terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Crônica: Um Real



 Ele enfrentou os dois sujeitos enormes. A briga era inevitável. Pensou, será mesmo que não posso evitar? No mesmo segundo a vista escureceu. Ele pos a mão na boca, sangue... Em meio à confusão de sua cabeça, atordoada pela pancada, nem percebeu o segundo golpe, na boca do estomago. Suas entranhas se retorceram dentro do ventre, a respiração travou. Buscava o ar mais era como se não houvesse o que respirar. De súbito perdeu o chão, para logo em seguida reencontrá-lo com as costas. Até que foi uma boa queda, o impacto lhe fizera voltar à respiração. Ficou ali, no chão vermelho de barro seco. Esperava a ira dos seus agressores aplacar. Mas como se não bastasse, o golpe final foi desferido. O chute da bota de couro lhe roubou dois dentes. Essa ira que toma conta dos homens fracos é sempre baseada em motivos fúteis. Violência, o verbo dos tolos.
 O carnaval alegre tinha um desfecho amargo, com gosto de sangue. Meia noite, já é quarta-feira de cinzas. E toda essa confusão por causa de um olhar despretensioso para o tal, o agressor. Nunca mais iria olhar as pessoas na rua. Não havia nenhum questionamento ou interesse naquele olhar rápido. Foi um ato involuntário, de quem anda na rua observando. Bem que imaginava, quem muito observa algo procura. E mesmo não estando à procura de briga, achou. Nem sempre o que encontramos é o que queremos. Incrível como alguns homens têm tal necessidade de auto-afirmação. A força, geralmente, é a forma mais rápida de afirmar o que se deseja. Todas as forças por sinal. Seja física, psicológica ou política. Pobre homem, tão fraco.
 Ele levanta do chão como quem levanta cedo da cama, devagar, meio moribundo. Ao lado do sapato algo cintila. Ele não vê bem o que é. Os óculos se perderam na briga. Ele abaixa e, com um sorriso desfalcado e ensangüentado, recolhe uma moeda de um Real. Não era dele, estava duro, achou. Sem exitar exclama:

- Mais que sorte, um Real!
Ele põe a moeda no bolso, agradece a Deus, e vai para casa sorrindo. Um Real mais rico.   

Osíris Duarte

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