A angustia tomava conta do peito. Não sabia o que fazer. Ao mesmo tempo em que alimentava o desejo por ela, sentia dúvida. Assim, nada que pensasse lhe traria segurança, estava apavorado. Se perguntassem o que lhe dava mais medo, a resposta seria: Em primeiro lugar as pessoas, em segundo as mulheres... Sim porque, além delas serem pessoas, eram mulheres! E ele ali a tremer nas bases por causa de um rabo-de-saia.
(Ela)
Porque ele não me olha nos olhos. Acho que é indiferente, mas é tão lindo... Não! Não vou me deixar enganar. São todos iguais. Fingi indiferença para chamar a atenção, com esse ar misterioso, distânte... Bom, ele que tome iniciativa, eu não vou dar o braço a torcer. Aaaaa! Que raiva! É um babaca mesmo, não passa de um mané.
(Ele)
Ela deve me achar um mané. Tão linda... Só é meio orgulhosa. Aliás, muito orgulhosa. Olha, e depois faz que não viu. Tudo só para chamar atenção. São todas iguais, vaidosas. Usam os homens, fracos e tolos, para alimentar o ego, para se sentirem belas. Pois digo que és uma bruxa, entendeu. Bruxa!
(Ela)
Acho que ele olhou para mim. Foi rápido, sutil... Talvez tenha sido só um olhar despretensioso, meio que checando o entorno. Aí! Será que estou bonita? Será que meu cabelo está bonito? Talvez ele tenha me achado cafona... Não! De jeito nenhum! Estou sempre bem vestida, sou uma mulher elegante, jovem... Se esse idiota me acha brega é porque nunca se olhou no espelho. Aliás, esse tênis velho que ele usa parece que não vê limpeza desde que saiu da caixa. Não passa de um idiota!
(Ele)
Sou mesmo um idiota. Porque não fui falar com ela ainda? Ela deve achar que sou gay. Sim, é claro, uma mulher tão bonita, gostosa... Só mesmo sendo gay para não dar em cima de uma deusa como ela. Perai... Estou pensando demais. Eu, gay! Essa piranha acha que eu sou boióla! Ah... Mais ela vai ver quem é bicha! Ora... gay...
(Ela)
Gay ele não é. Com esse jeitão firme de ficar parado, no canto do bar, observando... Nenhuma bicha fica de canto na noite, fumando quieto, só observando o movimento. Pelo menos não hoje em dia. Além do que, só pelo jeito de segurar o cigarro, de beber a cerveja... Aí está a prova. Ele está tomando cerveja. Gay não toma cerveja em boate. Ele é tão lindo... (Ele) Ela é linda. Uma flor. Não poderia dizer-lhe sequer uma palavra sem carinho, com medo de despetalar seu rosto azul. Tenho que lhe dizer algo. (Ela) Ele me olha sim. Às vezes, de canto de olho. Acho que na verdade é só minha imaginação. Será? Acho que sim. Ele não quer nada comigo. Esquece! Que ódio! Qual é o problema comigo. Acho que vou ao banheiro.
(Ele)
Acho que vou até lá. Talvez mais uma cerveja ajude a tomar coragem. Ela está vindo... Vem em direção ao banheiro. Vai passar por mim. Tenho que dizer algo, qualquer coisa. Pensa idiota! Você pode estar deixando escapar a mulher de sua vida, a mãe dos seus filhos, a sua futura ex-esposa! Fala! Fala!
(Eles se cruzam no salão, se olham, e trocam as primeiras palavras).
Perguntei para o vento se ele me traria boa nova. Ele me disse: uuuuuuuuuuuuu... Fui vaiado pela brisa lá fora. É que o vento, sábio e antigo, se ria de mim naquela hora, eu um rapaz ativo, vivo... Perguntava ao vento se o destino podia me adiantar alguma coisa agora. Ele me disse, que meu passado perciste, e nele resiste o receio do futuro. O vento se foi, e deixou lá no fundo o que eu queria. Naquele noite de agonia, deixou um beijo que deixei na história, deixou a lembrança na memória, das coisas que já quis um dia. E eu fiquei ali, querendo dormir um sono de redenção, esperando que meu despertar seria de ascenção aos desejos reprimidos. Me dei por conta que nada disso era possível, que deixei passar o previsível, e a vida só perdoaria, se eu fosse junto com o vento em armônia, voando no presente, junto com meu sentimento, ao prazer do vento, vivendo sem medo cada dia.
O direito de greve é mais que o simples fato do trabalhador paralisar sua atividade para reivindicar direitos. O direito de fazer greve é uma das últimas garantias que trabalhadores têm para fugir da escravidão.
Ser dono da própria força de trabalho. Isso está implícito no direito de greve. Se não podemos ser donos da nossa força de trabalho, se não podemos cruzar os braços e dizer: Não! Então não somos livres. Usualmente o “grevista” – termo usado para definir os trabalhadores que lutam por direitos legítimos - é taxado de baderneiro e, em alguns casos esdrúxulos, de bandido. Fomentar tal imagem somente ajuda a minar um dos últimos recursos de trabalhadores para fugir da escravidão moderna, a que emprega, e ao mesmo tempo nos prega a cruz da submissão.
A chantagem que o sistema de organização social moderno, representado pelo empresariado e governo, promove quando ameaça um trabalhador que faz greve, colocando o emprego do mesmo em cheque, é sim uma forma de controle e domínio da mão-de-obra desse trabalhador. Em um país onde emprego não cai como chuva, ameaçar dispensar um cidadão de seu posto de trabalho é, em suma, impor a condição na qual ele está submetido pelo patrão.
No serviço público os casos são piores. A malha de interesses políticos em torno da visibilidade pública que a prestação desses serviços trás, faz com que a realidade seja maquiada para atender tais interesses que, de longe, não são do coletivo, não são públicos. Assim, além da manutenção de uma boa imagem de gestores públicos, a desestruturação de tais serviços, como educação, segurança e saúde, abre caminho para privatizações, o que coloca não mão de alguns poucos indivíduos o controle e a exploração do patrimônio coletivo, beneficiando apenas os que visam lucrar com o serviço, ou você conhece algum empresário que não visa lucro?
A questão é que serviços como saúde, educação e segurança são uma obrigação do Estado para com a população que, contribui financeiramente e moralmente para a existência coletiva de um país, e de algo que se configura como povo.
Essa prática que visa o desmonte do serviço público ficou clara – para quem ainda não via – na greve dos servidores da saúde do estado. Desde o dia 3 de novembro que trabalhadores da saúde de Santa Catarina paralisaram suas atividades por tempo indeterminado, até que o governo do estado cumpra com a Lei, concedendo o reajuste de 16,76%, previsto para o mês de janeiro de cada ano. Mais do que aumento no salário, os servidores lutam por dignidade no sistema público de saúde.
Como se o serviço fosse perfeito e livre de problemas graves, o governo estadual insiste em criminalizar o movimento grevista, responsabilizando servidores pela condição do serviço. É quase uma piada de mau gosto. Nem mesmo o diálogo com trabalhadores, algo que se espera de um gestor do patrimônio público, houve durante o movimento, demonstrando o usual autoritarismo de quem está no poder. O governador LHS foi direto para a justiça, na tentativa de intimidar e repreender quem está na greve. Esse foi o diálogo.
Depois de menos de uma semana de greve, o estado conseguiu uma liminar declarando a greve do servidor da saúde ilegal. O que espanta é a desinformação – seja ela proposital ou não – de alguns veículos de comunicação em relação ao tema. A ilegalidade da greve não força os servidores a voltarem ao trabalho. A liminar não é um chicote nas mãos de capataz. O que ela garante é a abertura das unidades, não o domínio sobre a mão-de-obra do trabalhador. Mas o que vemos e lemos são afirmações do tipo: Trabalhadores não cumprem decisão da justiça... Ou, desobediência à decisão judicial... No caso do governo do estado, que não cumpre a Lei (n°323/2006), essa desobediência não existe.
Enquanto os cidadãos desta nação forem subservientes aos que acham que detêm o poder, nada mudará. Nesse meio tempo o povo briga contra o próprio povo, incentivados pela repressão do Estado. Assim, os responsáveis pela manutenção das mazelas sociais - os gestores públicos e legisladores - conservam no curral milhões de trabalhadores, amedrontados pelo sistema. Enquanto gestores e parlamentares viajam para o exterior, comem boa comida, andam de carro de luxo, tudo com os recursos dos mesmos trabalhadores que brigam pelas migalhas, o povo sofre e briga entre si.
A escravidão moderna é assim. Uma prisão construída na mente de muitos. Ela é disfarçada de democracia, de liberdade. Ela lhe promete um futuro belo, desde que você dê sua alma em troca. Ela é muito pior que a escravidão em temos antigos, pois o escravo, naquele tempo, sabia que era escravo. A escravidão de hoje faz com que muitos acreditem que somos livres, isso até o momento em que não concordarmos mais, até o momento em que reivindicarmos nosso direito sobre nosso trabalho. Aí, quem sabe, poderemos nos libertar.
O que como é sonho.
Escasso espaço de mim.
Me perco em meio,
Ânceio de me achar enfim.
São braços e abraços,
São laços que valem o fim.
Eu como em pedaços,
Sonhos que não me bastam, se arrastam...
Mas fazem de mim um fato.
Escrevi e corri, porque se ficar
Perco o bonde andando.
E deixei um pedaço com amor...
E se dessas, sem pressa,
A vida deixa a brisa correr,
É quando o sol vai brilhar,
Para o dia raiar,
Ao azul do mar da paz de Deus.
Muitas vezes fui perguntado a respeito da minha postura de luta. O meio sindical padece muitas vezes desse mal. Cobranças infundadas nascidas do mal-estar da busca pela coerência. Dia desses ouvi de pessoa respeitada a seguinte frase: A revolução não pode esperar amigo! O mal que acomete tantos militantes da justiça social é o da hipocrisia disfarçada de mote de luta.
A vontade de revolucionar o mundo em que vivemos é algo lindo, admirável, poético... O problema é que projetamos para nossa vida comum, para o mundo externo, a necessidade de revolução íntima. Tal necessidade nasce no nosso âmago e, portanto, se torna necessária antes de qualquer pretensão de revolucionar o mundo esterno.
A nossa revolução pessoal é a verdadeira revolução. Digo isso porque cansei de me incomodar por causa das incoerências dos discursos e da contraditoriedade dos atos. Eles gritam: Imperialistas de merda! Capitalistas vampiros! E depois... Depois comem no Macdonalds, lêem e assinam o DC, compram roupas de marca e, pasmem, exibem feito troféu o jacarezinho da Lacost (é assim que escreve?) nos peitos. Socialistas, Capitalistas, Anarquistas... Não representam nada sem atitudes solidárias dignas de seres humanos éticos.
Queria não precisar justificar o fato de eu não vestir camisetas, levantar bandeiras ou fazer protestos. Não que não os faça. Não que eu não vista camisetas ou levante bandeiras, mas as que eu me dedico é apenas o reflexo do que há dentro de mim. E se não acredito mais em política partidária ou em mobilização civil com cunho monetário, não acho que devo ser cobrado pela minha postura por quem, muitas vezes, se veste da razão incoerente de cães que ladram por latir, nada mais.
O que me move no exercício da minha profissão não são as bandeiras, as conquistas, as lutas. O que me move são as pessoas. Trabalhar por razões ideológicas e um fato. Minha ideologia é a humanidade em harmonia. Quando escrevo ou fotografo, não é apenas para criticar os desmandos do poder, mas sim para lembrar para quem lê, ou vê, que no meio de tatos argumentos praguimáticos existe algo chamado Ser Humano. Como seres biossociais, temos nossa existência atrelada ao fato de coexistirmos. E quando nos esquecemos disso em prol de bandeiras consideradas nobres, não corroboramos com a real nobreza que elas podem trazer. Falar de revolução é fácil, desde que ela fique a cargo do outro.
Não acredito mais no conflito. Sou um homem de consenso. E se queres revolucionar, comece por você. Comece com um bom dia, depois passe pela solidariedade, cultive a tolerância e expurgue o preconceito. Aí sim, talvez, possamos começar a pensar em uma revolução de verdade, a revolução do amor e da paz.
Deixo algumas coisas no quintal. Um varal cheio de sonhos, Um brinquedo chamado desejo, Um abraço na vizinha, Uma planta bem cuidada, Uma vida bem vivida.
Só não deixo você. Foram tantas idas e vindas, Foram tantas lágrimas sorridas, Tantos sorrisos chorosos, Tantas histórias da carochinha...
É porque não nos abandonamos, Isso não se faz. Mesmo quando a morada muda, Até quando não me vês mais na esquina. Porque apesar das andaças, das mudanças, Nos reencontramos nas lembranças, Nos reconhecemos uns nos outros, De braços dados perante a vida.
Fui chamado por uma colega no começo do mês para prestar assessoria de imprensa freelancer durante a greve da saúde pública no estado. Topei. Foi assim que comecei uma jornada no mar do descaso público para com a população, e no lodo fétido da manipulação de informações promovida por uma imprensa prostituída. Me transformei novamente, pois viver é bem diferente de ouvir palestras sobre a “festa” na gestão pública brasileira ou sobre manipulação da imprensa a serviço da manutenção do poder. Antes era teoria, agora, estou cheio de exemplos.
A Saúde é um direito social, previsto na Constituição Federal. Zelar pelo bem-estar e pela vida é um das responsabilidades do Estado, que tem sua razão de existir condicionada a manutenção do atendimento e prestação de serviços comuns, que visam amparar o cidadão, parte integrante da sociedade que sustenta a máquina de gestão pública do patrimônio coletivo. A responsabilidade por aplicar o que prevê a constituição está nas mãos dos que são eleitos para gerir a máquina do sistema.
Durante a greve dos servidores da Saúde de Santa Catarina, no mês de novembro, certas contradições por parte do entendimento da responsabilidade sobre a precariedade e dificuldades no serviço ficaram claras na imprensa e nas explicações dos órgãos oficiais. A principal é justamente essa: De quem é a responsabilidade pela condição do sistema?
A política editorial de dois pesos e duas medidas de determinadas empresas de comunicação ficou clara durante a mobilização da categoria. Durante a greve a responsabilidade pela precariedade do sistema passou dos gestores para grevistas. É com responsabilizar o cobrador pelo preço da passagem do ônibus ou o professor pela falta de giz na sala de aula.
Durante mais de 10 dias, os servidores da saúde pública de Santa Catarina lutaram não só contra os usuais desmandos do poder, mas lutaram também contra a ignorância de muitos que preferem criminalizar o povo a cobrar dos responsáveis diretos pelo desrespeito para com a prestação de serviços a população: o governo. Com o auxilio de uma imprensa prostituída, que serve apenas a construção de uma opinião pública afinada com os interesses de pequenos grupos de poder, o governo estadual tentou, mais uma vez, tirar das costas o peso de suas atribuições.
Para quem depende do SUS, falar sobre as más condições do sistema é chover no molhado. Isso também se aplica para quem tem plano de saúde, já que a maioria deles enquadra cada usuário de acordo com quanto ele tem no bolso. Quanto mais rico, melhor o atendimento e o acesso aos serviços de saúde necessários. Tal realidade, que demonstra o acovardamento de uma sociedade acuada, oprimida pelos que detém o poder, só reforça o quanto precisamos avançar em termos morais e éticos, já que solidariedade social e fraternidade humana não são valores transitórios, de quem quer ser bonzinho perante Deus ou a sociedade. Esses valores permeiam as necessidades de convívio social e busca por um coletivo mais pacífico e harmonioso.
Após manipular por diversas vezes as informações, mostrando fatos montados a serviço da realidade da imprensa de “putas”, pagando atores para fingir mal estar em unidades e desinformando a população para justificar o comportamento autoritário de quem se aconchega em bancos de couro nos gabinetes do poder, a imprensa reafirmou de que lado anda nesse barco chamado nação. Lado a lado de quem assina os cheques.
Agora, são retomadas as matérias sobre o caos na saúde, com uma hipocrisia descabida de quem, em um espaço de dias, passou da atribuição de responsabilidade do caos de serviço para a greve dos servidores, para um triste fato comum de descaso social. Sim, porque agora não existem responsáveis. Agora a condição do SUS é um fato comum da realidade brasileira. Então, de forma penosa, jornalistas conduzidos como gado, retomam o discurso que ressalta os dramas da saúde estadual, sem se quer lembrar que a qualidade do serviço está condicionada a vontade política de quem antes era a “vítima” de trabalhadores em greve: O governo e a Secretaria de Saúde. Agora, sem ao menos ficarem vermelhos, muitos se colocam na condição de vítima da política editorial da empresa, em detrimento da manutenção de seus empregos. Prefiro os que distorcem por ignorância dos que se calam, e consequentemente concordam, por mero egoísmo e individualismo.
Já ouvi de colegas jornalistas expressões de revolta a respeito de como a RBS, por exemplo, tratou editorialmente do tema. Colegas de dentro da empresa. O que me causa revolta é saber que por covardia, ou simplesmente por comodidade, a maioria corrobora com as mentiras propagadas pela empresa que lhes paga, tudo a serviço da falsa sensação de segurança no emprego e garantia de um salário pífio no fim do mês. É triste saber o que o caráter desses meus colegas tem preço, e de banana.
Depois da suspensão da greve, e das inúmeras patuscadas promovidas pelos veículos da RBS, por exemplo, recebi uma das ligações mais cínicas da minha vida: A do comercial da empresa, querendo oferecer a venda de espaço para comunicados do sindicato. Talvez tenha sido porque desde a tomada de posição da RBS em favor do governo, o SindSaúde tem optado pela concorrência, no que diz respeito a publicações legais e comunicados.
Alguns dados para reflexão de como manipular o discurso:
1 – Revisão salarial não é reajuste. A palavra reajuste é usada indiscriminadamente porque atrela o ponto ao conceito de acúmulo ou acréscimo, coisa mal vista pela população. No caso dos servidores da saúde, tanto os 114% quanto os 16,76% não são percentuais de reajuste, são apenas correções e revisões. Os 114% foram concedidos pelo governo como forma de se enquadrar na Lei, já que um servidor de nível médio na saúde do estado ganhava menos de um salário mínimo antes da correção, o que não é permitido por Lei. Depois de várias ações na justiça, movidas por servidores, pedindo a complementação salarial - todos ganhas -o governo fez o ajuste, que elevou o piso para R$ 760,00. Uma fortuna né! Já os 16,76% é o índice de reposição da inflação anual, prevista na Lei 323/06 no seu artigo 100. A inflação aumenta e a correção passa a ser um benefício? Não dá pra entender... Lembrando que além da questão salarial, hoje o déficit de servidores na saúde do estado chega a 3 mil trabalhadores.
2 – Dor de ouvido, de cabeça, curativos e pequenos casos NÃO são competências das unidades de urgência. De acordo com o pacto do SUS, assinado pela SES, apenas os serviços de urgência e emergência, e os de média e alta complexidade, são responsabilidade do estado e governo federal. Os atendimentos de menor complexidade são atribuições dos municípios, ou seja, dos postos de saúde e unidades municipais. Mas por incompetência ou maniqueísmo, muitos repórteres apenas relatam os casos que não foram atendidos, sem ao menos apurar as razões e o que diz a lei.
3 – O estado está um caos, as enchentes esvaziaram os cofres, não temos dinheiro. O governo alegou, no início da greve, que se atendesse as reivindicações da categoria, que apenas cobrava o cumprimento da Lei, não fecharia as contas do estado. No entanto, para aumentar o teto do Executivo Estadual, havia dinheiro. A revisão salarial dos servidores da saúde aumentaria em 7 milhões anuais as despesas dos cofres público, ao passo que o aumento do teto do executivo, que inclui o salário do governador, onera os cofres em 39 milhões.
4 – Fotos de portões com correntes, pessoas com membros enfaixados e grevistas de costas. Foram muitos os casos de manipulação semiótica nesta greve. Revoltados com a abordagem da RBS, por exemplo, em relação ao movimento, os trabalhadores da saúde pintaram cartazes de protesto a empresa e penduraram em todos os piquetes. Quando um repórter ou cinegrafista do grupo chegava ao local, todos viravam as costas em protesto a forma como estavam sendo retratados nas páginas dos jornais e nas notícias de tv e rádio da empresa de mídia. Então, qual era a manchete no dia seguinte? “Grevistas viram as costas para a população”. Outra manchete comum nesta greve foi: “Greve prejudica Atendimento”. Como se fora da greve o atendimento fosse ótimo, sem prejuízos. O uso de pessoas, que adoecidas gritam sua revolta contra o sistema, nas páginas dos jornais também foi um fato comum. Como já disse antes, casos de pequena complexidade não são responsabilidade das unidades estaduais e federais. Portanto a senhora com dor de cabeça reclamando nas páginas dos jornais que não foi atendida no hospital, não deveria nem estar procurando o atendimento ali. Mas, como quase ninguém conhece o que diz a Lei do SUS, muito vão para as unidades somente para ouvir a orientação de onde procurar atendimento. Nos hospitais da Capital, carros de secretarias de saúde de todo o estado chegam para trazer seus doentes, porque nos municípios o atendimento não é garantido pelos gestores, como manda a Lei. Outro ponto ressaltado foi o do tempo de espera para atendimento e para realizar consultas e exames. Se na greve um paciente esperava 4 horas para ser atendido, fora dela a média e de 3 horas, um diferença e tanto em?! Além disso, aguardar três meses por uma consulta e anos para uma cirurgia transcende o período da greve, não é?
Bem... Esse é um desabafo de um profissional de comunicação, com um diploma que não vale nada, com um discurso parcial, que defende bandidos, como usualmente se referem aos trabalhadores brasileiros, e com uma voz que ecoa sozinha, em alguns casos. Não é um material de defesa do Sindicato ou uma produção encomendada pela direção da entidade. É um desabafo mesmo. Por que exemplos de falta de respeito, manipulação e autoritarismo não faltam, escolha o que você quiser. Quando os encastelados do poder usam suas garras por meio “Justiça” para fazer valer sua condição de “Senhor Feudal” as pessoas se acovardam, porque “se sobrar pra mim eu to fora”. O problema é que SEMPRE sobra pra mim, pra você e pra quem está fora do joguinho. E ao invés de sonhar em ascender de classe, como pensam muitos brasileiros, pensássemos na partilha, no direito comum, quisá a “Justiça” não precisasse de aspas. Quisá eu ficasse só na teoria, não cheio de exemplos.