quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Páginas erradas de uma vida certa

Páginas erradas de um livro antigo, que carrego comigo a tira colo. O que há de errado em ser sensível? Será que passa ao largo desse sonho intercalado de tristes detalhes do destino? Do outro lado da rua imaginava o que fazer quando passar pela faixa de pedestre e chegar à calçada de casa. São pensamentos como esse, estranhos e turvos, que me dão a esperança de que algumas de minhas lembranças não se percam no ostracismo da vida cotidiana.
   É assim, confuso e poético. Dialético no discurso, mas egoísta nos desejos. Afinal, será que existe algo de errado em ser egoísta? Era meia noite, e ele na pista, sem um auto, ficou a contemplar a paisagem. São tantas coisas que passam despercebidas que nem mesmo o que valeria a pena fica gravado na memória. Divagar assim, ao léu, é um exercício constante, quase como um cacoete. O sonhador é aquele que se perde em suas divagações e almeja fazer concerto de tudo aquilo que é incerto na construção de suas fantasias. Portanto, nada daquilo que passou em sua mente se tornou realidade, nada daquilo que sonhou sem objetivar se tornou um propósito, mas tudo isso serviu e serve de alimento para o intelecto a para o espírito.
   De vez em quando ele pensa demais. Pensar, exercício de ociosos, é aquilo que mais lhe apetece. E mesmo sendo taxado de inteligente, nunca se deixou abalar pelos apelos da vaidade. Ai que vem suas dúvidas, porque mesmo se achando isento de vaidades desnecessárias, não seria essa pretensão também uma vaidade? O lagarto escreve! Era assim que se via, um lagarto, que fica no sol recuperando energias para caçar na noite fria.
   São anos de experiência em divagação. Deveria existir um curso universitário, talvez assim ele pudesse concretizar o mestrado de “alguma coisa” que desejava fazer. Talvez fosse só mais uma fantasia, é isso! Sonho e fantasia, duas coisas diferentes e que são confundidas por muitos a todo o momento. Afinal, sonhar sempre tem um fundo de verdade, de meta, de objetivo. Ao passo que fantasiar era mera divagação, devaneio sem direção, exercício do ócio. São desses filósofos do cotidiano burro que é feita à argamassa social, ou você acha que todo filosofo é inteligente? Na maioria são incompetentes, que por falta de capacidade de concretizar seus sonhos idílicos, ficam em algum lugar entre a inércia e o vazio. Mas existem os filósofos inteligentes. Aqueles que não fazem da filosofia apenas um parâmetro para sobrevivência intelectual e conquista de status na pretensa sociedade do conhecimento.
   O padecer da vida é uma ferida que arde em chamas na cama da ignorância. E por isso ele prefere, dentre todos os seus rótulos, o de poeta. Pelo menos assim sua associação com imagem de pessoa fica gravada em algo belo, tênue, mas belo. Se bem que nem tudo que para nós parece ser subjetivo é tanto quanto pensamos. Partir do princípio que somos inúteis é apenas corroborar com os que tentam incutir na nossa mente, através da televisão, da política e da informação desnecessária, essas inverdades existenciais. É que no final somos colocados em um patamar tão diminuído em relação às coisas já construídas e convencionadas, que ser humano é o de menos. E ser humano envolve muito mais do que aquilo que os olhos podem ver, ou a ciência pode provar. Isso já é dito sabido por todos, mas ninguém quer levar a sério, só na mesa do bar da esquina, quando não temos mais obrigações com nossos companheiros de mundo bandido e marginal.

Osíris Duarte 




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