quinta-feira, 27 de maio de 2010

Resquícios Ditatoriais


Na sexta-feira, dia 21 de maio, a Polícia Militar em Florianópolis, durante manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus na Capital, que reuniu mais de 4 mil pessoas, chegou ao extremo de algemar e deter um jornalista e outros 4 estudantes sob a alegação de desacato a autoridade. Um repórter do Diário Catarinense foi preso por ter se manifestado no momento em que outro policial tentava impedir o repórter-fotográfico que o acompanhava de realizar suas fotos. A prisão de cidadãos, seja no exercício de sua profissão ou no direito constituído de livre manifestação, retrata a forma como o estado lida com a insatisfação popular perante a exploração e humilhação diárias a que são submetidos. Tão repressora é a conduta da PM e do Governo Municipal que nem mesmo a RBS escapou de sofrer a reprimenda de um estado autoritário, que não perdoa nem mesmo os aliados quando se trata de manter o um status quo de parcimônia diante da opressão do cidadão comum, povo.

  Na semana seguinte ao inscidente, o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina divulgou nota de repúdio ao comportamento da PM. Na nota o Sindicato diz que a atitude da polícia acabou “Reproduzindo momentos da nossa história que acreditávamos banidos para sempre, a PM de Santa Catarina tem protagonizado cenas de desrespeito ao direito dos cidadãos.” O SJSC lembra ainda que “é bom que a comunidade saiba que esta polícia que age de forma truculenta é paga com os impostos arrecadados de toda a sociedade. Logo, deveria protegê-la, em lugar de reprimir e impedir a circulação da informação”.   


  O fato principal que deveria chamar mais atenção não foi à prisão do jornalista no exercício da profissão. Apesar de isso saltar aos olhos da maioria pelo peso da imprensa, a atenção não deveria ser desviada apenas para a truculência com o repórter, mas principalmente para com os cidadãos, sem distinção de profissão, raça, credo ou orientação político-ideológica. Lembrando que além do jornalista da RBS, outros 4 estudantes foram presos na manifestação do dia 21, sob a mesma alegação de desacato. Desde o início dos protestos, cerca de 10 manifestantes, entre trabalhadores e estudantes, foram detidos pela PM sob a alegação de desacato. Fica no ar a pergunta: O que é desacato à autoridade? Fica a critério do policial decidir se foi desacatado ou não?  E o desacato ao cidadão? Fica sem punição?


  Mais recentemente o Promotor de Justiça do Ministério Público Estadual, Alexandre Herculano Abreu, recomendou que as manifestações contra o aumento da tarifa na Capital fossem reprimidas com veemência, endossando assim a postura autoritária e inconstitucional da Polícia Militar e do governo municipal, além de ir contra às atribuições do próprio MP. A recomendação do Promotor de Justiça gerou uma reação esperada em quem exerce seu direito constitucional de manifestar-se na luta pela garantia dos direitos dos cidadãos de Florianópolis e do Brasil. Em nota de repúdio, as entidades sindicais de Florianópolis e Região manifestaram sua indignação perante o desrespeito de um magistrado ao artigo 5º, inciso IV, da Constituição Federal, bem como na Declaração dos Direitos Humanos da ONU, que resguardam o direito de liberdade de expressão. Na nota, as entidades sindicais ressaltam que “o transporte público é garantia constitucional (art. 7º, inciso IV da Constituição Federal)” e a não garantia de condições acessíveis e de qualidade em todas as variantes do serviço acaba por cercear o direito de ir e vir, assegurado pela mesma Constituição.


  O direito previsto na constituição de livre manifestação e liberdade de expressão devem ser exercidos em sua plenitude para que tenhamos uma sociedade realmente livre e justa. A Polícia Militar, além de não estar preparada no seu aparato, também padece de um mau chamado ignorância, não só quanto a determinados indivíduos dentro da corporação como na própria estrutura ideológica de formação dos mesmos. Ao mesmo tempo, o Ministério Público e o Governo Municipal demonstram o mesmo despreparo e desinteresse pelo cidadão que a PM apresenta, mas os níveis em que se dá esse despreparo são muito mais preocupantes, já que cabe aos mesmos a gestão dos bens comuns e a fiscalização do cumprimento da lei em consonância com os direitos constitucionais. Tais situações de injustiça e distorção das leis que regem nossa sociedade em detrimento de interesses particulares somente aumentam a desconfiança e a revolta da população em relação as instituições públicas de gestão, colaborando assim para aumentar o clima de desamparo e o abismo social em nossa vida coletiva. 

Osíris Duarte - Jornalista


Leia a nota do SJSC abaixo 


segunda-feira, 24 de maio de 2010

Repúdio à Polícia Militar

O Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina vem a público repudiar a ação da Polícia Militar catarinense que, não satisfeita em reprimir de maneira violenta os protestos pacíficos da população de Florianópolis contra o aumento das tarifas de ônibus – enfrentando inclusive crianças – agora decidiu impedir os profissionais da comunicação de fazer o seu trabalho de informar sobre os fatos.

Na última sexta-feira, chegou ao extremo de algemar e deter um jornalista, sob a alegação de desacato a autoridade, por ele ter se manifestado no momento em que outro policial tentava impedir o repórter-fotográfico de realizar suas fotos.

Reproduzindo momentos da nossa história que acreditávamos banidos para sempre, a PM de Santa Catarina tem protagonizado cenas de desrespeito ao direito dos cidadãos. É bom que a comunidade saiba que esta polícia que age de forma truculenta é paga com os impostos arrecadados de toda a sociedade. Logo, deveria protegê-la, em lugar de reprimir e impedir a circulação da informação.

A livre manifestação está assegurada na Constituição brasileira. Portanto, não há nada que justifique os fatos registrados na capital catarinense.

Quanto ao trabalho dos jornalistas, é inadmissível que o governo do Estado permita uma ação truculenta como a que foi registrada na sexta-feira. Os profissionais precisam estar junto às manifestações para narrar o que de fato acontece nas ruas de Florianópolis. Se a sociedade permitir que policiais à paisana possam intimidar, impedir a realização do trabalho e, o extremo, que os que têm a condição da força e das armas possam algemar e deter um jornalista por ele estar registrando os eventos nos quais os policiais estão envolvidos, estaremos retrocedendo aos tempos de exceção, em que a liberdade de expressão era tolhida e a população permanecia vendada sobre o que ocorria no país.

Nosso repúdio ao governo do estado, que é, em última instância, o responsável pela ação da Polícia Militar, nosso repúdio ao comando da PM, que não coíbe este tipo de abuso e nossa solidariedade total aos profissionais envolvidos no episódio. O Sindicato se coloca à disposição para qualquer ação que possa ser efetivada e cobrará do governador uma resposta a estes fatos. Se casos como esses forem considerados “normais” em tempos de manifestações e protestos, voltaremos a viver os tempos sombrios da ditadura militar, e isso não podemos admitir, nem como jornalistas, nem como povo.

Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O Jornalista Multifuncional



Por Elaine Tavares  - jornalista
Lages, interior de Santa Catarina, dia de chuva torrencial. Meia dúzia de sindicalistas se coloca em frente ao portão do jornal Correio Lageano. Está um frio de rachar, mas os jornalistas insistem no ato público. Vieram de várias cidades do Estado para exigir da dona do jornal, Isabel Baggio, atual presidente do Sindicato das Empresas de Jornais e Revistas, que apareça para negociar, uma vez que estão em campanha salarial e os patrões se negam a ir para a mesa. O jornal fica próximo ao terminal de ônibus e as pessoas passam às dezenas. Observam os manifestantes com olhar curioso, ao que parece aquilo nunca aconteceu em Lages, médio município da serra catarinense. Com um megafone, Rubens Lunge, presidente do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, conta para os moradores da cidade a vida dura de um jornalista. O povo olha desconfiado, afinal, é sempre comum no interior as pessoas ricas e influentes serem as depositárias da verdade. Isso incomoda demais a empresária que decide chamar todo mundo para uma conversa.

Dentro do jornal ela aparece, um pouco tensa, e insiste que não havia a necessidade de ninguém se “abalar” desde a capital para um ato como aquele. Mas os jornalistas que ali estão sabem que sim, era preciso. O Correio Lageano é um jornal do interior em nada diferente dos demais jornais do Estado, boa parte deles de um dono só, os Sirotski, que já formam um oligopólio em Santa Catarina. Ainda fora das presas da família gaúcha, o jornal de Isabel, tal como os outros, segue os maus exemplos da mega empresa. Do grupo de jornalistas que atua no jornal, poucos deles recebem o piso da categoria, mesmo os que estão registrados como repórter. Outros estão expostos a subterfúgios como o de serem registrados em outras funções. Muitos não tem registro. Agora, em pleno mês da data-base, os jornalistas dos médios e pequenos jornais, como este da presidente do sindicato patronal, também devem entrar na ciranda pós-moderna, que faz a cabeça de 10 entre 10 empresários da comunicação, muito bem amparados no insensamento histérico de boa parte do professorado nacional da área do jornalismo: a idéia do jornalista multifuncional. Palavra bonita e “moderna” que nada mais é do que a velha idéia da superexploração do trabalhador. Não contentes em sugar a mais-valia dos seus jornalistas com salários de fome, os empresários agora demandam que eles sigam as exigências de seu tempo: a flexibilidade, a rapidez e a portabilidade (arg!).


E o que é esta coisa de multifuncionalidade?

Qualquer pessoa mais ou menos ligada nas coisas do seu tempo sabe que estas palavras são fluentes na forma societal conhecida como neoliberalismo e que muito estrago provocou no mundo, na década de 90 do século passado. Mas, como cabe a um país colonizado, ainda estamos vivenciando isso aqui no Brasil.

A história da rapidez está associada ao tempo presente, cujo advento das novas tecnologias exige um profissional capaz de informar com mais agilidade sobre o que acontece. A histeria sobre o jornalista é a de concorrer com os blogueiros. Dizem os “especialistas” em comunicação que a internet e os blogs são espaços de informação muito rápida. Um blogueiro pode postar centenas de informações sobre um determinado fato tendo apenas um celular. E isso leva à exigência de que o jornalista também tenha de ter um celular conectado à internet para postar tantas informações quanto um blogueiro qualquer, mesmo que esse blogueiro apenas coloque a informação crua, sem qualquer interpretação ou análise, coisa típica do jornalismo. Assim, as empresas entregam um celular ao funcionário e querem que ele fique colocando informações em vez de centrar-se no fato que está presenciando para, depois, com calma, fazer uma boa análise. Ou seja, acreditar que o jornalista deve concorrer com o blogueiro nada mais é do que diminuir o jornalismo.

Já a flexibilidade é uma linda palavra para coisas tão antigas e feias  quanto o sistema capitalista: perda de direitos e superexploração. Em nome da “modernidade” dos tempos de novas tecnologias as empresas querem que os trabalhadores aceitem serem levados para lá e para cá, sem quebrar. Então, exigem que o jornalista contratado como repórter passe a fotografar, faça filminho para colocar na internet, dirija o carro da empresa, poste no twitter, alimente o blog do jornal ou da TV e, se bobear, varra o chão. Ah, e é bom que se diga, tudo isso tem de ser feito dentro do horário de sete horas, que é o tempo praticado por quase todos os meios de comunicação, apesar da carga horária legal ser de cinco horas.  A flexibilidade se configura no fato de que ele exerce  todas essas funções, mas ganha por uma só. “É a modernidade”.  Além de tudo isso, como no geral as empresas estão entrando na onda de ter também blogs, twitteres e portais, o profissional é  “convidado” a contribuir nos demais veículos. Ou seja, cumpre várias funções e ainda trabalha para vários veículos, sem qualquer mudança no salário. Não tem choro, ou o jornalista aceita, ou a porta da rua é serventia da casa. Tem milhões lá fora esperando para entrar, dizem os patrões. E, assim, a servidão voluntária, tão bem descrita por Etienne de La Boétie[1], em 1552, nunca foi tão popular.

Por isso, causa profundo pesar observar a alegria com que muitos jovens jornalistas se submetem a esta quase escravidão, acreditando que com isso estão aprendendo e tornando-se mais “modernos”. Como sindicalista tenho ouvido relatos de deixar qualquer um de cabelo em pé, como a “acusação” de que o sindicato não deveria se meter em questões “tão pequenas” como, por exemplo, denunciar o fato de um profissional, contratado como fotógrafo, escrever matérias de vez em quando, sempre que o veículo precisar.  No mais das vezes, os jovens jornalistas se colocam na pele do dono ou dona do jornal e acreditam que eles tem mesmo muita dificuldade de manter o negócio e que por isso, “não custa nada” ajudar. Mesmo que esse “coitado” seja o dono de um oligopólio, como é o caso da RBS no sul do Brasil.

A terceira palavra que define a multifuncionalidade é a tal da portabilidade. Assim, o jornalista começa a ser comparado com um aparelho de celular. Nestes, a portabilidade significa que a pessoa que tem um celular pode usar o chip de qualquer operadora, não ficando “prisioneira” de nenhuma empresa. Percebem a violenta crueldade do conceito? Se ele se fixa na nova exigência colocada ao jornalista, fica parecendo que o jornalista, tal e qual o aparelho de celular, também é livre (o celular igualmente não é!). Ele pode transitar de uma função para outra sem qualquer amarra legal, assim como transita entre as variadas empresas do mesmo dono. Tão absolutamente libertador quanto fumar Malboro ou andar de Honda. E os profissionais se encantam com esta possibilidade, sem perceber que a única liberdade de que são portadores, é a de ser explorado com alegria.  

A tecnologia existe para o homem e não o homem para a tecnologia

Sempre me encantou uma frase de Jesus ao povo, quando questionado pelo fato de que fazia curas aos sábados, descumprindo, assim, a lei judaica. O galileu, com a tranqüilidade dos sábios, sentenciou: a lei existe para o homem e não o homem para lei, deixando claro que um homem verdadeiramente livre subverte aquilo que o oprime. Assim, penso, deve ser a tecnologia. Como qualquer jornalista moderno gosto demais destas novidades tecnológicas que permitem a rápida circulação das informações. Fotos postadas no twitter, pequenos textos circulando nos blogs, celulares ultra mega powers, etc... Mas há uma coisa básica nisso tudo que precisa ser problematizada. Informação não quer dizer jornalismo, necessariamente. Posso postar no twitter que a cidade de Florianópolis está alagada neste momento. E mostrar fotos dos alagamentos, etc...
 
Mas, estes pequenos textos informativos não dão conta da atmosfera totalizante do fato. E o jornalismo é isso. Na singularidade de um fato dado, aquele que narra precisa transitar pelo particular e atingir o universal, tal qual ensinava o mestre Adelmo Genro Filho. Por que a cidade alagou? Quais os motivos que levaram este bairro alagar e não o outro? Como agiu a defesa civil? Por que estes fatos se repetem, sempre nos mesmos lugares? Quais as conseqüências para os atingidos? Enfim, toda a sorte de interpretações da realidade que precisa ser feita por alguém com olhar aguçado, capaz de perguntar e observar, sem se desviar por ter de carregar a bateria da câmera, ou filmar, ou fotografar e postar em tempo real, e twitar e coisa e tal. Um jornalista é uma pessoa que apreende a totalidade do fato, não é um doidivanas carregado de toda a sorte de “portabilidades” que afugentam a atenção para o que é verdadeiramente profundo. Isso me faz lembrar o exemplo de um repórter fotográfico de conhecido jornal local que, obrigado a cumprir a função de motorista, ao se deparar com um fato em movimento, desceu do carro correndo e esqueceu-se de puxar o freio de mão. Lá se foi o carro ladeira abaixo. Nesse caso, venceu o jornalista e sua visão de agente público de informação. Mas, quantos se lixariam para o carro correndo rua afora? Quantos não voltariam, salvariam o carro da empresa e perderiam a foto? Por isso, repórter-fotográfico precisa estar livre para olhar e capturar o instante. Não pode ficar prisioneiro de múltiplas funções.

Obviamente que reputo uma importância abissal aos blogueiros de plantão e a toda a sorte de gente que usa as novas tecnologias para repassar informação. Gosto de saber que tem milhares de seres por aí postando coisas, cenas, fotos, informações que, depois, reunidas por um bom jornalista que também viu os fatos, possam ser analisadas em profundidade, dando-se o devido destaque às causas e conseqüências, formando a grande e quente colcha da totalidade que cobrirá o leitor na sua inteireza.


Pesquisas do IBGE dão conta de que o Brasil está vivendo um drástico problema. Os estudantes, e as pessoas em geral, estão perdendo a capacidade de interpretar um texto. Ou seja, as pessoas lêem a informação, mas não conseguem desdobrá-la, compreendê-la na totalidade. Isso não é conversinha de “esquerdista” ou de jornalistas “dinossauro”. São os fatos. Pesquisas sérias de institutos sérios. Por conta disso, insistir em centrar foco na mera reprodução desenfreada de informação é desserviço.

É certo que não se pode pedir ao empresariado da comunicação brasileira - que vê o leitor/espectador como cidadão-cliente, como mero consumidor de um produto - que se preocupe com o nível de compreensão da realidade do povo. Eles estão se lixando para isso. Querem vender jornal, querem vender anúncio e fortalecer a mais-valia ideológica que mantém as gentes vinculadas ao sistema produtivo mesmo quando estão em casa, supostamente descansando, vendo TV. Nosso alvo tem de ser então os jornalistas.

São eles os que precisam compreender o que é, efetivamente, o jornalismo. Serviço público, espaço de compreensão totalizante do real. Não é papel do jornalismo concorrer com a rapidez internética. Basta a gente se lembrar do tempo dos infográficos, recordam? Os jornais queriam concorrer com a velocidade da televisão e enchiam suas páginas com infográficos descontextualizados. Mostravam muito bem como tinha sido a coisa, mas não explicavam os porquês. Era a superficialidade da TV transformada em papel. Virou febre, mas não durou muito. Assim, penso deverá acontecer com a tal da multifuncionalidade. Será uma febre, e vai passar. Jornalistas que faz cinco coisas ao mesmo tempo às fará todas muito mal feitas.

Leitor não é Homer Simpson

É certo que para o dono do jornal, amparado na razão capitalista, será uma dádiva ter um profissional que ganha por um e trabalha por cinco, nos seus diversos veículos. Mas, mesmo eles, ao compreenderem os mais rudimentares preceitos do capitalismo, verão que o tal do leitor, que eles consideram cliente, vai acabar percebendo a má-qualidade. Porque leitor não é “Homer Simpson” como já alegou William Bonner. E, igualmente, os trabalhadores, que hoje se submetem à servidão voluntária, acreditando que com isso estão garantindo emprego ou coisa assim, também terminarão percebendo que a flexibilidade, a rapidez e a portabilidade da multifuncionalidade só os deixam doentes, e não lhes garantem o emprego. Porque, no mais das vezes, quando uma “peça” do sistema falha , ela é substituída por outra, mais novinha e ávida por ser a “mais veloz”. 

A nós, que atuamos na luta sindical, cabe desvelar as mentiras escondidas sob o manto da nova onda e organizar as batalhas coletivas dos trabalhadores escravizados pela reestruturação produtiva do capital. A tecnologia, os novos e modernos instrumentos de trabalho devem sim ser conhecidos e dominados por todos os jornalistas, mas, trabalhando numa empresa, não temos de ser obrigados a fazer tudo o que a tecnologia permite. Lembrem do nazareno e sua verdade incontestável: as novas tecnologias, que são conquistas de toda a gente, porque se derivam do trabalho socialmente produzido, são muito boas e muito legais. Mas elas foram feitas para nos libertar e não para nos escravizar. Ser multifuncional não é coisa de hoje. Somos profissionais, pais, irmãos, amigos, filhos, colecionamos coisas, praticamos esportes, fazemos artesanato, enfim, atuamos em várias frentes.

O perigo da tal multifucionalidade só aparece quando ela se transforma numa bola de ferro no nosso pé, a serviço do lucro de alguém. Como dizem os povos de fala hispânica: Ojo! O que na nossa língua mãe significa nada mais do que “olho vivo, meu irmão!” Não caia no conto do patrão. Ele toma champanhe em Paris enquanto tu esperas no posto de saúde, acometido de LER, estresse crônico ou depressão. E, mais tarde, vem a demissão!”...


[1] Etienne De La Boétie. Discurso da Servidão Voluntária.  Editora Brasiliense. São Paulo, 1982. Vale a pena ler. O texto é curto e de uma contundência atroz.


Existe vida no Jornalismo
Blog da Elaine: www.eteia.blogspot.com
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Desacato - www.desacato.info
Pobres & Nojentas - www.pobresenojentas.blogspot.com
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terça-feira, 18 de maio de 2010

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O Direito de ir e vir



Vídeo feito pela jornalista Elaine Tavares sobre protestos em Florianópolis contra o aumento abusivo da passagem de ônibus, hoje, a mais cara do país.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Fotos e Fatos

Fotos guardadas e não publicadas. Show dos irmãos do UKIEMANA no Reggae 4 Life, na Praia Brava, em Itajaí. A luz da consciência na música desses irmãos. Avante com firmeza!

Dia 1º de maio, na ida pra Blumenau no Congreso da FETEC, o amanhecer nebuloso da BR-101, foto tirada do carro do Ricardo Casarini em um dia movimentado, mas presentiado com essa imagem.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Prefeitura anuncia aumento de tarifas do transporte coletivo


Por Elaine Tavares - Jornalista

Quem vive em Florianópolis, sabe. Andar de transporte coletivo é uma odisséia. Inúmeros horários foram cortados e as pessoas se aglomeram em ônibus lotados até a boca. Os períodos de espera no terminal central para tomar o rumo do sul ou norte, lugares mais distantes do centro, nos horários de pico, chegam a mais de 30 minutos, porque a fila é gigante e os ônibus são poucos. Depois de um dia de trabalho, as gentes ainda tem de amargar todo esse atropelo que estressa e desespero. Quem circula pelo terminal logo depois das seis horas pode observar o desânimo que toma conta das pessoas.

Não bastasse tudo isso, a prefeitura agora está anunciando para este domingo mais um aumento na passagem, que aos R$ 2,80, é uma das mais caras do Brasil. Pois a partir deste dia nove de maio, mês do trabalhador, a prefeitura oferece este “presente”: a passagem vai custar R$ 3,12, ou algo aproximado, arrochando ainda mais o bolso dos trabalhadores, que não tem outras opções para se locomover na cidade. O transporte urbano é uma bem montada rede de “parceiros” que não abrem espaço para mais nenhuma concorrência, paradoxalmente, muito distante daquilo que os empresários mesmo pregam que é o sistema capitalista competitivo.

Foi por conta de um aumento assim, desproporcionado, que em 2004 a cidade viveu a famosa Revolta da Catraca, quando a população se levantou em rebelião durante uma semana inteira de protestos. Pois agora as gentes já começam a preparar manifestações. Hoje, dia 07 de maio, ao meio dia, já está marcada uma atividade em frente ao Ticen. A cidade vai ferver. 
 
Postado em pobresenojentas.blogspot.com

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O Joio do Trigo


Evangelho segundo São Mateus 13:24-30: "Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo; mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou joio no meio do trigo, e retirou-se. E, quando a erva cresceu e produziu fruto, apareceu também o joio. Então, vindo os servos do dono da casa, lhe disseram: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio? Ele, porém, lhes respondeu: Um inimigo fez isso. Mas os servos lhe perguntaram: Queres que vamos e arranquemos o joio? Não! replicou ele, para que, ao separar o joio, não arranqueis também com ele o trigo. Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: Ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado; mas trigo, recolhei-o no meu celeiro."

  A distorção que existe no meio sindical do papel do jornalista e das atribuições de sua função é algo que somente atrapalha a luta promovida pelas entidades de classe. A disputa política, que na maioria dos casos copia a que é feita no Congresso Nacional e na política partidária, põe o profissional de comunicação em uma posição delicada. As discrepâncias e incoerências presentes no meio sindical acabam por respingar no jornalista, que tem seu cargo sempre colocado na berlinda quando os ânimos se acirram.  

  Entender o papel do assessor de imprensa e o que é jornalismo sindical é prerrogativa de um bom gestor de entidades de classe. A comunicação como setor estratégico de um Sindicato, não pode ser comprometida com disputas internas de cunho político. O único prejudicado, além do jornalista, é a categoria, que fica a mercê de marés de boa vontade e de consciência momentânea por parte de dirigentes sindicais.

  Se há a necessidade de profissionalizar o setor, já que uma imprensa sindical séria se faz necessária para a disputa por hegemonia comunicacional, essa necessidade, na maioria dos casos, fica apenas da boca para fora. A forma como profissionais de comunicação são envolvidos no contexto políticos dos sindicatos, ficando a mercê de interesses de grupos, faz com que a idoneidade da produção no meio sindical fique comprometida, minando assim a credibilidade perante a sociedade e junto às respectivas bases.

Se toda vez que uma nova gestão, com novos dirigentes, se instalarem em um sindicato e trouxer seu jornalista a tira colo, como acreditar no fazer jornalístico deste profissional? Para quem trabalha o jornalista, para a categoria ou para a diretoria vigente? Por mais que a assessoria de imprensa tenha uma característica unilateral, ela não deve apenas servir como forma de pintar uma boa imagem da direção. A não ser que seja assessoria de dirigente sindical. O papel crítico do assessor atua dentro da entidade, pautando as necessidades e lutas dos trabalhadores, sob critérios coerentes com a luta sindical.

A clareza do papel do jornalista nos sindicatos se faz necessária para evitar que tal cargo sirva como benesse política de quem assume o poder. O profissional de comunicação deve servir a categoria acima de qualquer interesse político ou de grupo. Se um dirigente sindical não entende isso então ele não serve como dirigente. Existem casos onde pessoas com anos de profissão, cabelos brancos e uma história de militância se comportam feito crianças, criando situações onde, por conveniência, usam o jornalista de bode expiatório para corroborar com os seus argumentos de disputa.

O primeiro passo para profissionalizar a imprensa sindical é acabar com essa história de cargo político. Jornalista é jornalista, seja repórter ou assessor de imprensa. A diferença está no tipo de finalidade que a posição onera, mas para que se possa realmente promover avanços no fazer jornalístico, aumentando a credibilidade das produções feitas por entidades sindicais junto às bases e a sociedade, é necessário saber separar o joio do trigo.  

Osíris Duarte