no tempo de um piscar de olhos. Lutar é preciso para descobrir como é batalhar verdadeiramente. Lutar é viver querendo viver e, mesmo quando nada parece no lugar, temos um sentimento de felicidade e satisfação, porque descobrimos que temos a força para vencer, mesmo quando perdemos.

  Talvez eu esteja errado, ou sendo por demais pretensioso, mas percebo que muitos dos problemas existenciais que cultivamos estão no conformismo de luta. Achar que lutar é a penas trabalhar ou estudar, acumular ou ter sucesso e status é se entregar a um conceito simplista do entendimento do compromisso de existir. Pessoas com todos os privilégios possíveis desse mundo não conseguem enxergar o mérito de lutar como um compromisso perante aquilo que acham que acreditam. Digo acham porque muita gente não sabe mesmo o que quer. Mas descobrir o que realmente queremos também é um compromisso de luta. Devemos nos propor a tanto. Experimentar e vivenciar a multiplicidade do que compõe o Ser Humano é se propor a assumir a vida como ela se apresenta, ajudando a construí-la de acordo com a vibração que se emana para o mundo. O compromisso de busca, com serenidade e fé, é algo fundamental para dar sentido as nossas vidas.

  Fé é crença são coisas distintas e cada uma desempenha seu papel na vida. Acreditar precisa de um amparo racional. Seja ele ideológico, cultural, histórico ou filosófico. Mas a fé não se ampara em tais argumentos, ela é a crença amparada pelo sentimento e pelo espírito. Esse sentir, por mais que a psicologia tente explicar através das relações químicas da psique e pelas patologias desenvolvidas pela vida moderna, reside em uma realidade que transcende nossa capacidade de explicação racional. A razão absoluta não se ampara apenas no conhecimento, mas sim no equilíbrio entre as várias nuances que compõe nosso ser. Por isso que aquilo que fazemos com fé, por mais cego que alguns possam argumentar que seja, é o que realmente move montanhas na nossa vida.

  Não sou um sujeito religioso. Nunca fui. Transitei por várias doutrinas, filosofias e crenças até ter certeza que não precisava disso para estabelecer meu contato com o divino, com meu eu espiritual. Assim como não é necessária religião para ter essa resolução, não é necessário nenhum amparo racionalista para se ter fé. Não acho que devemos desconsiderar o papel da religião na vida humana, mas vejo que ela é só um meio, mais um caminho para descobrir o quanto precisamos de Deus para viver e atingir nosso objetivo nessa vida. Alguns podem chamar Deus de muleta, uma fuga da realidade para se sentir mais feliz. Pra mim é contraditória tal visão, porque, afinal, quem não quer ser feliz? Aquele que se conforma com o sofrimento padece da covardia humana perante a grandeza da existência. Às vezes sinto que falta humildade para reconhecer que precisamos da ajuda dos outros e, consequentemente, da divindade que congrega a existência individual e coletiva.

  Os que são por demais materialistas dizem: isso é alienante, apenas uma desculpa para se eximir das responsabilidades sobre os problemas do mundo. Penso que alimentamos os problemas quando exacerbamos sua relevância em detrimento da felicidade. Aprendi que não é necessário sofrer para cumprir nosso papel, ou pelo menos o que nos colocamos como sendo nosso papel. Pelo contrário, estar bem e feliz aperfeiçoa nossas ações, melhora nosso discernimento e beneficia todos a nossa volta.

  No Nordeste – minha região de origem – me deparei com muitos exemplos de sabedoria, coisa que não se adquire apenas a través do acúmulo de conhecimento ou informações. Sabedoria se adquire principalmente através do viver a vida feliz. Felicidade, assim como a tristeza, é efêmera, passa, mas a plenitude de ser feliz está justamente nessa consciência, a da impermanência dessa vida. Viver assim nos permite enxergar nosso universo de sentidos de cima, vivendo feliz mesmo triste, sabendo que aqui e agora temos mais uma oportunidade de crescer e aprender. Pobre daquele que acha que viveu tudo e aprendeu tudo... Lá na Paraíba vi gente analfabeta e pobre com mais sabedoria que muitos catedráticos da UFSC! Lá vi gente com valores empíricos, sem a contaminação do conhecimento humano - arrogante e autoritário. Lá vi sorrisos tão sinceros e atitudes de humildade e solidariedade que NUNCA vi na academia. Em meio a tantos apelos conheci gente que escuta e aceita o que lhe dizem, mesmo não concordando com o que ouviu. Lá vi uma educação baseada no afeto e vi a disposição das pessoas em interagir, se aproximar e demonstrar carinho e apreço até por desconhecidos.  Não que todos lá sejam assim, mas o povão de lá, esse sim é sábio.

  Afirmo novamente, assim como já afirmei em outro texto nesse blog, que conhecimento teórico não determina caráter nem sabedoria. A prática carrega em si algo que considero mais relevante, a disponibilidade de dar, a generosidade, seja ela em benefício próprio ou do próximo. Afinal o que veio primeiro, a teoria ou prática? Não foi tentando que descobrimos como se faz? Como são as coisas? Não foi buscando que formamos opinião? Não foi vivendo que chegamos às conclusões que temos? Não foi com exemplos que adquirimos experiência? O conhecimento teórico é importante sim, mas por si só não diz nada. Ele é algo que outra pessoa considerou através da própria caminhada, pode nos dar uma idéia, mas não é absoluto. A atitude, mesmo que a princípio seja sem ter base em um argumento plausível para todos, carrega em si os condicionantes íntimos da atuação individual perante o mundo e, portanto, tem dentro dela a necessidade psicológica, intelectual ou espiritual de cada um de nós. Assim, ela se torna a principal força de movimento, que repercute no íntimo e no todo, mudando as coisas, seja para o bem ou para o mal. Isso é a condição da constante busca de equilíbrio do universo, isso é manter a sinergia, o movimento. Essa mania de achar que o que achamos é melhor para todos é a velha pretensão intransigente da humanidade. Cada um de nós tem um universo particular a desvendar-se, e se somos solidários respeitamos a caminhada de cada um. Viver em sociedade de forma plena, pra mim, passa por isso, pela consciência de que liberdade não combina com imposição ou autoritarismo, mesmo que disfarçada de sabedoria.

  Essa é uma reflexão pessoal. É a minha régua, como faço minha medida do mundo e da vida. Ela me serve, me faz querer ser, mas talvez não sirva para você. E é isso que faz com que viver não se traduza no conflito, pois a diversidade é uma condição evolutiva, viver é a ação consensual sem submissão, seja ela intelectual, afetiva ou espiritual. Não me considero sábio. Mas a sabedoria é sim um objetivo. Não me bastam só os livros ou a história humana, eu preciso de mais, eu preciso da vida na sua amplitude total. É por isso que luto e me proponho a viver na plenitude da diversidade, considerando a infinidade de pontos a serem desvelados. É por isso que tenho fé em Deus, não apenas acredito. É por isso que considero meu coração e minha intuição antes do que diz minha mente, já que ela é tão sujeita as mudanças promovidas pelas batalhas do viver. É que simplesmente preciso existir.

Osíris Duarte 05/01/10  

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