quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Casa Grande e Senzala e a subserviência no mundo do trabalho




  Negrinho, já pro tronco! Gritava o capataz com veemência condizente a subserviência ao Coronel. Enquanto isso, ao lado da senzala, de canto olhava a negra da casa, cozinha, lava e passa, brinquedo manso do senhor. No canto escuro, em correntes, sonhava o negro cheio de medo, com a misericórdia da aceitação na casa e não do tronco. O capataz, com a tez tão negra quanto a do escravo, chicoteava o dorso escuro da mão de obra, pensando no almoço na cozinha da Casa Grande e na cachaça no bar da fazenda. Aquilo atenuava a dor nos braços das dezenas de chibatadas que desferia no corpo dos irmãos de África.  
  A cena, comum a nossa consciência histórica brasileira, se repete, se reinventa e se renova, com novas roupas, novos personagens, mas com o mesmo enredo. Não é de hoje que nos ensinam a escolher o mais fácil em detrimento do certo, do justo. É que justiça como conceito só existe na coletividade, porque só se ajusta aquilo que têm parâmetro, têm contraponto. O isolamento apaga a necessidade de justiça. Desde a senzala, a moeda de cooptação para manutenção é a ilusão do conforto. Porque quando a escravidão - nos moldes antigos - acaba, acaba também o conforto da cachaça do capataz, assim como o almoço na Casa Grande.   

Osíris Duarte - jornalista

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