Estou chegando a
conclusão que certos esforços de cunho externo a nós são desperdício de
energia. Me refiro, principalmente, aos esforços que visam criticar a nossa
vida social e nossos referenciais morais. Enfim, aquilo que media nossa vida
comum. Por que, se por um lado é necessário enxovalhar as bobagens sem tamanho
que são Big Brother Brasil, vida de celebridade, consumismo, individualismo, posicionamento
dos desafetos ideológicos, políticos, futebolísticos e afetivos baseados na paixão,
já que essas bobagens são responsáveis por grande parte da ignorância que
permeia nossa vida comum, por outro a insistência na crítica que rebate e
coloca no devido lugar essas porcarias acaba por reforçá-las, conferindo mais
notoriedade e dando mais visibilidade ainda para tais besteiras.
O maior exemplo
disso é a insistência de gente que arrota discurso de inteligente,
revolucionária e consciente dos instrumentos de manipulação e alienação de
massa usados pela mídia burguesa, em falar mal sobre o famigerado reality show global
- que de real nada tem. "Porque o Bial cobriu a queda do muro de Berlim! Como
ele se submete a isso!", dizem alguns jornalistas e comunicadores
conhecidos meus, em uma demonstração de ignorância e de certa ingenuidade que
me espanta, ainda mais quando vem de pessoas que pretensamente entendem do
assunto. Para mim, a escolha por tecer
críticas a conduta do apresentador, bem como as razões que levam ele e a
emissora insistir na transmissão dessa gosma imensa que é o BBB, serve como um
grito desesperado de auto-afirmação intelectual de alguns tantos filósofos de
redes sociais. Me pergunto porque gente que diz desprezar tanto tal tipo de
produto midiático insiste em falar sobre ele, dando destaque inclusive para as
opiniões esdrúxulas que alguns emitem sobre os enredos do programa bem como
querendo achar uma resposta condizente com a postura de Pedro Bial, o repórter
ultramega star, que é inteligente demais para estar apresentando o BBB. Quem
ainda faz esse tipo de comparação (muro de Berlin e BBB) infelizmente ainda não
entendeu o que rege os critérios da mídia burguesa manipuladora nem mesmo sabe
o que é jornalismo.
Faça você, que lê isso agora a seguinte
reflexão: é sempre o mais capaz a assumir o papel de coadjuvante de luxo, ou o
mais servil? E quem protagoniza, e sempre quem visa as boas intenções? O que
garante a conduta ética do jornalista está atrelado as pautas que ele fez ou as
ele se recusou a fazer? Ter sido mandando para cobrir uma pauta importante não
é questão de caráter meus caros, nem mesmo a competência técnica. Escrever bem,
ser bem articulado ou carismático não são garantias de bom caráter nem de ética.
Não que eu esteja questionando o caráter do Bial, mas é que entendo, assim como
entendo certos militantes de partidos políticos ou trabalhadores de empresas
privadas, assim como entendo sindicalistas de centrais e torcedores de
organizadas de futebol, que as escolhas sobre o que vai determinar nossa vida,
que facção vou fazer parte, que tribo, que grupo, que turma, turvam nosso
entendimento de pluralidade, coletividade e, inclusive, de qualidade de consumo
de produtos sociais, como é a mídia, e os valores que permeiam essas palatáveis
iguarias, presenteadas pelos Gregos, que nos deixam obesos de ignorância. Ando
bem cansado do ufanismo dos extremos, sejam eles quais forem. Os rótulos não
conferem qualidade as coisas. Até mesmo muitos daqueles que militam sob a
bandeira do socialismo não sabem minimamente, fora do seu conhecimento teórico,
viver em sociedade, comungar, ser solidário... Um exemplo recente que tenho
disso foi a conduta da CTB na abertura do Fórum Social Temático, realizado em
Porto Alegre, em janeiro desse ano. A passeata de abertura do Fórum, que nos
últimos 10 anos foi puxada pelo movimento da Paz, precisou da interferência da organização
do evento porque os sindicalistas insistiam em sair na frente, ameaçando com
agressão, inclusive, aqueles que resistiram ao grito egocêntrico do que ali
estavam. Com gritos de guerra e comportamento de organizada de futebol, o
pessoal da CTB acabou reforçando, mesmo com as bandeiras ditas libertárias que
defendem, o reacionarismo, autoritarismo e a ignorância responsáveis pela falta
de credibilidade que muitas pertenças entidades civis e políticas tem perante a
sociedade. Depois culpam o povo pela inércia de mobilização no país. Digo o
mesmo com relação aos críticos do sistema que do alto de sua razão continuam a alimentá-lo,
porque não acham "justo" abrirem mão de algum conforto advindo da subserviência
dispensado ao mesmo sistema que criticam.
Talvez essas minhas colocações estejam movidas
de algum sentimento de revolta momentânea, provocada pela insistência da hipocrisia
cotidiana. Sendo assim me torno também um certo extremo, e serve para mim o
mesmo discurso que destilei aos outros. A vida tem contradições sim. Mas o que
estou tentando dizer aqui é que se você não concorda, não gosta ou não quer,
então não alimente, não propague! Essa seria a atitude mais coerente para com o
desprezo que se tem, pretensamente, para com as merdas midiáticas, políticas,
ideológicas e morais dos dias de hoje. Ao
invés de arrotar razão, reverta a emoção e trabalhe, de atenção e foco, para
aquilo que se opõe a realidade nefasta que criticamos.
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