O direito de greve é mais que o simples fato do trabalhador paralisar sua atividade para reivindicar direitos. O direito de fazer greve é uma das últimas garantias que trabalhadores têm para fugir da escravidão.
Ser dono da própria força de trabalho. Isso está implícito no direito de greve. Se não podemos ser donos da nossa força de trabalho, se não podemos cruzar os braços e dizer: Não! Então não somos livres. Usualmente o “grevista” – termo usado para definir os trabalhadores que lutam por direitos legítimos - é taxado de baderneiro e, em alguns casos esdrúxulos, de bandido. Fomentar tal imagem somente ajuda a minar um dos últimos recursos de trabalhadores para fugir da escravidão moderna, a que emprega, e ao mesmo tempo nos prega a cruz da submissão.
A chantagem que o sistema de organização social moderno, representado pelo empresariado e governo, promove quando ameaça um trabalhador que faz greve, colocando o emprego do mesmo em cheque, é sim uma forma de controle e domínio da mão-de-obra desse trabalhador. Em um país onde emprego não cai como chuva, ameaçar dispensar um cidadão de seu posto de trabalho é, em suma, impor a condição na qual ele está submetido pelo patrão.
No serviço público os casos são piores. A malha de interesses políticos em torno da visibilidade pública que a prestação desses serviços trás, faz com que a realidade seja maquiada para atender tais interesses que, de longe, não são do coletivo, não são públicos. Assim, além da manutenção de uma boa imagem de gestores públicos, a desestruturação de tais serviços, como educação, segurança e saúde, abre caminho para privatizações, o que coloca não mão de alguns poucos indivíduos o controle e a exploração do patrimônio coletivo, beneficiando apenas os que visam lucrar com o serviço, ou você conhece algum empresário que não visa lucro?
A questão é que serviços como saúde, educação e segurança são uma obrigação do Estado para com a população que, contribui financeiramente e moralmente para a existência coletiva de um país, e de algo que se configura como povo.
Essa prática que visa o desmonte do serviço público ficou clara – para quem ainda não via – na greve dos servidores da saúde do estado. Desde o dia 3 de novembro que trabalhadores da saúde de Santa Catarina paralisaram suas atividades por tempo indeterminado, até que o governo do estado cumpra com a Lei, concedendo o reajuste de 16,76%, previsto para o mês de janeiro de cada ano. Mais do que aumento no salário, os servidores lutam por dignidade no sistema público de saúde.
Como se o serviço fosse perfeito e livre de problemas graves, o governo estadual insiste em criminalizar o movimento grevista, responsabilizando servidores pela condição do serviço. É quase uma piada de mau gosto. Nem mesmo o diálogo com trabalhadores, algo que se espera de um gestor do patrimônio público, houve durante o movimento, demonstrando o usual autoritarismo de quem está no poder. O governador LHS foi direto para a justiça, na tentativa de intimidar e repreender quem está na greve. Esse foi o diálogo.
Depois de menos de uma semana de greve, o estado conseguiu uma liminar declarando a greve do servidor da saúde ilegal. O que espanta é a desinformação – seja ela proposital ou não – de alguns veículos de comunicação em relação ao tema. A ilegalidade da greve não força os servidores a voltarem ao trabalho. A liminar não é um chicote nas mãos de capataz. O que ela garante é a abertura das unidades, não o domínio sobre a mão-de-obra do trabalhador. Mas o que vemos e lemos são afirmações do tipo: Trabalhadores não cumprem decisão da justiça... Ou, desobediência à decisão judicial... No caso do governo do estado, que não cumpre a Lei (n°323/2006), essa desobediência não existe.
Enquanto os cidadãos desta nação forem subservientes aos que acham que detêm o poder, nada mudará. Nesse meio tempo o povo briga contra o próprio povo, incentivados pela repressão do Estado. Assim, os responsáveis pela manutenção das mazelas sociais - os gestores públicos e legisladores - conservam no curral milhões de trabalhadores, amedrontados pelo sistema. Enquanto gestores e parlamentares viajam para o exterior, comem boa comida, andam de carro de luxo, tudo com os recursos dos mesmos trabalhadores que brigam pelas migalhas, o povo sofre e briga entre si.
A escravidão moderna é assim. Uma prisão construída na mente de muitos. Ela é disfarçada de democracia, de liberdade. Ela lhe promete um futuro belo, desde que você dê sua alma em troca. Ela é muito pior que a escravidão em temos antigos, pois o escravo, naquele tempo, sabia que era escravo. A escravidão de hoje faz com que muitos acreditem que somos livres, isso até o momento em que não concordarmos mais, até o momento em que reivindicarmos nosso direito sobre nosso trabalho. Aí, quem sabe, poderemos nos libertar.
Por Osíris Duarte - Jornalista
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Simone Rigotti