O fato das aulas na universidade de Dakar não terem sido suspensas durante a realização do FSM 2011 têm se mostrado mais uma oportunidade de aprendizado e vivência do que um contratempo. Com mais de 40 mil estudantes, vindos de vários países da África, a universidade é considerada umas das melhores do continenete e, com certeza, uma das maiores que já vi. Com mais de 70 hectáres, o campus é pulsante e lotado de jovens ávidos pela oportunidade de estudo. A falta de estrutura adequada parece não incomodar os estudantes, que em grande parte moram no próprio campus, em enormes residências universitárias. Mas isso é só uma aparência, porque incomoda sim.
No quarto de Alioune na residência universitária
No meu primeiro dia no FSM, perdido e confuso, assim como todos os participantes devido a falta de um programa - que só ficou pronto no meio da tarde de segunda - fui ajudado por estudantes voluntários no Fórum. Um deles era Alioune Badara, estudante de Letras. Não pensava que naquele momento confuso e preocupente, já que nem o acampamento eu tinha encontrado e me arrastava depois de quase dois dias sem dormir direito, estava fazendo um amigo. Alioune virou por livre iniciativa meu anjo da guarda, não me deixando só por sequer um minuto. Contar com o auxílio dele foi o melhor que podia acontecer, pois descobri aqui que as poucas aulas de Francês e o dicionário não ajudavam muito, assim a comunicacão se mostrava complicada. Alioune fala inglês e essa é a lingua que tenho usado aqui, além do português com os brasileiros e com o pessoal da Guiné Bissau.
Foi com Alioune que conheci um das várias residencias universitárias do campus. Com quatro andares esse complexo abriga mais de 7 mil estudantes. Foi lá que pude compartilhar com Alioune e seus amigos um pouco da vida desses rapazes e moças tão belos e prestativos. O primeiro ipacto é a quantidade de gente. Aliás, isso é em todo o lugar, não apenas nas residências. Subimos dois lances de escadas, em meio as paredes azuis e brancas, sujas e repletas de avisos e mensagens, até chegar ao quarto de Alioune. Com cerca de 2 metros quadrados, o quarto e dividido com 6 a 8 pessoas! Fico surpreso e pergunto como eles fazem para dormir em até 8 pessoas em um espaço tão apertado. Sorrindo Alioune me diz que dois dormem na cama de solteiro no canto e os demais se espremem em outros dois colchões no chão, que só são ajeitados na hora de dormir. Peço a Alioune para tomar um banho e ele me leva ao banheiro. No caminho jovens mulçumanos - que são cerca de 90% da população no Senegal - rezam nos corredores da residência, em pequenos tapetes, virados para Meca, a cidade sagrada do Islã, enquanto abrem e fecham as portas dos quartos em um ritual comum para os Mulçumanos. Não sei bem porque, mas já tinha visto aquilo em algum documentário sobre o Islã. Eles rezam, se levantam, abrem e fecham a porta do quarto umas três vezes, e voltam a rezar. O banheiro da residência é coletivo.O chão molhado encharca a barra da minha calça. De um lado os chuveiros e de outro os vazos. Mulheres e homens dividem todos os espaços da residência, menos os quartos. O convívio entre moças e rapazes é amigável e respeitoso, mas sem perder a naturalidade de uma boa amizade, com carinho e atenção, mas sem conotações sexuais veementes. As moças parecem mais fechadas, menos conversadoras, principalmente com um estrangeiro como eu, mas nada tão repressor e distânte como em países como o Irã ou a Arábia Saudita. O Senegal não é uma uma república islâmica, apesar de a maioria dos seus cidadãos serem mulçumanos. Aqui todos convivem pacificamente. Não há disputas de natureza religiosa ou étnica.
Para fazer o chá
Tenho um sentimento aqui de estar em casa. Não é clichê de negão brasileiro na mãe Africa, até porque aqui estou mais pra branco do que pra negro! Mas o olhar das pessoas, os sorrisos, a presteza em certos momentos servil, me deixou apaixonado por esse povo, tão sofrido e tão querido. A noite do meu primeiro dia no Senegal terminou com um chá na residência universitária - que dá um barato muito loco e é vendido legalmente - com Alioune e seus amigos, em meio a risadas e tentativas de conversas sobre futebol - é claro, os africanos são loucos por futebol brasileiro - sobre o ex-presidente Lula - que no mesmo dia discursou no fórum e afirmou que a Africa precisa investir em agricultura - e sobre a vida no Brasil e no Senegal.
Estou sinceramente encantado com a forma como os Senegaleses tem me tratado, a vida sofrida, mas feliz, a simplicidade do cotidiano desses milhares de jovens que para comer se aglomeram em filas imensas e disputam espaço de tigelas em punho nos RUs para fazer duas refeições no dia, me é familiar. Mas acho que o que é mais familiar e aconchegante, é o olhar desse povo, sua bondade, sua veracidade. Lembra o brasileiro. Queria eu agora fazer poesia com essa alegria que irradia dos Senegaleses e do povo africano, mas o micro aqui já pifou uma vez, já reescrevi o texto e o dia ainda me espera lá fora, cheio de histórias, que me deixam com lágrimas nos olhos só de pensar em contalas.
Osiriiiis,
ResponderExcluirq bacana seus relatos. continua atualizando suas impressões, medos, vivência e entusiasmo.um beijo
Andrea L Porto Sales
Otimo ler teus texto meu querido.. me dá uma louca alegria...
ResponderExcluirÉ isso ai Siri, muito legal. Como diz o James Tavares, sei q tu não é novela, mas to te acompanhando...gostaria de fazer um pedido especial, que você comentasse sobre as mulheres(senegalezas?)..gente! sem maldade, é q me chama a atenção..rsrs....abração meu velho, abração e vai q vai..
ResponderExcluirauhauhauhauhauhau... Jebanildo, vou escrever um texto só sobre isso! elas são gaaatas demais man! São reservadas mas são lindas! To com uma sessão de fotos só delas. Abraçowww.hotmail.com
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