São 7 horas da manhã e estou fazendo café. Lá pelas 8 horas já tomei dois, pelo menos. Me preparando pra sair para o trabalho, tomo um banho lá pelas 10 para, lá pelas 10h30 sair de casa, o mesmo endereço nos últimos dois anos. Já fazem 5 anos que estou no mesmo trabalho, localizado no mesmo ponto onde a 5 anos atrás comecei a trabalhar. Meu horário é vespertino. Como moro longe, no mesmo bairro, há uns 6 anos, levo uma hora e pouco de trajeto, dependendo do trânsito. Chego lá pelas 19h30 horas em casa. Passo antes na padaria, compro geralmente pão e queijo. Nos fins de semana, dependendo da grana, saio, vejo gente, ou faxino a casa, leio, vejo um filme... Ou então eu vou ver meus pais, que moram em uma outra cidade a quase vinte anos. É coisa de 2 horas de estrada, pelo menos, pra vê-los. Onde eles moram também tenho amigos. Todos me cobram, porque gostam de alguma forma de mim, nem todos eu vejo...Têm um monte de gente querida que não vejo faz tempo, talvez tempo demais já... Meu pai, que mora em São Paulo, é um, por exemplo. Acho que fazem uns 2 anos que não nos vemos... Ele não me cobra, até porque a "distância é a mesma", e ele também não vem pra cá. Na medida do possível, do bolso e do tempo, vou tocando o visível e o invisível da minha vida. Em geral somos bem mais exigentes com o outro do que consigo. To me exigindo e sigo, tentando podar o nocivo. Desde que escolhi ser independente, tentando desonerar minha família do custo de um marmanjo, e encarando a profissão que escolhi e a vida que Deus me proporcionou que falta tempo hábil pra corresponder ao que todos, as vezes, esperam de mim. Não se trata necessariamente de tempo, entende? O tempo do mundo não é o tempo em nós, de Deus, da verdade... Também espero dos outros, acho bobagem essa coisa de não criar expectativas. Nós sempre esperamos algo, como lidamos com essas expectativa ou frustração é que é o lance. Me restrinjo a corresponder o que me é possível e tem sentido. Um amiga me disse um tempo atrás algo duro de aceitar. Que não podemos contar com o outro e que, principalmente hoje, o mundo é cada vez mais feito de individualismo. Eu sabia, mas não deixa de ser duro de aceitar. E não se trata de estar cercado de gente, de ser bem quisto por uma legião e de dizer que se preocupa com os outros, com o planeta... Isso não apaga nosso indivíduo. Certos sensos e valores parecem servir como argumentos válidos para coisas antagônicas, que não guardam tanta virtude quanto os argumentos. Me pergunto, todos os dias, o quanto de verdade há nisso, o quanto o propósito luminoso é o propósito, e não retórica. Passei anos acreditando que amealhava mais amigos do que bens. Me sentia rico. Mas sabecomé: o tempo passa, as pessoas mudam, a vida leva, fazemos escolhas e nem sempre o "séquito" de amigos segue esse rumo. E deveria? Por vezes questiono baseado em que são as relações que a gente faz. Porque se findam, é porque findam as razões. Quando a gente fala de amor também há fim, mas o que acaba, afinal? O amor por si só?! O que sinto fortemente hoje é que não posso mais aplaudir certas coisas em nome da cumplicidade que encontramos nos amigos com relação as falhas comuns. Acaba sendo argumento pra minha própria inércia. Escolhas que fiz por mim, pois são raras as pessoas, por mais prestativas que se digam, que se colocam no lugar do outro e se solidarizam de fato. Solidariedade é incondicional, se não não é solidariedade. Sendo assim, guardo pra mim essas crítica e tento praticar isso tudo ai, vomitado nesse texto, com mais afinco. Só que não. Só que dói e é foda. É assim que a mente caminha, negando as afirmações e afirmando negações, buscando médias para encontrar entradas ou saídas. Não me sinto a vontade mais com os cenários ilusórios, galgados em coisas superficiais que, quando não estão presentes, fazem com que as relações se dissipem. Pode ser uma tremenda viajem minha, mas é como tenho me sentido. Na medida do possível, da lealdade e da vontade mantenho as relações que me cercam, quando não é possível deixo para o astral. Sempre fui aquele sujeito metido a sensível saca, que se doía com a dor alheia, que se preocupava e, pra mim, é um exercício sofrido viver sem sofrer tanto pelo outro. Mas é necessário seguir, minha fé não me permite parar. E se então terei que viver com a indiferença, seja ela uma por uma certa vingança em correspondência, seja ela uma demonstração de ausência não percebida, seja ela orgulho ou resiliência, há de se ter algo pra aprender com isso, sempre há.
Osíris Duarte
quinta-feira, 31 de julho de 2014
terça-feira, 29 de julho de 2014
Entulho
É que meus poemas não vem em embalagens bonitas, acompanhados de fita, laço e embrulho. Não sou de juntar entulho literário. Meu itinerário poético é como um constante ato falho, um grito cético de quem quer acreditar que há valor na resenha, na contra-capa. Meus poemas não vem em tons de cores, em tipos estilizados, acompanhados de fotos cheio de apelo pelo fato. É um grito nato. Um desabafo nítido. O que preciso, por mais impreciso que possa parecer. As vezes tem um título, as vezes são apenas asco. Por tantas são um tiro, no escuro, no pé ou no alvo. Eu nunca aprendi a ser poeta, talvez seja essa a minha meta, nunca aprender o que depende de seta ou de sorte. É como viver, só se aprende vivendo e, quisá, morreremos ainda buscando um norte.
Osíris Duarte
Osíris Duarte
A fera
E quando morres embebido por esse veneno, morre lento, morre aos poucos... Essa coisa por dentro que me joga ao vento, vago, alheio, largo... Mato devagar, mato lento, tormento que mexe, lua cheia, tempo, asco. Mato o homem e sobra o lobo, lobisomem como sendo um acalento, um presságio. A cada um que some, cada parte que consome a si, a fera espera, espreita o homem. Foges como quem come escondido, some, com fome de ser esquecido. A cada lua cheia mato o homem e deixo a fera, fere o abdômen, rasga o peito, quebra o nome e sente frio, no peito curto, arredio, rasga a pele, transfigura a derme, em pelo denso, no hálito que ferve, a besta que dormita breve no jeito aparentemente leve de ser prisoneiro do homem.
Osíris Duarte
Casos e acasos
Acaso um caso raso,
Soca a cara no vaso.
Há casos em que casos
São vagos, são rasos,
São acasos no vaso.
Osíris Duarte
Em partes
A parte que me parte é o teu aparte enquanto sinto saudades. Partir deixa partes que se perdem na metade. É como um parto, sentir partir a realidade... Pari a partida, reparti a chegada, há partes da vida que são apartes de briga, são o todo do meio, são partidas perdidas em tempos inteiros, sem mentiras, sem caras metades.
Osíris Duarte
segunda-feira, 28 de julho de 2014
Você crê no que vê, apenas? Sabe de nada inocente...
O que a gente vive fortemente hoje - e me pergunto quando não - é uma necessidade construída de crer naquilo que vemos. Isso não é um cachimbo tio Foucault? heheheh Esse é um debate muito recorrente na fotografia, mas se aplica em vários campos da nossa vida. É como a primeira vez que houve uma exibição pública de cinema, que era apenas um tape de um trem vindo em direção a tela, e saiu todo mundo correndo da sala com medo de ser atropelado. Na época foi um susto, ninguém sabia o que era cinema ou que aquilo era possível! Imagem em movimento! Mas hoje, por mais que ainda tenha aquela tia que aborda o ator de novela e xinga ele por causa das maldades do personagem dele, estamos habituados com esse viver a "realidade" pelas imagens apenas. E, mesmo sabendo que não é real, que é uma mímese da realidade, o que vemos na tv tem um peso de verdade absoluta para muita gente. Nos acostumamos a ser levianos devido ao distanciamento paradoxal da aproximação que os meios de comunicação proporcionaram as sociedades no planeta hoje. Mesmo não presenciando os ditos "fatos" e apenas vendo o que empresas nos mostram (sejam de comunicação ou não) defendemos com unhas e dentes o que os âncoras de telejornais dizem. Os interesses quase sempre não ficam claros e construirmos opinião galgados em fatos que por vezes não são, ou são totalmente distorcidos. Portanto, reafirmo: Não contente-se! O exercício da apuração é tão importante hoje para o cidadão quanto é para o repórter. No passado não tínhamos tantas alternativas e meios para apurar informações. O questionamento ficava para o desconfiômetro! Agora não tem desculpa. Dá pra ver claramente quem se informa e quem de enforma, saca?! O analfabetismo midiático é hoje um problema tão sério quanto o analfabetismo funcional ou total. A falta de "lastro" de conhecimento pelas falhas (ou projeto de sacana) no sistema de educação, o tipo de valores fomentados nas sociedades capitalistas modernas e o grau de comodismo que a alienação proporciona fazem com que a gente alimente um mundo de mentiras aprazíveis aos momentos oportunos. Há de se ter cuidado e prudência. É como usar camisinha sempre. Nunca se sabe quando podemos cometer um ato falho.
segunda-feira, 7 de julho de 2014
O burguês escondido
Esse desejo de burguesia que te alicia, dia após dia... Nele mora essa tua agonia e, ainda que tardia os sonhos de igualdade, preferes. Não me trate com hipocrisia quando não se trata ilusão. Buscar certas verdades não implica em posição certa, nem sempre a porta está aberta e nem sempre estás são. Esses pequenos poderes nos seres, deveras apatia dos prazeres, conferem taquicardia em meio a tanta sede de si. Pensas que tudo é merda, segredo e cartão em vezes, que a alegria bate a porta todos os meses para quem acorda cedo, as vezes... Sucesso é mérito e honestidade é medo? Arremedo de projeto de gente, quem não desfruta da mesma facilidade do direito, da mente e de uma Mercedes. Tá latente esse enredo, tá dado. Serdes sonho enquanto somos pasto. No vasto peito se cultivam essas sedes, no lago escasso prendem-se em redes, afogam-se em meio ao reflexo turvo, vago... Quando foi que você viveu sem dor ou amor? E porque não cabe mais mão e menos condição senhor? É como crediário de solidariedade, é como parcelar em 10 vezes o pão. Temos fome. Então tome, pegue o poder que tanto te consome, não esqueça que as pessoas tem nome, mesmo que em terras partidas todos tenham o mesmo sobrenome e a mesma miséria: matéria.
Osíris Duarte
Osíris Duarte
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